December 26, 2007

ESQUINA 231 – 21 DEZ 07


BOM – A decisão tomada por estes dias pela Câmara Municipal de Lisboa para abandonar a instalação do Museu do Design e da Moda num palacete em Santa Catarina que não tinha o mínimo de condições para a função. Ainda bem que há bom senso e se recuou. Mas valia a pena pensar, mais uma vez, na utilização do Pavilhão de Portugal, para uma utilização expositiva, que foi o objectivo que norteou o seu projecto. E já agora, de caminho podia pensar-se em lá instalar também o Museu Berardo, deixando o CCB para a sua utilização natural. Pode ser que António Costa consiga convencer José Sócrates das vantagens que existiriam em juntar a arte contemporânea com o design e a moda num equipamento que seria um pólo de atracção. E não – pode não ser utópico mudar o Museu Berardo para o Pavilhão de Portugal – bem planeada e pensada era de longe a melhor solução para todos. Não era mau que quem tem de decidir sobre isto pensasse um bocadinho no assunto.


MAU – O Observatório Europeu da Droga e da Toxidependência e a Agência Europeia de Segurança Marítima vão ficar instaladas no Cais do Sodré, em edifícios recuperados e construídos de propósito para essa finalidade. Pormenor: os edifícios estão praticamente acabados e só agora chegou à vereação da Câmara Municipal de Lisboa o pedido de alvará para as obras. Como é que a Câmara Municipal quer ter moral para evitar obras clandestinas com exemplos destes ?


PÉSSIMO – Parece que foram gastos 100 milhões de euros para construir um túnel que deixasse os lobos passarem debaixo da auto-estrada A24. Os lobos, dizem os especialistas, não o utilizam. Eu gostava que se fizesse uma investigação sobre quem são os autores dos pareceres que levam a coisas destas - e já agora valia a pena saber se os líderes e arautos ambientalistas e conservacionistas estarão por alguma coincidência ligados a empresas de consultoria e se ganham dinheiro à custa da pressão na opinião pública que exercem – muitas vezes de forma especulativa.


O MUNDO AO CONTRÁRIO – A edição internacional da revista «Time» desta semana fala do novo Tratado europeu mas não menciona sequer Lisboa. E, numa edição dedicada a 2007, Portugal aparece referido duas vezes: por causa do rapto de Maddie e da saída de José Mourinho do Chelsea.


INDEFESOS – Parecendo que nada fez, Santos Silva lá conseguiu o que queria: a substituição integral do Conselho de Administração da RTP. Reconheça-se a maquiavélica habilidade do Ministro – todos saíram pelo seu próprio pé – uns respondendo a convites, outros por falta de condições para continuarem. Há muito que Santos Silva queria isto mesmo, só os ingénuos acreditavam nas suas palavras, ainda bem recentes, fazendo juras de amor ao trabalho realizado.


DESCOBRIR – O humor imparável de Bruno Nogueira e João Quadros, no «Tubo de Ensaio» que a TSF transmite de manhã e ao fim da tarde e que pode ser consultado também no eficaz site da estação. Observações do quotidiano, piadas improvisadas, uma forma de dizer bem pensada – tudo joga a favor daquela que é a melhor novidade do humor em Portugal neste ano que está quase a acabar.


VER – A edição mais recente da revista «Attitude», uma das melhores publicações portuguesas do ponto de vista gráfico, uma das consultas obrigatórias em matéria de arquitectura e design. Este número é uma edição especial cujo tema é «Orgulho», com o enfoque em Portugal, e bem merece ser visto com atenção.


LER – Gore Vidal é um dos meus escritores favoritos – pela forma, pelo estilo, pela maneira que tem de contar situações. Descobri-o graças a «Myra Breckinridge», uma das suas obras sobre o mundo do cinema. Deliciei-me com «A Idade do Ouro», uma viagem pelos Estados Unidos do pós guerra, até meados dos anos 50 – um livro que explica muito daquilo a que mais tarde assisti. E ando deslumbrado a ler «Navegação Ponto por Ponto», um delicioso livro de memórias que conta a vida do escritor entre 1964 e 2006 – quer dizer, não conta só a vida, vai falando do que ele pensava dos factos que ocorreram durante esses 42 anos. Para mim Gore Vidal é um dos maiores escritores americanos e hoje, com 82 anos, ele é certamente, ainda das mentes mais lúcidas a observar o mundo que nos rodeia.


OUVIR – Vale a pena a edição «The Pavarotti Story», lançada pela Decca há poucos dias. A edição inclui quatro discos. No primeiro estão algumas das árias mais célebres gravadas por Pavarotti ao longo da sua carreira; no segundo estão árias sagradas e canções populares, como «O Sole Mio», «Vivere», «Santa Lúcia luntana» ou «Volare»; o terceiro recolhe uma deliciosa entrevista ao tenor feita por Jon Tolansky; o quarto inclui o primeiro disco de Pavarotti ( de 1964) com árias da Bohème, Tosca e Rigoletto e ainda duetos com nomes como Frank Sinatra («My Way»), José Carreras («Nessun Dorma!») e Bono, Brian Eno e The Edge («Miss Saravejo») A caixa onde estão os discos inclui ainda dois livrinhos, um sobre a vida de Pavarotti (e o conteúdo dos discos) e outro sobre a sua discografia integral, com reprodução de todas as capas e alinhamentos.


IR – Um dos melhores músicos portugueses, Rodrigo Leão, apresenta ao vivo «Os Portugueses», a banda sonora que criou para a série documental «Portugal, Um Retrato Social» (de António Barreto e Joana Pontes), no Jardim de Inverno do Teatro de S.Luis, hoje, amanhã sábado 22 e de dia 26 a 29 inclusive, sempre às 19h00. Imperdível.


BACK TO BASICS – A vida nada mais é do que uma longa lição sobre humildade, James Barrie.