August 31, 2003

GRANDE DOMINGO
Acordei cedo, cheio de boas intenções, a pensar em caminhar um bocado. Ainda estava na preguiça, veio a chuvada. Comecei a telefonar, ninguém se animava nas circunstâncias pluviais para uma incursão pelo campo. Percebi que era hoje que se esgotavam as desculpas para poder evitar arrumar o escritório. Eu explico: arrumar o meu escritório de casa é a pior coisa que me podem dizer para fazer. Sigo o princípio de meter numa pilha as cartas que chegam com os extractos dos bancos, as contas domésticas, os avisos do condomínio, as facturas da farmácia e por aí fora. Uma vez por ano, mais ou menos, arrumo tudo. Hoje deitei fora dois sacos do supermercado heios de papéis e cerca de um metro de altura de revistas diversas que vou guardando nunca percebi bem porquê, porque é raro voltar a folheá-las depois de as ter lido.
O resultado da aventura é que estive durante três horas a arrumar papelada. No fim o escritório estava irreconhecível: havia espaço no sofá para eu me sentar, em cima da secretária só ficou o computador, até encontrei receitas de petiscos alentejanos que às vezes peço à minha mãe para me escrever - e lá vou guardando os papéis pelo meio das correspondências. Recuperei uma receita de boleima e umas notas sobre a massada de peixe à moda da Nazaré, surgidas no fim de um jantar num tasco no Algarve há mais de um ano.
O dia não terminou sem desbastar duas semanas de jornais da sala - e nunca como nesse momento tive a sensação que foi gasto tanto papel para tão pouco.

August 30, 2003

PERDIGUEIROS DO RIO
Consegui finalmente voltar ao teu bar Zé, depois de teres ido dar aquela volta. Já não é bem a mesma coisa - faltam miminhos na lista, até os pimentos padrones estavam falhos nesta tarde de sexta-feira.
Mas continua a ser um sítio bonito. É claro que nunca perceberei porque é que a Martini coloca publicidade onde pouca gente deve beber Martini, mas ele há segredos no mundo da publicidade. Não resisto a contar uma velha história de barmen que, salvo erro, o Miguel Esteves Cardoso me mostrou escrita num livro precioso sobre cocktails. Rezava mais ou menos assim: Durante anos, no centro de New York, um tipo com ar de executivo chegava por volta das seis da tarde sempre ao mesmo bar e pedia um dry Martini. Deliciava-se com a coisa, pagava, cumprimentava o barman, e saía. Acontece que o cidadão foi deslocalizado para outra cidade qualquer e esteve uns anos sem dar à costa em New York. Lá voltou um dia, dirigiu-se à mesma rua, entrou no mesmo bar, onde estava o mesmo barman. Pediu-lhe um Dry Martini, beberricou-o extasiado, revirou os olhos de prazer e no fim perguntou: «-Ouça lá, estive anos noutra cidade, experimentei milhares de Dry Martinis e nenhum tem o paladar do seu. Qual é o seu segredo?». Detrás de um imenso sorriso, o barman respondeu-lhe, cotovelo apoiado no bar: « - Repare, coloco o gin, deixo cair a pequena raspa de casca de limão, ponho a azeitona a nadar um pedaço, e depois pego na garrafa de Martini seco, destapo-a e passo com ela,meio inclinada, com o gargalo por cima do copo, com todo o cuidado de não deixar cair nem uma gota no Gin...».
Para me recompôr com a existência bastou-me ver aquele casal que chegou e se sentou ao pé das espreguiçadeiras e se pôs logo, cada um para seu canto, a ler uma revista diferente. A dele tinha fotografias de carros, a dela de casas. Mas pareciam felizes.
Claro que a existência ficou pior quando um rapaz do «Portugal Diário», que é um simulacro de informação que circula na net, me telefonou. Queria uma reacção: expliquei-lhe que achava que notoriamente escreviam mentiras e disse-lhe que optava por não falar com ele. Vai daí escreveu que eu não quis comentar um determinado texto. Como se vê, o rapaz percebe mal o português: não era uma questão de não querer comentar, era uma questão de preferir não o fazer para aquele media.
Adiante - a tarde recuperou quando o Carlos Oliveira Santos apareceu, vindo do estrangeiro, e me falou de ti - percebi que estávamos ali ao mesmo. Adeus menino, que se faz tarde, porta-te mal, cá voltarei um dia destes.

MARCAS
Porque é que todos os tipos com ar de jogadores de futebolistas falhados e com a barriguinha a despontar vestem camisolas da marca «Umbro» de côr berrante?
BOM ARTIGO
Muito bom o artigo de Paulo Teixeira Pinto em «O Independente», sob o título «Do Oráculo da Polis». Excertos: «Política é a distância que vai da mera gestão da conveniência pessoal ou tribal à real opção pelo bem comum...Na política, só um conselho é útil:não abrandar nunca o exercício do que é suposto dever fazer, nem por mau tempo ou por má sorte....Consta da própria definição das regras do jogo político que não há nunca empates. Só há dois resultados possíveis:perder ou ganhar. E o que se ganha é sempre algo que a prazo, por natureza, estará também inelutavelmente perdido - o poder...É louvável viver com e para a política. É censurável sobreviver só da política». E o resto vai por aí fora. às Vezes sabe bem voltar aos princípios porque «é nos princípios que residem os fins últimos da política».

August 29, 2003

ESQUINA NO PAPEL
Hoje, como todas as sextas-feiras, é dia de «Esquina» no papel do Jornal de Negócios. Excerto: O Partido Socialista considera desde o fim de semana passado que o grande argumento contra o Governo é acusá-lo de ser movido por um radicalismo de direita. A propósito arregimentou imagens retóricas da ditadura. O resultado não se fez esperar: PC e Bloco de Esquerda juntaram-se-lhe em côro gritando contra as ameaças de fascismo. Está recriada a Frente Popular, o velho sonho dos anos 30 e 40 que, de mãos dadas com os nazis em determinadas circunstâncias, e por mera reacção noutras, levou a Europa à guerra. Nunca nada me pareceu tão patético em política como exagerar na análise para provocar reacções também elas exageradas. O exagero, a hipérbole retórica, é geralmente sinal de falta de honestidade intelectual. Praticamente 30 anos depois do 25 de Abril a esquerda ainda quer deliberadamente confundir direita com fascismo, nacionalismo com ditadura, e verifica-se, sem surpresa, confesso, que é bem mais intolerante para quem não pensa como ela do que normalmente quem é de direita, em relação a quem é de esquerda.
ART BUCHWALD
Confesso que sou admirador confesso deste cronista norte-americano que implacavelmente observa o mundo ao seu redor nas páginas do «Washington Post». Houve um tempo em que um jornal português publicava crónicas suas e foi aí que me habituei a deliciar-me com a sua escrita. Nesse tempo, já lá vão muitos anos mesmo, havia jornais em Portugal que falavam do mundo e não apenas das curiosidades e superficialidades que ocupam a maioria dos dias do pequeno rectângulo. Depois do 25 de Abril tornámo-nos tão obcecados conosco próprios, que começámos a ser incapazes de olhar em redor, sobretudo quando os ecos das últimas notas de «A Internacional» se desvaneceram por completo. Parte do exercício que me dá gozo e me leva a escrever estes posts é ter conseguido voltar a estabelecer uma rotina de pesquiase notí­cias, opiniões e comentários por esse mundo fora. Deliciem-se com este Buchwald.
HÁBITOS EUROPEUS
Um estudo europeu sobre os hábitos de consumo de media nos diversos países da Comunidade merece atenção. A versão integral pode ser consultada aqui e lá poderão ver que Portugal tem em matéria de consumo de televisão um consumo semelhante à Irlanda, com as séries e novelas a aparecerem em segundo lugar das preferências e os documentários a não constarem da lista dos mais vistos, ao contrário do que acontece na maioria dos países da Europa. Em matéria televisiva os telejornais e o desporto são os outros programas mais procurados - na verdade 75,7% das pessoas depende dos televisores em termos informativos.
Mais grave é o facto de 74,7% dos portugueses não utilizarem o computador e apenas 10,1% afirma utilizá-lo diariamente. O pior sector é o da imprensa, como já se temia: apenas 25,1% dos portugueses tem hábitos regulares de leitura de jornais diários - nesta desgraça somos acompanhados pela Grácia (20,3%) e a Espanha (24,8%).
Foi o Abrupto, de José Pacheco Pereira, que chamou a atenção para este documento e é dele a síntese da situação que, com a devida vénia, aqui se reproduz:"TV
Almost all Europeans (97.6%) watch television. 99% have at least one TV set at home.
The four types of programmes that Europeans mostly watch are: news and current affairs (88.9%), films (84.3%), documentaries (61.6%), sports (50.3%).

