February 07, 2008

SOBRE A MENTIRA NA POLÍTICA
(Publicado na edição de dia 6 de Fevereiro do diário «Meia Hora»)

O «Expresso» do passado dia 26 de Janeiro tinha na primeira página uma fotografia de Correia de Campos, então ainda Ministro da Saúde, com esta legenda: «Agarrado à cadeira, Correia de Campos explica em entrevista ao Expresso que não lhe passa pela cabeça sair do Governo».

Três dias depois, a 29, soube-se que o Ministro estava de saída do Governo. O gabinete do Primeiro Ministro distribuiu uma nota onde explicava que Correia de Campos saía do Governo «a seu pedido». No sábado passado o «Sol» dizia o que era a evidência: «Ministros remodelados não queriam sair» .

Vem isto a propósito da utilização da verdade, do recurso à mentira, da ética na política.

Que me lembre o actual Primeiro-Ministro contornou a verdade em várias ocasiões: ao dizer que não aumentaria impostos antes das eleições, ao dizer (também em eleições) que submeteria o eventual novo texto regulador da Comissão Europeia a referendo, ao dizer que não admitia para o novo aeroporto outra opção que não a Ota, ao dizer que não havia recebido o estudo do LNEC quando afinal já sabia o teor geral das suas conclusões, ao dizer no início do ano que não estava à vista nenhuma remodelação. Já nem falo das trapalhadas pessoais em que se envolveu com os detalhes sórdidos da conclusão da sua licenciatura, com o facto de existirem suspeitas de que teria feito assinaturas de favor em projectos de pessoas que estavam impedidas legalmente de os fazer, na eventualidade de ter indevidamente acumulado um subsídio de exclusividade durante parte de um seu mandato como deputado. Pior: perante factos ele clama, indignado, contra o que diz ser uma campanha movida contra si.

O retrato geral que ao fim deste tempo José Sócrates proporciona é o de alguém que não se preocupa nada em quebrar uma promessa eleitoral, que prefere deturpar, esconder ou esquivar-se a determinados factos sobre a sua pessoa ou a acção do Governo. Em suma, gastou o capital de confiança e já se começa a duvidar do que diz. Como se pode agora acreditar que as reformas são para continuar, se todos os sinais vão em sentido inverso? A política não tem que ser baseada na mentira – apesar de esta ser a linha geral a que infelizmente tantos políticos – e este Governo em particular – nos tem habituado. Em política a mentira é a mãe da demagogia. E demagogia é o que não falta ao presente executivo.

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