January 01, 2008

ESQUINA 232 – 28 DEZ 07


A INTENÇÃO - A voz estava treinada, colocada, entoada. A imagem estava cuidada, o olhar estava bem focado, as cores bem escolhidas, a simbologia de Natal aprimorada. Ele disse que tudo estava a correr bem – só um problemazinho no desemprego, mas que depressa se irá arrumar, prometeu. Falou pouco da Europa, voltou a falar do país. E falou não de fora para dentro, mas bem direito aos portugueses, aos seus eleitores que daqui a dois anos o irão avaliar nas urnas de voto. Foi um momento emocional, um pedido de ajuda. Fez-me lembrar a excelente nova campanha da PT. Quando ouvi a mensagem de Natal do Primeiro Ministro só me lembrei de uma frase: «O que tu queres, sei eu!».


AS FOTOS - Quando olho para a nova campanha de Portugal reparo que as fotos menos más têm a ver com energias renováveis e as piores com o resto. Será que foi o olhar educado e o gosto apurado de António Mexia que escolheu as imagens energéticas e a devoção fotográfica deslumbrada de Manuel Pinho que opinou sobre as outras? Eu bem gostava de ser mosca para perceber quem criou na realidade a campanha: se os criativos da agência de publicidade, se os palpites fotográficos do Ministro e da sua entourage. Basta comparar a campanha de Portugal com a de Espanha, que também está a ser publicada na imprensa internacional, para se perceber uma diferença que é todo um episódio: a de Espanha tem um alvo claro – turistas que gostem de sol, comida mediterrânica, arte e património; a de Portugal não tem alvo – ou então tem alvos a mais, o que vai dar ao mesmo. E sem se definir bem quem se quer atingir, uma campanha publicitária não serve para nada. Isto é básico.


A TROCA - Não me parece normal que o futuro de um banco privado seja debatido na sede de uma empresa, a EDP, onde o Estado tem forte posição; também não me parece normal que um accionista ligado ao Estado patrocine o nome do Presidente do banco do Estado, a CGD, para Presidente de um banco privado; não é normal que o Banco de Portugal admita com a maior naturalidade do mundo que houve relaxe na fiscalização do Banco Comercial Português. O que aconteceu no Millennium-BCP e todos os episódios à sua volta vieram descredibilizar o sistema financeiro, as entidades reguladoras e mostraram mais uma vez este paradoxo: o Estado não interviu quando devia e como devia, através dos órgãos reguladores, e interviu quando não devia e como não devia, forçando uma solução apadrinhada pelo Governo. Sou levado a pensar que a aceitação desta solução foi a moeda de troca para que as investigações não se aprofundem demasiado.


O MUNDO AO CONTRÁRIO – O Secretário de Estado do Comércio acha que a ASAE está a ser alvo de uma campanha caluniosa. Ainda não lhe ocorreu que se calhar a culpa de tanto burburinho é da forma como a ASAE actua, da forma como comunica e, sobretudo, da forma como prefere reprimir a prevenir, como prefere intimidar a esclarecer. Quanto foi investido pela ASAE no esclarecimento junto do público dos direitos dos consumidores e do que devem exigir em matéria de higiene nos locais que frequentam?


LER – Este ano em Portugal leu-se mais, há novos jornais – o mundo dos gratuitos está a trazer novos leitores. Alguns hão-de passar a comprar outros jornais. As notícias da morte da imprensa são largamente exageradas. Os sites dos jornais estão a ficar melhores. Eu, que gosto de jornais e revistas, que comecei a trabalhar nos jornais, estou contente com este ano. Tenho mais e melhor para ler – houve mudanças que resultaram bem, outras pior, mas existe uma evolução. E, claro, nestas alturas confesso que tenho saudades do momento de planificação e do momento de fecho de uma edição.


VER – Vai ser muito engraçado seguir o que se poderá ver na televisão no próximo ano. Daqui a seis meses já teremos uma ideia como as coisas estão a evoluir e a batalha vai travar-se nos últimos quatro meses de 2008, de Setembro a Dezembro. Aí se conseguirá perceber os primeiros resultados do trabalho de Nuno Santos na SIC e nessa altura se poderá também ver como se comporta a RTP – se vai fazer continuar a fazer concorrência aos privados ou se vai aperfeiçoar a matriz de serviço público. Em qualquer dos casos o ano promete – tanto mais que a TVI irá lançar o seu primeiro canal temático no cabo.


OUVIR – É uma descoberta do fim do ano, mas é uma das belas canções dos últimos tempos, «Hey There Delilah» dos Plain White T’s, uma balada pura, uma voz envolvente, uma melodia marcada pelo dedilhar simples de uma guitarra, uma secção de cordas discreta mas marcante, um refrão que fica na cabeça, como o de todas as grandes canções de amor – sim, claro, é disso que se trata. A canção está no quarto álbum da banda, «Every Second Counts», que data de 2006.


PERGUNTANDO – Porque é que não existem restaurantes e bares só para fumadores?


PESADELO – Algumas estações de rádio teimam em dar informações de trânsito sempre iguais noticiário após noticiário. Se fosse a acreditar no que dizem pensaria que às nove da noite existem os mesmos engarrafamentos que às sete da tarde. Não será possível fazer mais actualizações, em vez de meter sempre hora após hora a mesma gravação de um porta voz da Brigada de Trânsito, que continua a ser emitida mesmo quando fica desactualizada?


BACK TO BASICS – «Não sei qual é o segredo do sucesso, mas o caminho certo para o falhanço é tentar agradar a toda a gente» - Bill Cosby.