Radio
Almost 60% of the citizens within the European Union listen to radio every day.
Radio programmes that Europeans prefer are: music (86.3%), news and current affairs (52.9%), sports (17.4%).

Newspapers
46% of Europeans read newspapers 5 to 7 times a week. The highest rates are found in Finland, Sweden, Germany and Luxembourg where 77.8%, 77.7%, 65.5% and 62.7% people read newspapers 5 to 7 times a week. On the other hand in Greece, Spain and Portugal only 20.3%, 24.8% and 25.1%, respectively, do so. It is also in these three countries that the proportion of people saying that they never read newspapers is higher than in other countries (30.5%, 23.4% and 25.5% respectively).

Computer
A majority of Europeans (53.3%) does not use a computer. This is especially the case for Greece (75.3%) and Portugal (74.7%). On the other hand, more than one fifth (22.5%) uses it every day. This proportion reaches 36.7% in Sweden, 36.6% in Denmark and 32.2% in the Netherlands. A smaller proportion (14%) uses it several times a week.

Internet
34.5% of the interviewed surf the Internet: 13.5% several times a week and another 8.8% every day. Swedes (66.5%), Danes (59.4%), Dutch (53.8%) and Finns (51.4%) use the Internet more than other Europeans. On the other hand, the proportion of Internet usage is the lowest in Portugal and Greece (14.8% and 15.1%, respectively)."

August 28, 2003

EM DIRECÇÃO À SERRA
Parece que o meu elogio às enguias da Costa Nova deixou alguns outros amigos meus em polvorosa - do lado da serra queixam-se que eu só ligo ao litoral - esta é uma velha questão que atravessa a sociedade portuguesa. Já se sabe que o litoral é a zona mais povoada, com mais emprego, com melhores acessos, com mais oferta em geral. Em contrapartida o interior vive ainda das memórias do tempo em que se demorava quase um dia inteiro a chegar de Lisboa a qualquer ponto para lá de Coimbra, perdidos por estradas onde a ideia de recta era inexistente e em que a existência de viadutos ou terraplanagens parecia ter sido integralmente ignorada.
Era no entanto este o estado do país há não mais de 15 anos. Não havia auto-estrada Lisboa-Porto, nem Lisboa-Algarve, nem Via do Infante, nem ligação Torres Novas -Covilhã. Para que se saiba, há 15 anos havia uma amostra de auto-estrada à saída de Lisboa em direcção a norte, outra até Setúbal, outra até ao Estoril e depois um arremedo de auto-estrada a umas dezenas de quilómetros do Porto. O total dos troços então existentes não devia sequer chegar aos 200 quilómetros.
Serve tudo isto para dizer que agora o interior tem melhores ligações e aproveito para daqui deixar o recado aos meus amigos da serra que espero ser convidado para a matança do bicho e repastos de festim.

August 27, 2003

CANAL 2
Mais de dois milhões de mensagens publicadas por dia, repetidas notícias em exclusivo e um fanatismo militante são as características do mais popular site japonês, o «Channel 2». Descubram tudo sobre o assunto aqui.
CARICATURAS
Um dos bons serviços da Slate é a compilação de desenhos humorísticos de cariz políticos publicados um pouco por todo o lado à volta do mundo. Espreitem a secção sobre o candidato Arnold no Estado da California e divirtam-se um pouco.
DISPUTA UNIVERSAL
A luta pela Vivendi Universal Entertainment está a ficar dura e reduzida a dois pretendentes:a NBC e Edgar Bronfman Jr. , estando a oferta já acima dos 13 mil milhões de dolares. Bronfman, o herdeiro da Seagram, tinha vendido a maioria do capital da Universal à Vivendi e permaneceu como administrador do grupo durante algum tempo. Agora quer voltar a comprar uma das maiores companhias de entretenimento do mundo. O USA Today conta a história toda.
A MÁQUINA PENSA, PORTANTO EXISTE
A busca pela inteligência artificial continua a dominar o interesse da comunidade científica. Há avanços na matéria, uma descoberta nova que pode alterar o relacionamento entre homens e máquinas. Mais informações na Wired.
A SEGUNDA FASE DA REVOLUÇÃO DIGITAL
Todas as gerações têm direito a uma revolução nos media: para os nossos pais foi a rádio, para nós a televisão, para os nossos filhos é o digital - as palavras são de Greg Dyke, o homem forte da BBC, que acredita estarmos no limiar da segunda fase da revolução digital, onde os valores públicos deverão sobrepor-se aos privados.
O discurso foi proferido no Festival de Televisão de Edinburgh e merece ser lido com atenção por todos quantos se interessam por televisão e novos media. Sugiro que espreitem aqui.

August 26, 2003

FOTOJORNALISMO
Todos os que se interessam por fotografia podem ler uma interessante Confissão de Um Fotojornalista, onde se abordam questões como a maipulação técnica e quiímica das imagens e sua repercussão na ética da comunicação.
OS BLOGS CHEGAM À AOL
A American On Line acabou por ceder aos Blogs e desde segunda-feira entrou na onda, como se pode ler aqui: The service lets people publish their own daily musings and complement their text with photos and picture albums. Users can also arrange their journals by topics, such as sports, relationships or books.

AOL will offer the new feature as part of its proprietary online service, but users will be able to update their blogs through the AOL Web site, AOL Instant Messenger and their cell phones. AOL by Phone subscribers can also use telephones to record an MP3 file of their voice and insert the file into their journals.

CITAÇÕES
Porque é que eu faço tantas citações? - perguntam-me. E eu respondo: porque gosto de partilhar o que vou descobrindo, porque encontro quase sempre coisas interessantes, porque nunca fui do género de gostar de me ouvir acima de tudo o resto. Encaro-me como um intermediário de informação e tento praticar uma taxa justa, não carregando nas minhas coisas pessoais.
BURNING MAN
O que é o Burning Man? Um homem a arder? - The event -- part fire ceremony, part party, part indescribable surreality -- began in 1986 when co-founders Larry Harvey and Jerry James constructed an improvised wooden figure in honor of summer solstice, then burned it on San Francisco's Baker Beach. The yearly happening grew over time, migrating to Black Rock City, Nevada, in 1990, where it will return from Aug. 25 through Sept. 1.. Este é o excerto de um artigo da Wired sobre o assunto. E podem também visitar directamente o site do Homem a Arder - vale a pena garanto-vos.
UM BOM RESUMO
Uma maneira rápida de saber o que se passa à nossa volta é consultar o serviço de síntese de revistas disponibilizado pela Slate, uma das mais antigas publicações da Internet, uma revista virtual da Microsoft, que além disso tem muito boa coisa para ler. Vejam também a secção
Travel & Food.

August 25, 2003

COSTA NOVA
Gosto da Costa Nova, ali nas cercanias de Aveiro. Ontem passei lá o dia, naquela língua de terra com a ria de um lado e o oceano do outro. Ao almoço a minha amiga Ana serviu-nos o melhor petisco que imaginar se pode: caldeirada de enguias, uma perfeita delícia, com os bichinhos a nadar num abundante molho amarelo, saborosíssimo, onde andam umas batatas de boa consistência a ganhar paladar. Pelo meio da tarde houve sesta e antes de se ganhar alguma boa disposição com o empate do FCP face ao Estrela da Amadora, tive tempo de beber uma cerveja a contemplar um dos mais bonitos pôr do sol que conheço. Espreita-se para trás da casa e vê-se o Sol a cair no oceano, naquela luz de fim de tarde; viramo-nos para a ria e vemos o lado de lá banhado pela mesma luz, reflectida na água e nos bancos de areia. Tem que se viver aquela luz, naquele sítio, para se perceber o que é.
A Costa Nova é um dos paraísos portugueses, mas nos últimos anos a especulação imobiliária e as sempre suspeitas tentações imobiliárias de alguns autarcas arrasam com o que existe. Na ponta da Costa Nova deixaram construir um condomínio quase sem espaço até à estrada, demasiado movimentada, ainda por cima; e do outro lado, na Barra, preparam um complexo imobiliário de excessiva dimensão, durante anos empatado pelo Ministério do Ambiente e agora, sem se saber bem porquê, subitamente autorizado. É isto que chateia.
SENTIR
Hoje vou sentir o que é rever.
INDICAÇÕES ÚTEIS
A «Wired» fez um guia dos melhores aparelhos, de PDA's a Laptops, passando por auscultadores bluetooth. Basta clicar aqui para saber tudo.
COMO FAZER AS COISAS
O grande Art Buchwald ensina como se criam algumas notícias: Do you think the Pentagon wants to destabilize Iran by force?"

