January 24, 2008

A CULTURA, FACTOR COMPETITIVO
(Publicado no diário «Meia-Hora» de 23 de Janeiro)

O Senhor Presidente da República iniciou um roteiro sobre o Património, iniciativa obviamente louvável e interessante e muito de acordo com a linha oficial de privilegiar o património cultural existente em detrimento do fomento da criatividade. É coisa, aliás, que já vem dos tempos em que foi Primeiro Ministro e faz parte da linha de acção defendida por nomes como Vasco Graça Moura, um dos seus apoiantes.

Esta acção insere-se às mil maravilhas no discurso oficial da actual Ministra da Cultura, ela própria uma notória partidária de evitar fazer o que quer que seja de novo e canalizar energias para o que já existe.

Infelizmente esta forma de olhar para as coisas não existe só a nível do Governo. São poucas as autarquias que têm uma estratégia de política cultural virada para o futuro, são poucas as que projectam a criação de redes, de ligações nacionais e internacionais, são poucas as que estimulam o desenvolvimento da criatividade. Já nem falo do Porto, onde o edil se preocupa mais com corridas de automóveis e de aviões do que com qualquer coisa que vagamente se prenda com os malefícios das artes e da cultura. Mas seria interessante ver Lisboa preocupada com isto em vez de se concentrar em manifestações mais ou menos folclóricas e passageiras.

A revista «Time» desta semana escreve preto no branco que a principal razão das visitas turísticas a Nova York reside no desejo de aproveitar a oferta cultural local. Em cada ano, escreve a revista, 7,5 milhões de visitantes têm esse objectivo e o Metropolitan Museum Of Art recebe 4,6 milhões de visitantes por ano. Nova York é uma cidade criativa e apesar de ser a capital financeira do mundo moderno, as indústrias criativas no seu todo (comunicação, edição, produção audiovisual, artes plásticas, design, música, dança, teatro, arquitectura, moda e publicidade) são o segundo sector que mais gente emprega (logo a seguir ao sector financeir) e são o que mais contribui para a imagem externa de Nova York como um pólo de atracção. Isto não se consegue de um dia para o outro, no caso de Nova York, vem de um continuado esforço desde os anos 60. Mas é um esforço que dá frutos. Como a «Time» escreve, «os economistas defendem que as artes, tal como o bom clima e boas escolas, são um factor determinante para atrair profissionais qualificados, que por sua vez dão um local uma vantagem competitiva». Porque é que por cá se pensa tão pouco nisto?

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