"The United States has a lot of troops over there and they don't want to send them home if there is going to be another war next door."

"So what are you going to do?"

"Hang tough, leak stuff to the press that will reveal what the Pentagon is doing, publicly announce that Iran is also our problem, and see that Powell gets as much time on television as Rumsfeld. If we don't, Defense will turn the State Department building into a hangar for B-52s."

"I will quote what you have just told me and you can deny you said it."

"Good boy."
Para ler o texto integral nada como o Wasington Post.

August 24, 2003

UM EXCERTO
Fica aqui a minha homenagem ao Guerra e Pas com a citação de um texto imperdível, um post do passado dia 18 intitulado Portugal de Futuro ou Há um Professor Bambo em todos nós
. Aqui vai, espero que vos dê tanto gôzo como me deu a mim:
Para daqui a 50 anos, prevejo para o nosso país que:


- Será admitido que as cedilhas sejam usadas nos “cês” que precedem “es” ou “is”.
- Margarida Rebelo Pinto será estudada nas universidades e aclamada como a libertadora da Literatura Portuguesa. A expressão “25 de abril” será usada associada aos seus primeiros livros.
- Terá havido um terramoto em Lisboa. Daí surgiram novos bairros: Nova Lapa, Novo Bairro (antigo bairro alto) e foram instaladas praias artificiais naquela quera a zona das docas há 50 anos.
- Viver em Lisboa é hoje um ‘must’, depois de uma reconstrução que se arrastou por 15 anos e que só terminou há menos de dez.
- Vários prédios são implodidos no antigo concelho de Sintra, hoje AML II (Área Metropolitana de Lisboa II). A ideia é construir um bosque artificial, respeitando a paisagem da zona de Sintra do passado
- Pedro Worscoski é o primeiro ministro português com ascedência ucraniana. Terá a pasta das comunidades.
- A rádio ‘como era antigamente’, sem que se pudessem escolher as músicas, mas sim seleccionada por animadores humanos, é o novo projecto do maior grupo de media português.
- A cidade do Porto inaugura o seu segundo Zoológico
- Lisboa inaugura a sua sexta travessia sobre o Tejo – a Ponte Milénio - , desta vez ligando mais uma vez a Trafaria a Algés, a apenas um quilómetro da Ponte Mário Soares.
- O Petróleo da Zona de Leiria vai deixar de ser explorado. As jazidas descobertas há 30 anos não são rentáveis, especialmente depois do declínio no uso de combustíveis fósseis.
- Mais de um sexto dos portugueses têm avós ou pais nascidos noutros países.
- O Estádio Pinto da Costa, no Porto, vai ser demolido e dará lugar a um novo, completamente automatizado.
- Há planos para a abertura de uma academia do fado, uma música célebre e popular no século passado e inícios deste século.
- Na Madeira será inaugurada finalmente a estátua a Alberto João Jardim. Ficará no Funchal, na Praça Vicente Jorge Silva.
- Benfica e Sporting disputam o campeonato. O FC Porto, há 18 anos sem ganhar, admite que ainda não será este ano.

GUERRA E PÁS (ASSIM MESMO)
Hoje sugiro-vos que não percam tempo comigo. Que não leiam o que aqui está. Que vão direitos ao Guerra e Pas. Este Blog, o melhor que alguma vez se escreveu sobre comunicação em Portugal, acabou na sexta-feira passada. Antes de terminar fez uma série de três posts, Porque é que os nossos telejornais são tão compridos? que é o melhor retrato alguma vez escrito sobre a inside story das estações de televisão portuguesas nos últimos cinco anos. Copiem-nos, imprimam-nos, dêem-nos a ler aos vossos amigos, façam-nos circular. Quem foi responsável por este blog sabe bem o que se passava. Não sei quem é, mas daqui lhe rendo a minha homenagem. Hei-de lê-lo e relê-lo.

August 23, 2003

VER O OUTRO LADO
Uma das coisas que me habituei nos últimos dias é a ler o Haaretz, um diário israelita onde o mundo, e em particular o médio oriente, é relatado de forma diferente do que é costume, um infeliz lema que se tornou num clássico da última metade do século xx: «os árabes são bons, os judeus são maus». O jornal mostra o outro lado das coisas, que muitas vezes é deliberadamente escondido, para que se fique eternamente a cantar a canção do desgraçadinho. Descobri o «Haaretz» graças ao Aviz, que felizmente existe e me ajuda a perceber que vale a pena tentar. Cada vez mais me sinto próximo daquilo que o Francisco lá escreve.
VENCER O DOGMA
Olho para o que escrevi nos últimos dias e são quase só citações. Em parte é normal porque sou um leitor compulsivo de revistas e de sites de revistas e, portanto, isso há-de reflectir-se de alguma forma. Mas por outro lado isso significa que deixei de contar o que se passa à minha volta, sem ser pela interposta pessoa da citação.
Na fase de arranque de projectos há sempre uma altura assim - que é a que me dá mais gozo- quando deixo de conseguir perceber o que se passa comigo. Existe um momento em que está tudo caótico, as coisas a fazer são notoriamente mais do que aquilo que o bom senso e o tempo que existe permitem. As equipas ainda não estão completas, as ideias continuam razoavelmente desarrumadas e o caos anuncia-se. Quando chego ao escritório de manhã e ligo o computador, abro um ficheiro de powerpoint que me habituei a utilizar como um lembrete permanente e que é uma espécie de lista de tarefas distribuídas por pessoas, entidades e áreas específicas de actuação. Vejo-o a crescer e a adicionar novas páginas ao longo da semana. É quase como entrar num quarto e virar do avesso um balde grande de lego cheio daquelas peças mais pequeninas: todos os dias de manhã é isso que acontece e lá me ponho a juntá-las até que fique montada alguma coisa com nexo.
Ontem mesmo percebi que para ter a trabalhar com a minha equipa uma pessoa que acredita no projecto, que os meus colaboradores querem, cuja saída é aceite pelo departamento onde está, cuja existência abstracta está prevista em todos os planos de organização, é preciso fazer um circuito burocrático que só existe para dar trabalho não produtivo a gigantescos departamentos administrativos, que tentam encravar, atrasar, dificultar, conservar o status quo, evitar a mudança - quanto mais não seja a fazer perder tempo e energias às equipas envolvidas em novos projectos.
Durante uns dias desta semana suspeitei que o balde de lego devia ter molas porque tinha uma tendência repetida para se virar e espalhar tudo de novo. Felizmente chego a este sábado com a sensação que ontem ficaram feitas algumas coisas, que as peças se começam a encaixar mesmo e que algumas ideias começam a concretizar-se. E, para mim, ver como algumas ideias que pareciam loucas se conseguem começar a realizar mesmo é a prova de que vale sempre a pena apostar nas ideias, sair dos limites de pensamento em que muitas vezes nos deixamos condicionar e acreditar que o velho dogma português «é assim porque sim, isso não se pode fazer porque não» foi mais uma vez vencido.

August 22, 2003

ESCRITA IMPRESSA
Hoje, porque é sexta, a Esquina aparece na sua edição impressa, no «Jornal de Negócios». Excertos: É certo que esta semana estamos todos com os olhos postos em Bagdad, à procura de perceber como se pode sair da situação que se criou. Este Verão, em Bagdad, é escaldante e, quando há poucos dias atrás li um artigo sobre o quotidiano estival dessa cidade em guerra, senti que íamos ainda assistir a muito horror. Veio súbito, com o atentado contra a sede da ONU. Para contraste, a encabeçar o artigo uma fotografia, magnífica, de um soldado americano a mergulhar na piscina do palácio do filho de Saddam, Uday Hussein, descrita mais à frente como o único local de Bagdad onde é possível iludir o calor.
O artigo de que falo chama-se «Iraq’s Bloody Summer» e é uma longa reportagem de Jon Lee Anderson para a revista «The New Yorker», na sua edição de 11 de Agosto. É sem dúvida um dos melhores trabalhos de reportagem que tenho tido ocasião de ler. É o relato de um ocidental que se sente um alvo nas ruas de uma cidade, de um jornalista que sente como há uma resistência que se organiza, que relata conversas, como estas a propósito de atentados, tida com um Iman:«Que pensa desse género de acções?»- pergunta Anderson; e responde o Iman: «Esse é o sentir do povo».
É redutora certamente a conversa, muito mais este excerto, mas o que a reportagem de Anderson tem é conseguir tirar-nos do imediatismo noticioso, é distanciar-se dos factos isolados. Ao longo de 12 páginas Anderson traça um relato impressionista da cidade e da situação. Valia bem a pena que alguém publicasse por cá este texto.

August 21, 2003

O APAGÃO NOS MEDIA
O site Poynteronline tem um belo artigo sobre a cobertura do apagão nos Estados Unidos. Vale a pena ler. Excertos:Of course, at one point, I was wondering who, exactly, was watching, seeing as no one had power. We considered simulcasting on radio, but didn't get much initial interest from stations and didn't pursue it too vigorously.
. Podem ler mais aqui.
JOGOS DE LETRAS
Art Buchwald é um dos melhores colunistas da imprensa americana e a sua forma de escrita é verdadeiramente exemplar. Ao visitar algumas das suas colunas recentes, dei com esta, intitulada «Starts With S, Ends with EX» que é verdadeiramente brilhante. Foi publicada dia 14 de Agosto no
Washington Post. Excerto:I was looking at the magazine stand and I noticed almost every magazine had the word "SEX" on the cover. It wasn't just Playboy and Penthouse -- every periodical from Cosmopolitan to House & Garden was using it so that I'd buy their magazine.
When I got home I turned on the television and darned if "Sex and the City" wasn't on the air. "That does it," I said to myself. "It is time to research the word."

O HOMEM E A ARTE
Como nasceu a arte a partir do ser humano? A pergunta aflige muita gente. Num excelente artigo do Japan Times traça-se um paralelo entre a arte pré-histórica e nós próprios. Excerto: Picasso, on visiting Lascaux, reportedly remarked that "we have discovered nothing new in art in 17,000 years." As White comments in his book, "all of the major representational techniques were known at least by the Magdalenian [Period, beginning about 18,000 years ago]; oil- and water-based polychrome painting, engraving, bas-relief sculpture, sculpture in the round, charcoal and manganese crayon drawing, molded clay, fired ceramic figurines, shading, perspective drawing, false relief, brush painting, stamping and stenciling." The Grotte Chauvet even contains the image of a bison colored by dots of paint applied by hand, a technique that White describes as "pointillism -- 300 centuries before Seurat."

GOVERNO ELECTRÓNICO
Dias 7 e 8 de Outubro, em Duesseldorf, Alemanha, vai decorrer a eGo2003, exclusivamente dedicada a mostrar as evoluções registadas na área do governo electrónico, com especial incidência nos municípios e num melhor realcionamento e harmonização entre os estados membros da União Europeia. Mais informações aqui.

August 20, 2003

ASSIM
Ele há dias que se ganham apenas por cinco minutos serem bons.

August 19, 2003

O CIRCO DO SOL
A mais recente produção do célebre «Cirque Du Soleil» chama-se «Varekay» e a «The Economist» relata-a assim: Cirque de Soleil, a unique blend of theatre, circus acts and sparkle, returns to Chicago with its latest extravaganza: “Varekai”. Expect a kaleidoscope of audacious costumes and colourful acts, including stupendous acrobatics, a triple trapeze and unconventional clowning. The troupe’s original take on the circus—ground zero of populist entertainment—has garnered a following large enough to fill the cavernous United Center, home of the Chicago Bulls basketball team.
A SEMANA
Mr Charles Taylor resigned as President of Liberia and flew to Nigeria; ‘History will be kind to me,’ he said. ‘I have accepted this role as the sacrificial lamb.’ Mr Taylor had won elections in 1997 with the unusual slogan ‘You killed my ma, you killed my pa. I’ll vote for you.’ A lorry bomb killed 12 and wounded 50 at the Jordanian embassy in Baghdad. Men rioted in the streets of Basra, southern Iraq, in temperatures of 122?F (50?C); they demanded electricity supplies. Zimbabwe laboured under gross inflation, with banks running out of banknotes and the 30 per cent of the workforce who are employed being left without wages. Hezbollah shelled a northern Israeli town from southern Lebanon, killing a 16-year-old boy. Mr Nick Warner, head of the Australian intervention force in the Solomon Islands, held talks with Mr Harold Keke, a gang leader, who admitted that six Anglican missionaries his men had taken hostage four months ago had been killed. In Brazil 84 men escaped from Silvio Porto prison through a 50-yard tunnel. The suicide rate in Russia reached 38.4 per 100,000 last year, with more than one in a thousand men between the ages of 45 and 57 killing themselves; only Lithuania is more suicidal. Lady Mosley, the widow of Sir Oswald Mosley, died in Paris, aged 93. In early opinion polls Arnold Schwarzenegger was the leading candidate for the governorship of California, for which elections will be held on 7 October. - excerto de «Portrait Of The Week», publicado pela revista Spectator
OS GRANDES DOS MEDIA
Quais são as maiores empresas de Media do mundo? A estrela do firmamento nos Estados Unidos reside nas companhias de TV por cabo, o negócio está a crescer apesar da recessão e as companhias de televisão de língua espanhola são as que registam melhores evoluções no mercado americnao. Podem ler mais.
O PANTEÃO DO JORNALISMO
O debate é interessante: Journalism — unlike literature, theater, art, music, film, or situation comedy — has never had much of a canon, a reasonably well-accepted collection of great works. This is lamentable. It leaves us, as we read the latest dispatch from Washington or a war zone, without models that might help us understand what such a dispatch might be. It allows us to mistake an interesting feature in the Times this week or some particularly persuasive piece of reporting in the current New Yorker for the best that journalism has to offer. Para ler mais sobre o assunto basta ir aqui.

August 18, 2003

A MESMA CANÇÃO

A ave canta o mesmo canto
sem errar na melodia,
o mesmo que há tempo tanto
a gente ouvia.

Que maravilha é notar
como tão extrema canção
tem durado sem mudar
de fabordão.

Mas outra ave canta agora -
ah sim, a outra é já pó,
como os que ouviam outrora
comigo só.

(Poema de Thomas Hardy, traduzido por Jorge de Sena e extraído do Poesia Universal em Português.)
PODE?
Pode a saudade ser poesia?
Pode a poesia ser saudade?
COLTRANE PELO PRÓPRIO
A descoberta do fim de semana foi um texto de Coltrane a falar de si próprio, originalmente publicado na «Down Beat» de 29 de Setembro de 1960. Não resisto a um excerto: As far as musical influences, aside from saxophonists, are concerned, I think I was first awakened to musical exploration by Dizzy Gillespie and Bird. It was through their work that I began to learn about musical structures and the more theoretical aspects of music. O texto integral pode ser lido aqui.
FACTOS E RIGÔR
No site da Columbia Journalism Review vem este interessante artigo sobre a correcção dos factos e informações citados em notícias e a sua importância - ás vezes relativa, outras vezes ignorada.
SOBRE ÁRVORES E MEDIA
Imprescindível ler o guerra e pas. Hoje fala da polémica em torno das árvores a propósito do túnel das Amoreiras e faz uma curiosa e lúcida análise da constituição dos grupos de media em Portugal pré 11 de Setembro.
DOS BLOGS
Nem todos os umbigos são bonitos, nem todos valem a pena - o umbigo é aliás um momento muito especial do corpo. Mas este é garantidamente um que vale a pena descobrir. Em matéria de olhar cortante sobre os nossos media não conheço melhor.

August 17, 2003

NEGÓCIO
A Wired revela que o apagão deu origem a um negócio em grande: geradores electricos, sistemas de segurança de energia para servidores e computadores e por aí fora. Vale a pena ler.

August 16, 2003

CLARO
Durante 48 horas não consegui aceder ao site do «New Yorker» Mas agora já está bom. A presente edição é dedicada aos casamentos e descasamentos e vale a pena espreitar.
AINDA O APAGÃO
A net ajudou a que, apesar do apagão, a informação continuasse a circular. O Online Journalism reporta: No electricity, no problem. Many New Yorkers were able to stay connected and informed throughout Thursday's blackout with the aide of the Internet, reports Information Week. After Sept. 11 New York City government upgraded its Web site to serve as an information outlet in the event of future disasters. Mayor Michael Bloomberg's press conferences on the blackout could be watched by anyone with a battery-powered laptop. According to Information Week, residents of Detroit and Cleveland were not so lucky -- city-run Web sites in those cities were down during the crisis. But back in the Big Apple, several New York-based investment banks and the stock exchanges were online and posting information for employees and investors on their operating status. E pelo meio recomendo uma visita aqui para mais informações sobre o assunto.
SERVIÇOS DE INFORMAÇÃO
A capa da edição desta semana da «Spectator» é sobre a degradação dos serviços secretos britânicos. O seu autor, Nigel West, afirma que os trabalhistas estão a utilizar os serviços de informação com fins políticos e, fazendo um paralelo com este tipo de comportamento baseado na velha tradição soviética, West afirma que desta forma o Reino Unido fica consideravelmente mais inseguro.




APAGÃO
Em solidariedade com o apagão nova-iorquino resolvi desligar o computador 24 horas.
Não, não insandeci, mas como li tantas evocações de apagões antigos, acabei por enjoar. Confesso que não me senti muito receptivo a notícias sobre este apagão. Não me impressionou muito tão pouco. Houve uma falha de energia, grandota é certo. Imaginei-me noutras coisas: se fosse por cá? Lembram-se da cegonha que pôs meio país às escuras? O Dr. Ferro, se o apagão americano atacasse em Portugal, havia de pedir a cabeça do Primeiro Ministro, da nova administração da EDP e de 2/3 dos Ministros. O Dr. Carvalhas havia de sair das suas praias de Tavira a dizer que assim se provava como a política reaccionária do Governo era perigosa para a independência energética do país, o Dr. Monteiro queixar-se-ìa das ofensivas do capital estrangeiro sobre a EDP e da falta de uma estratégia energética de Bruxelas, o que, já se sabe, trama supinamente os estados membros. As televisões haviam de ser inundadas por especialistas de porra nenhuma a perorarem sobre o assunto. Ou seja, transformar-se-ia um incidente num facto politicamente relevante. Percebem porque é que eu digo que muito do que se faz por aí é desinformação e manipulação? Repararam como os media americanos trataram do assunto? Como Mayor reagiu?

August 14, 2003

UM AMIGO
Morreu o Zé Matos Cristovão. Jornalista e homem de mil ofícios era amigo do seu amigo. Amigo como poucos. Bem disposto e sempre saudavelmente excessivo abraçava ideias e desafios como abraçava aqueles de quem gostava. Nos últimos anos pôs mãos a fazer aquilo que sempre tinha querido: um restaurante, um bar, uma mesa para os amigos. Há pouco tempo tinha conseguido concretizar mais alguns sonhos. Da última vez que falei com ele estava mesmo contente. Ainda bem que estava assim quando foi ali dar esta volta. Um abraço Zé.
POESIA DE SAUDADE

Dá paz ao ardor
De quem te deseja.
Contenta o amor
E faz dom de ti,
amos, sorri,
Quando a boca beija.
Me disse na hora:
«Pecar me refreia.»
Respondi-lhe:
«Ora! Não é coisa feia.»

Estas palavras são de Al - Mu'tamid, que viveu entre 1040 e 1091, durante o domínio Árabe. Poeta e guerreiro, foi Rei de Sevilha e a sua «Evocação de Silves» é irresistível:
Saúda, por mim, Abg Bakr,
Os queridos lugares de Silves
E diz-me se deles a saudade
É tão grande quanto a minha.
Saúda o palácio dos Balcões
Da parte de quem nunca os esqueceu.
Morada de leões e de gazelas
Salas e sombras onde eu
Doce refúgio encontrava
Entre ancas opulentas
E tão estreitas cinturas!
Mulheres níveas e morenas
Atravessavam-me a alma
Como brancas espadas
E lanças escuras.
Ai quantas noites fiquei,
Lá no remanso do rio,
Nos jogos do amor
Com a da pulseira curva
Igual aos meandros da água
Enquanto o tempo passava..
E me servia de vinho:
O vinho do seu olhar
Às vezes o do seu copo
E outras vezes o da boca.
Tangia cordas de alaúde
E eis que eu estremecia
Como se estivesse ouvindo
Tendões de colos cortados.
Mas retirava o seu manto
Grácil detalhe mostrando:
Era ramo de salgueiro
Que abria o seu botão
Para ostentar a flor.


RECOMENDAÇÕES
Fim de semana alongado, deve ser bom para aproveitar os últimos momentos de tranquilidade em Lisboa, antes de ser invadida pelo regresso das Férias. Vou a Alfama passear nas ruas sem trânsito, a ver se consigo comer uns petiscos na «Parreirinha» e se tenho a sorte de Argentina Santos lá estar a cantar. E vou reler as «Fábulas» de La Fontaine, numa bela edição da Ambar, quer-me parecer que ainda me vão ser muito úteis nos próximos tempos.
(extraído da versão impressa d'A Esquina, na edição de hoje do «Jornal de Negócios»)
DECLARAÇÃO
Vi-te, em ti.

August 13, 2003

UM MODELO
O Observatório da Imprensa brasileiro é um modelo de constante acompanhamento do que se passa nos media em geral, com informações, artigos históricos, análises e, claro, logo à cabeça, nestes dias, uma avaliação do que poderá ser o futuro do império Globo depois da morte de Roberto Marinho, acompanhada de uma lúcida biografia do jornalista.
OBSERVAR
A propósito da morte de Marie Trintignant o
Observatório da Imprensa brasileiro publica uma análise muito interessante do comportamento dos media franceses face à situação. Faz falta por cá reflectir sobre a forma como os media acompanham os assuntos - é certo que nalguns blogs se tem falado disso, mas devia haver uma reflexão mais sistematizada, pública e aberta sobre o assunto. Ajudava-nos a todos: a quem trabalha no sector e a quem o consome.
MORDOMIAS
O No Mínimo tem um artigo delicioso que fala de uma situação mesmo engraçada: No Brasil o sindicato dos servidores do Congresso anuncia que vai denunciar ao Tribunal de Contas a ilegitimidade da contratação de 9.122 assessores parlamentares para os gabinetes privativos de 513 deputados.
VOTAÇÕES ELECTRÓNICAS
Para ficar a par da forma como está a evoluir a implantação de sistemas de voto electrónico nos Estados Unidos para os próximnos actos eleitorais e para saber quais as principais questões de segurança que se colocam, espreitem este artigo da Wired.
ULTRALEVES ECOLÓGICOS
Os ultra-leves, aquelas pequenas máquinas voadoras que todos os anos nos atormentam o juízo sobrevoando as praias com o ruído de um motor a dois tempos de escape livre, afinal têm uma utilidade ecológica. A revista «The Economist» explica como podem ser utilizados para acção de vigilância sobre zonas protegidas para monitorização constante de conservação dos eco-sistemas. Vale a pena dar uma vista de olhos na secção de Science & Technology da revista: também podem descobrir como foi construído um robot capaz de andar sobre a água.
VIAGENS
Por razões que nunca entendi há quem goste de passar as férias no meio da pobreza e da miséria. As hordas de consumidores de Cuba e do Brasil são um bom exemplo de diversão à custa de enormes desigualdades - que a maioria dos utilizadores critica fortemente a nível doméstico. Estas ideias excursionistas sempre me perturbaram um pouco e por via de regra não as pratico. A minha querida revista Spectator resolveu escrever (bem) sobre o assunto.

August 12, 2003

SKY DÁ FINALMENTE LUCROS
A BSkyB anunciou um lucro recorde de três mil milhões de libras para o seu primeiro ano de resultados positivos desde que se iniciou na aventura digital há cinco anos - é uma boa notícia para o mundo dos media, o primeiro sinal sério de viabilidade de uma operação de televisão digital por satélite. Pormenores aqui.
HIPOCONDRÍACOS
Nos Estados Unidos a frenética obsessão dos hipocondríacos custa 20 milhões de dolares por ano ao sistema de saúde. A New Yorker tem um belíssimo artigo sobre o assunto. Excerto:The interaction between the hypochondriac and the physician, subverts everything that a doctor is taught about how to communicate with patients. Expressing concern only reinforces the hypochondriac’s sense that something is awry. Marshalling the considerable technological resources of modern medicine, by ordering sophisticated blood tests and high-resolution M.R.I. scans, still falls short of providing reassurance. . Leiam o resto, que vale a pena.
ENCOLHIMENTO
Quando a cultura dos humanos finalmente começou a produzir arte e tecnologia já os nossos cérebros estavam a encolher. E, apesar de tudo, a raça humana lá conseguiu chegar à lua. O resultado de investigações recentes sobre o desenvolvimento do cérebero humano e sobre as suas relações com o saber e a descoberta podem ser lidas
aqui.
A CIÊNCIA DOS INCÊNDIOS
Investigações recentes trazem algumas explicações adicionais sobre situações que favorecem a ocorrência de incêndios, nomeadamente o papel que algumas espécies invasivas que proliferam descontroladamente têm para que algumas regiões fiquem autênticos barris de pólvora. Espreitem este artigo da Scientific American.

August 11, 2003

QUEREM IR AO MÓNACO?
Que tal um rochedo para fim de férias? - o pretexto é bom, uma das maiores exposições de sempre sobre a vida e obra de Andy Warhol está no Mónaco, no Grimaldi Fórum, com o nome «Super Warhol», até final deste mês. Podem ler tudo sobre a mostra no Libération.
BLUES
There’s only one way for a young man to learn true blues: from older men. This sort of teacher-student relationship is rather common today, or at least it has been since the blues gained such popularity with the seemingly ever-fickle young white audience. One of the most popular of the young blues men is Paul Butterfield. But Butterfield is old hand at the blues, having drunk from the deep well on Chicago’s South Side several years ago. This spring, he and guitarist Michael Bloomfield were reunited with one of their main teachers – singer/guitarist Muddy Waters and pianist Otis Spann. The reunion took place in the Ter-Mar Recording Studio at Chess Records, and for three nights, a rather remarkable recording session rolled from one artistic peak to another. Following the last night, Butterfield, Waters, and, later, Spann discussed the session and the ways they learned the blues. What follows is an edited version of that conversation with Don DeMichael. . Para ler a entrevista, que me deixa cheio de água na boca para o disco que se espara aconteça rápido, podem ir à Down Beat.
OS NOVOS TEMPOS NO NEW YORK TIMES
Quais os efeitos pós-Jayson Blair na relação do «New York Times» com os seus leitores e com as suas fontes? Um interessante artigo da Columbia Journalism Review aborda o assunto e levanta algumas questões. E fala com uma série de pessoas que foram vítimas das práticas de Blair e que reflectem sobre a reacção que tiveram e o efeito que isso eteve nas suas actividades.
BRINCADEIRAS
A nova geração de jogos para computador têm grandes orçamentos de desenvolvimento, bons guiões, muitas vezes são melhores que os filmes nos quais se foram basear. Quem o diz, num artigo muito bem informado, é a Wired.
CADERNOS
Parece que a referência à marca de cadernos que se usa para tomar notas está na moda na blogosfera. Passo a esclarecer que há anos tomo notas sempre nos mesmos cadernos, uns de capa preta, formato A5, fabricados pela Ambar sob a referência cad 2512. A papelaria Fernandes também, tem uns iguais. Ora utilizo com folhas lisas, ora quadriculadas. Não vejo razão para mudar. Nem mesmo os moleskins.
INTERNACIONAL
Ontem, Domingo, os telejornais das três estações generalistas já íam para lá da hora de duração (continuo a achar isto espantoso) e ainda não tinham tido uma notícia de internacional - minto, a SIC passava umas coisas em rodapé. Ora digam lá, se não queremos saber para nada do que se passa no resto do mundo como havemos nós de avançar?

August 09, 2003

NOTÍCIAS DE PRIMEIRA PÀGINA:
No «Expresso»: «Protecção Civil ignorou alertas»; «Portugal perde força em Bruxelas»;
No Público: «Relação levou dez dias a enviar recurso de Pedroso para o TC», «Comissária Europeia promete acesso ao fundo de solideriedade»;
No «Diário de Notícias»:«Colpaso ameaça combate a fogos». «Maioria dos processos de abuso sexual não chegam a julgamento»
No «Correio da Manhã»: (processo Casa pia) «Machadada na Acusação»; (Incêncios) «Prejuízos sobem a mil milhões»
No «El Pais» Duas notícias de Espanha, uma do Iraque e outra da África do Sul
No «Le Monde»: Uma notícia francesa, uma do Iraque, outra da África do Sul e outra dos Estados Unidos;
No »La Vanguardia»: Três notícias de Espanha, uma de Itália, outra do Iraque.
Percebem o que quero dizer com isto de sermos especialistas em olhar para o umbigo?
NOTICIÁRIO
Uma das coisas que sempre me irritou um pouco é o facto de a generalidade dos media portugueses se contentarem com o que se passa aqui no rectângulo, e, de preferência, com o que acontece em Lisboa e no Porto. Açores e Madeira em geral ficam relegados para calamidades ou arraial político e o interior do país lá surge em momento de desgraça, como nesta leva de incêndios. Dos países africanos de língua portuguesa apenas se sabe de alguma coisa quando há mortes ou golpe de estado. Do resto do mundo, apenas atentados terroristas e catástrofes naturais nos chegam. Essa coisa muito elementar que devia ser a essência do jornalismo - que é reportar, contar o que acontece - deixou de surgir, por via de regra. Aparentemente o critério é o mesmo de uma boa rubrica humorística: «O Homem Que Mordeu O Cão»: ou seja, só interessa o insólito, o invulgar, o não natural, a má notícia, a desgraça. Já repararam que hoje em dia nos nossos media não existe lugar para boas notícias? Esta perversão da realidade, este afastamento de tantos temas e assuntos, leva a que a tendência provinciana latente em Portugal (pelo menos desde o tempo em que Eça de Queiroz a caracterizou) prossiga galopante. Fechados no rectângulo, desinteressamo-nos do que se passa no quotidiano dos outros países, das descobertas, das investigações, das criações. Sobressaltamo-nos com os dramas, somos indiferentes à vida. Um pouco estranho, não é?

August 08, 2003

EXPRESSÕES QUE ME IRRITAM
Há sempre quem não tendo nada para dizer opte por utilizar inutilidades verbais que não servem para nada a não ser para não ficar calado - que no entanto é o melhor estado natural do ser humano.
Exemplos:
- A sério?
- Jura!
- Parece impossível
O OUTRO FLAGELO
Todos os anos há dois flagelos que assolam o país: os fogos no Verão e o chavascal da caça no Outono. Hoje de manhã já ouvi representantes dos bandos armados que se deslocam pelo país a partir da abertura da caça a protestar contra o anúncio da intenção do Governo em, por causa da devastação florestal e do habitat natural causada pelos incêndios, criar algumas limitações e restrições ao tiroteio. Não é extraordinário?
HOJE, EM PAPEL
Hoje a Esquina tem a sua versão impressa e regressou às suas
RECOMENDAÇÕES:
Para hoje: Exposição comemorativa dos 150 anos do selo de correio em Portugal, na Biblioteca Nacional;
Para amanhã: As Máquinas de Leonardo (da Vinci), Palácio Nacional de Sintra;
Para depois de amanhã: O que me apetecia mesmo era apanhar fresco. Será possível?
Para sempre: Um clássico de Wes Montgomery, descoberto a bom preço na FNAC, «Tequila», com arranjos de Claus Ogerman, uma gravação original de 1966, numa cuidada edição que mostra todo o talento da guitarra de Montgomery a revisitar temas de origens diversas – desde tradicionais populares ao jazz.

August 07, 2003

CALOR
Ora aqui está um artigo como deve ser, com um belo mapa sobre as temperaturas em diferentes países da Europa e com acertadas opiniões de um médico sobre a reacção do corpo humano à canícula. que deve andar por aí até sábado. Detalhes no Libération e um outro artigo do mesmo jornal sobre as causas e efeitos da onda de calor em França pode ser lido aqui.
SEXO, RELIGIÃO E POLÍTICA
A nomeação de Gene Robinson, um homossexual assumido, como bispo da Igreja Anglicana, vem colocar na ordem do dia a relação entre uma postura cada vez mais tolerante das sociedades avançadas para com os homossexuais, em contraste com a oposição dos sectores mais conservadores, e nomeadamente dos católicos, á existência de padres gay e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. O artigo que o
The Economist publicou sobre o assunto é uma das análises mais lúcidas e honestas da situação, que passa pela existência (abafada) de escândalos sexuais na Igreja Católica, e em geral pelos contrastes entre as anunciadas públicas virtudes e os vícios privados.
TOMA!
3-1. Para começar...
50 mil. Extasiados. Emoção a rodos na inauguração do Alvalade XXI. Com muito futebol dos ‘leões’ e uma vitória para a história de 3-1 sobre o Manchester. Quando Luís Filipe fez o 1-0 foi o delírio. Com o ‘bis’ de João Pinto foi a verdadeira loucura. Merecida
in «Noite de Golos Faz História», Correio da Manhã
POLÍTICA
A todos os interessados nas possibilidades da democracia electrónica recomendo vivamente uma visita ao E-Democrcy.US, um site feito para refelctir o que nesta matéria existe em relação às eleições presidenciais norte-americanas de 2004, com links abundantes e informações interessantes.
PARA COMEÇAR O DIA
Que tal um poema? De Silvia Plath? - Assim:
Papoilas em julho

Pequenas papoilas, pequenas chamas infernais,
sois inofensivas?

Estremeceis. Não posso tocar-vos.
Ponho as minhas mãos por entre as chamas. Mas nada
queima.

E fico exausta quando vos vejo
estremecer assim, pregueadas e rubras como a pele da
boca.

Uma boca há pouco ensanguentada.
Pequenas orlas de sangue!

Há nela um fumo que não consigo tocar.
Onde está o vosso ópio, as vossas cápsulas nauseabundas?

Se eu pudesse esvair-me em sangue ou dormir!...
Se a minha boca conseguisse desposar uma tal ferida!

Ou os vossos licores me penetrassem, nesta cápsula de
vidro,
trazendo-me a acalmia e o silêncio.

Mas sem cor. Sem nenhuma cor.



O seu a seu dono: a inspiração e o «copy» vêm do Poesia E Prosa

August 06, 2003

ALTURA
Tenho cerca de um metro e noventa. Nem imaginam a série de dificuldades práticas que isto coloca. Muitas vezes, desde lojas de roupa a cadeiras de salas de espectáculos, sinto-me descriminado. Agora saíu nos Estados Unidos uma revista para pessoas altas. Chama-se, claro, Tall e a capa do primeiro número mostra um rapaz do meu tamanho, Donald Sutherland. A revista fala dos problemas das pessoas altas, dá conselhos, mostra o valor económico deste mercado, digamos, de gigantes. A Slate fez um divertido artigo de apresentação da revista cujo lema é
because life may be short, but we're not.
BLOG PRESIDENCIAL
O candidato presidencial norte-americano Howard Dean tem um blog que um dos especialistas da mátéria, Howard Glaser (já aqui citado várias vezes) aponta como exemplo num artigo da Online Journalism Review. Glaser diz que o blog do político tem poucas contribuições pessoais do próprio candidato, mas encontra-lhe numerosas virtualidades.
Uma pesquisa no Google, diz Glaser, mostra o impacto de Dean nos media: 4340 referências, já sem contar com as capas das edições desta semana da «Time» e da «Newsweek». Como Glaser diz: A recurrent theme is that Dean's staff has unleashed the power of the Internet, raising millions of dollars through online drives, organizing real-world meetings of thousands of supporters through MeetUp.com, and keeping everyone updated through the "official blog." But wait, there's more. There's a photo gallery, a video repository called Dean TV, and even a wireless news update service. Not too shabby for a guy who admitted to CNN that "I kind of missed the Internet boom."
POLÉMICA
As novas regras da FCC (Federal Communications Commission) estão no centro de uma polémica. Muita gente afirma que a reforma privilegia os gigantes dos media. A Columbia Journalism Review tem um belo artigo sobre o assunto.
PORTÁTEIS
Uma das preocupações dos estudantes norte-americanos é poderem ter computadores portáteis suficientemente em conta para serem uma ferramenta básica de trabalho. A designação «laptop» foi quase abandonada pela maior parte das marcas, que agora lhes chama «notebooks». A Wired compara preços e características técnicas e mostra como no mercado norte-americano se pode comprar uma boa máquina por menos de 1000 dolares.

August 05, 2003

ANÚNCIO DA SUA MORTE
Cito o Abrupto:
«Texto do anúncio da sua própria morte feito por João Pulido Valente:

"Eu, João Pulido Valente, informo os meus Amigos que morri hoje, 4 de Agosto de 2003, de manhãzinha. Convivi com Ideias, mulheres, tabaco e álcool. Contraí cadeia, sífilis, cancro e ressacas. Não estou arrependido. Julgo ter pago o preço justo por ter vivido. Quando eu morrer não quero choro nem velas, quero uma fita amarela, gravada com o nome dela: Liberdade."

Ainda há homens assim. »
NOVO IDIOMA
O que é o Hinglish? Leiam aqui.
CAPACIDADE POLÍTICA
«Os Certos Também Erram» é um belo artigo de Marcos Sá Corrêa sobre o exercício do poder, que pode ser integralmente lido em no mínimo. Não resisto a um excerto que tão bem se adapta a tantos políticos: Qualquer pessoa que já tenha sentado numa mesa de reunião sabe quantas idéias boas são propostas por gente bem intencionada que não poderiam de maneira alguma ser executadas, porque a proposta consistia apenas de resultados, não de meios para chegar lá. Depois de participar de um governo local, o escritor Bernard Shaw orçou em cinco por cento da humanidade os seres humanos dotados de aptidão política.
Mas ninguém pode ser um verdadeiro político e ao mesmo tempo, incapaz de tocar uma administração. Administrar é manter a ordem numa situação que continuamente tende à desordem. Dirigindo qualquer organização, tanto as pessoas quanto as idéias têm que ser repostas em seus lugares dia após dia. Senão, idéias que poderiam funcionar não funcionarão.
Testemunho
Pode um telemóvel com câmara fotográfica servir de testemunha de um crime? Parece que sim e o primeiro caso já aconteceu. A história toda vem relatada aqui e cita uma notícia da Associated Press.
SEMPRE O MESMO TARGET
A procura por públicos jovens para os media é o eldorado dos tempos modernos. Agora responsáveis por websites de medias tradicionais também descobriram que sem leitores jovens o seu futuro é negro. Bastava terem pensado nos seus media originais para percebrem isso, mas paciência. Aqui fica o relatório.
VOTO ELECTRÓNICO
Os riscos e vantagens de máquinas que permitam o voto electrónico através de sistemas simples (ecrãs sensíveis ao toque em assembleias de voto) está a ser avaliada pelo Congresso norte-americano. A história é da Wired.

August 04, 2003

MONTEIRO
Tenho a vaga sensação de que a oposição ao Governo se resume ao Dr. Monteiro. A propósito dos incêndios foi o único político extra-coligação que apareceu nas televisões. Os outros coibiram-se por pudor de criticar, por medo de se solidarizar, ou preferiram ficar no recato do mar?
O MONÓLOGO
A conversa do Professor Marcelo Rebelo de Sousa aos Domingos na TVI está cada vez mais perto de um monólogo. Já se sabe que tudo é preparado e combinado, que o apresentador do telejornal só está ali para dar as deixas e criar uma ilusão de conversa - mas a verdade é que sobretudo nas últimas semanas tudo se parece cada vez mais com um longo e monótono monólogo, mais destinado a ajustar questões pessoais do que a comentar e elucidar quem quer que seja sobre a actualidade. O espaço da entrevista transformou-se numa espécie de «speaker's corner» pessoal onde o Professor arenga o que lhe apetece, exerce o seu costumeiro hábito de salpicar o ecrã com as maldades que lhe dão prazer, não hesita em distorcer as coisas ao jeito dos seus desejos para que a oratória lhe saia mais arrebatada. Aquilo que começou por ser um ponto interessante a seguir em matéria de comentário está aos poucos a tornar-se num enfadonho a cabotino momento de televisão.
MAIS UMA REVISTA QUE EU LEIO
Todos os meses tenho encontro certo com a «Grande Reportagem». Desta vez o que ma atraíu foi o texto de João Pombeiro sobre o escritor norte-americano John dos Passos. Depois, um discreto artigo sobre três nomes de referência nos blogs: Andrew Sullivan, Eugene Volokh e Glenn Reynolds. Finalmente um oportuno artigo de Peter Strandberg que ajuda a perceber o que se está a passar na Libéria. Agora, as fotos: magnífica a da capa, uma imagem de forcados na arena, extraída da reportagem de Pedro Loureiro. E o bom portfolio «American Dream», de António Sá, nome a reter nestas coisas de fotografia.
AS REVISTAS QUE EU LEIO
Cada vez gosto mais da «Newsweek». Em relação aos newsmagazines, confesso que tenho fases, ciclos - uns tempos gosto mais da «Time», outros, como já acontece de há uns seis meses para cá, gosto mais da «Newsweek». Acho-a mais sintética, mais diversificada, com maior atenção a questões como o entretenimento e as artes, com um enfoque maior no porquê das coisas. No último número a reportagem sobre os últimos dias da vida dos filhos de Saddam é um exemplo de bom jornalismo.

August 03, 2003

DE UNS PARA OS OUTROS
Não resisto a citar: E é assim tão grave se andarmos aqui a escrever uns para os outros, na «blogosfera», essa «ondulação estival»? Para quem se há-de escrever? Para quem cá anda, para quem aparece, para quem pisca o olho e diz «ontem li o teu texto» ou para quem vem às escondidas, para quem telefona, para quem se importa. «Escrevem uns para os outros.» Não me lixem. Claro que escrevemos uns para os outros. Claro que escrevemos para os outros. E, dado que o mundo é como é, escreve-se sobre política, sobre incêndios florestais, sobre Salinger, sobre música, sobre comida, sobre charutos, sobre o que passa, sobre os outros. . Isto tudo ( e uns parágrafos mais, bem deliciosos, vêm a propósito da coluna de Eduardo Prado Coelho sobre os blogs, já por aqui mencionada. Tudo pode ser lido no Aviz.
A COISA PROMETE
Alberto Gonçalves, que só conheço pelo que escrevia no «Correio da Manhã», tem um blog que promete: Homem A Dias. Para já o que escreveu sobre o estado da opinião em Portugal merece elogio e citação: Salvo excepções, não temos comentadores, temos mensageiros, que passam recados nas páginas dedicadas ao efeito, exaltando compinchas, zurzindo desafectos. Nem vale a pena mencionar o espartilho partidário: Lisboa é pequena e provinciana (o Porto é pior), os restaurantes de jeito escasseiam e os bares em voga, por definição, são poucos. Toda a gente se roça mútua e publicamente aqui e ali. Antipatiza-se com uns, simpatiza-se com os restantes, não importa: o resultado é uma enviesada desgraça. Lembro-me de um «vulto» da crónica nacional a quem apetecia desancar Paulo Portas, mas que não o fazia «por ser amigo dele». A fidelidade ao amigo ficou-lhe bem; a profissão nem tanto.
À semelhança do IRS dos políticos, aos cronistas deveria ser exigida e tornada pública a declaração anual de relações pessoais. Ao menos perceberíamos de quem se fala quando se fala da «grande promessa que o parlamento revelou» ou desse «ministro emocionalmente débil, tendencialmente autoritário e um acabado cabrão». Ou sim, ou sopas. Os blogues, Deus os guarde, começaram pelo «sim», mas alguns já arrastam a colher para as «sopas». É a arte de ser português.
.
SPECTATOR
Tenho pena de não existir por cá nada que se pareça, de perto ou de longe, com a revista semanal britânica The Spectator. E tenho ainda mais pena que ninguém em Portugal edite um resumo do que se passou durante a semana como o que a revista publica sempre sob a designação Portrait Of The Week cuja leitura não me canso de recomendar como exemplo do que é uma síntese informativa impecavelmente bem feita, objectiva mas com sentido crítico, factual mas com ironia. O que prova que o bom jornalismo não é chato. O mau jornalismo é que aborrece.
POIS...
Como era de prever o desejo de protagonismo do Dr. Soares foi bem compreendido pela generalidade dos media, que lhe fizeram o favor de espalhar aos quatro ventos a sua doutrina. Não sei se já repararam mas só aqui é que o pessoal ainda vai na treta de dar atenção ao que dizem os ex-titulares de cargos públicos (é claro que só aqui, também, é que eles têm a lata e o descaramento de intervir sistematicamente na actualidade política quando teroricamente não desempenham nenhum cargo relevante para que tal aconteça). Vêem isto a passar-se em mais algum lado? Um ex-Presidente em Portugal tem mais eco que um Presidente em exercício ou um Governo em funções. Isto é estranho ou sou eu que estou a ver mal as coisas?
MAIS NOTÍCIAS DOS INCÊNDIOS
Na imprensa de hoje salvam-se o «Público» e o «Correio da Manhã». O«Diário de Notícias», vá-se lá saber porquê, no dia de hoje, achou que o tema da quebra de turistas nudistas era o assunto principal. O «Jornal de Notícias» vem melhor, mas confuso. À primeira vista a cobertura mais exaustiva, com mais dados locais e informações concretas dos principais locais que viveram o perigo está mesmo no «Correio da Manhã» - que sendo tablóide trata o assunto à séria.
NOTÍCIAS DOS INCÊNDIOS
Vendo agora a coisa com calma percebe-se como o impressionismo e a exploração dos sentimentos dominou a cobertura noticiosa dos incêncios nas rádios e televisões durante o dia de ontem. Não houve capacidade de recuo, as sínteses de situação foram pobres, a compilação de dados e factos reais quase inexistente. Em regra as emoções foram colocadas à frente do relato objectivo dos factos, os depoimentos (os célebres depoimentos...o recurso preguiçoso à palavra dos outros) exploravam sentimentos de terror e de angústia e os repórteres no terreno, regra geral, tiveram dificuldade em ser objectivos e informativos, preferindo assumir eles próprios as naturais emoções que os rodeavam. Mas o pior foi a falta de apoio nas redacções, a enquadrar com dados, imagens, gráficos, histórico, sínteses o que se passava nos vários locais. Se os repórteres no terreno têm desculpa por carregarem na emoção, as redacções não têm: só o fizeram pelo gosto pelo sensacionalismo, por já não conseguirem distinguir o que é informação de tudo o resto, por serem elas próprias, pelos vistos, a incentivar, a exploração dos sentimentos sobre o relato objectivo dos factos.

August 02, 2003

MAIS GRUPO DOS OITO
É preciso dizer que os oito generais que jantaram sob o foco das televisões não têm legitimidade de qualquer espécie para pressionarem um Governo eleito como estão a fazer. Os militares têm sempre um apetite latente por exibirem a força que julgam deter - mas é preciso dizer, sobretudo nestas alturas onde eles julgam poder influenciar o destino das coisas - que os generais só se representam a eles próprios. Não foram eleitos, são apenas peças de uma cadeia hierárquica e não podem reivindicar representatividades ou legitimidades que não têm - sobretudo contra membros de um governo saído de eleições. Se não for assim, cai-se no terrível risco de permitir que grupos sem legitimidade democrática queiram condicionar o exercício do poder. É isto que querem os que apoiam os generais?
SOARES E O GRUPO DOS OITO
Soares não resistiu às recordações do seu papel no Grupo dos Nove, e, confundindo os tempos e as situações, apareceu a estimular a contestação ao Ministro da Defesa. Não me parece muito normal que um ex Presidente da República assuma os protestos de militares que não representam nada a não ser eles próprios, contra um membro de Um Governo democraticamente eleito.
AMIEIRA
Sou de Amieira do Tejo. Ou melhor, toda a minha família é de lá. A Amieira é uma das aldeias, do concelho de Nisa, que está hoje cercada pelo fogo. Cercada mesmo. Tudo à volta já ardeu - as hortas onde brinquei, os pinhais onde ía passear, a vinha onde passei tantas férias a ver fazer vinho. Tenho uma angústia difícil de explicar. Percebo agora o que é ver parte do passado esvair-se em fumo. Estou aqui em Lisboa e sei que não vale de nada lá ir - nem se consegue passar, a estrada está fechada. Já estive em muitos incêndios - durante anos, como jornalista, fiz dezenas de reportagens destas no Verão e sei como o fogo florestal é assustador, como o barulho que faz aterroriza, como as chamas mudam de direcção sem aviso. Imagino o que sentem todos os que lá estão.
O GRUPO DOS OITO
Para falar verdade acho um bocadinho estranho o jantar dos senhores Chefes do Estado Maior do Exército. É certo que teve laivos de grande produção: montes de oportunidades para imagem, acesso facilitado a jornalistas. comunicado em forma no final. Nada foi feito para manter o encontro reservado. O ex-Grupo dos Nove~foi de uma comovente ingenuidade e amadorismo ao pé destes generais. Este encontro foi deliberadamente publicitado e organizado. Foi preparado ao pormenor. Teve o requinte de envolver um ex-Presidente da República (que se prestou a ser envolvido). Não é muito tranquilizador ter oito Chefes de Estado do Exército a conspirarem. Se somos todos iguais porque é que alguns continuam a querer ser mais iguais que os outros?
LISBOA
Regresso a Lisboa depois de 15 dias. Muitas ruas que tinham buracos têm tapetes novos de alcatrão. Alfama está a voltar ao que era antes do desvario automóvel. O Intendente começou a ser recuperado. A cidade vai ficando melhor. Contra factos não há argumentos - nem sequer o anedotário produzido a propósito da cartinha dirigida a Machado de Assis.
FRIGORÍFICO
O que é que pode ser melhor, num dia de calor, que um bom frigorífico, ainda por cima inteligente e com acesso remoto por telemóvel. Duvidam? Espreitem a última maravilha da Electrolux na Wired.

August 01, 2003

PRECAUÇÃO
Estou a jantar numa cervejaria com o meu filho, que tem 14 anos. Entram dois amigos meus que não o conhecem e apresso-me a dizer: filho fala aos senhores para não acharem que sou pedófilo. Até eu já estou a dar em doido.
BOAVISTA
O Boavista joga com o Benfica na inauguração do estádio novo e o dito está às moscas. Promete, o pós-Euro. Recordem-me quem teve esta ideia dos estádios...
LERDOS
Detesto tipos lerdos, daquele género que acham que sabem tudo e que são superiores a todos e que depois não fazem nada senão falar dos outros. Em geral detesto quem fala sem nunca ter feito. Fico cada vez mais irritado com o género.
SUMMER
Green Tea finally appeared today in Mr. Coelhos's column in «Público». Oh dear, it was great.
ESCALDANTE
Com este calor não se consegue blogar. Também, na verdade é que há pouca coisa para blogar: tirando a justiça e os vários efeitos especiais das diversas produções em curso, pouco há a dizer. A ver se refresca, que é para as ideias também melhorarem.