November 29, 2007

ONDE ESTÃO OS RESPONSÀVEIS PELAS
ILEGALIDADES DO FISCO?
(Publicado no diário «Meia Hora» em 28 Nov)

Na quinta feira da semana passada foi tornado público um estudo da Provedoria de Justiça, que incidiu sobre o funcionamento da Direcção Geral de Contribuições e Impostos. O estudo revelou abusos no congelamento de contas bancárias em resultado de penhoras fiscais, descobriu penhoras de vencimentos e ordenados que ultrapassam os limites previstos na lei, verificou erros nos juros de mora, constatou cativação de reembolsos de IRS sem que estejam esgotados os meios de defesa dos contribuintes, detectou penhoras realizadas depois de ultrapassados os prazos de prescrição, em resumo, falta sistemática de respeito pelo direito de defesa dos contribuintes, abuso de autoridade e actuações ilegais.

Quando um órgão como a Provedoria faz um estudo sobre um serviço do Estado, emite recomendações e chega a conclusões como estas, alguém tem de assumir a responsabilidade política pelo sucedido, alguém tem que se declarar culpado das ilegalidades cometidas e, mais importante, alguém tem de pôr mãos à obra na resolução dos erros e ilegalidades. O natural seria que o Ministro das Finanças e o Secretário de Estado da Administração Fiscal tivessem a coragem e a dignidade de assumirem o que está mal e de ordenarem a revisão de processos de funcionamento. E natural seria que, perante matéria que coloca em causa direitos dos cidadãos, o próprio Primeiro Ministro se empenhasse no assunto.

Como nada disto se passou, espera-se que o Presidente da República esclareça se está empenhado em defender os direitos dos cidadãos ou se pactua com as situações averiguadas pela Provedoria. Espera-se que, no Parlamento, os deputados defendam os contribuintes que lhes pagam e chamem à pedra os responsáveis de abusos.

Da maneira como as coisas vão, parece que a culpa vai mais uma vez ficar sozinha, no meio da rua. Tenho uma sugestão: chamem brigadas da ASAE e levem-nas, com o folclore de coletes anti-balas, metralhadoras e máscaras, tudo filmado para as televisões, a uma acção de fiscalização rigorosa à Direcção Geral de Contribuições e Impostos.

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November 26, 2007

MAU – A «Visão» relatou que um músico do grupo de violinistas Corvos foi atropelado por um condutor que se pôs em fuga. O condutor, sabe-se agora, era um polícia cujo carro não tinha nem seguro válido nem revisão periódica efectuada. Acham mesmo que se pode confiar na polícia com agentes destes no activo?


PÉSSIMO – Nas últimas semanas abundam as notícias de polícias e ex polícias implicados em associações criminosas. A imprensa relata nomes e conta situações. Confirmam-se as conexões entre elementos com ligações às forças policiais e o crime organizado, a um nível até superior ao que se imaginava. E dos responsáveis não se ouve sequer um pio.

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O MUNDO AO CONTRÁRIO – O arquitecto Manuel Salgado foi conselheiro da Expo, a entidade que promoveu a construção da muito vistosa mas incómoda e desoladora Gare do Oriente; foi também desenhador de alguns aspectos do CCB; agora, como vereador da Câmara de Lisboa, vem dizer, a propósito de grandes obras, que não quer mais megalomanias em Lisboa. É de mim ou há aqui qualquer coisa estranha?


INDEFESOS – O problema não está em a Direcção Geral de Contribuições e Impostos cobrar as dívidas fiscais; o problema está quando o faz ao arrepio dos direitos dos cidadãos, quando erra e não admite o erro, quando torna norma a prepotência. O Estado está em vias de assumir o comportamento dos senhores feudais na cobrança de impostos.


PESADELO – Sócrates arrisca-se a ficar na História por tornar Portugal um albergue de figuras que atropelam a democracia nos respectivos países, como Robert Mugabe e Hugo Chávez. Não há tratados de Lisboa que tapem a queda do Primeiro Ministro pelos líderes autoritários. Uma projecção de si próprio?


INACREDITÁVEL – A jornalista da RTP Judite de Sousa entrevistou o ainda presidente da empresa sobre a sua carreira como gestor num programa do primeiro canal do operador de serviço público. É de mim, ou isto ultrapassa um bocadinho o limite do bom senso?


EXTRAORDINÁRIO – Scolari fez carreira a baixar as expectativas. Se recordarem o que diz antes de cada encontro, o que ele faz é mesmo isso – é sempre colocar a fasquia mais para baixo. Nunca hei-de entender como há quem ache que ele é um motivador. Cá para mim é milagre que Portugal, com um método destes e tão mau futebol jogado, se tenha conseguido apurar. Scolari é o treinador que não aposta na vitória, nem no primeiro lugar, apenas no ir andando.

DESCOBRIR – A boa rádio é assim: sempre que posso ouço os «Três minutos de ciência» que de uma forma coloquial e descomplicada Nuno Crato oferece de 2ªa a 6ª na Europa Lisboa, com emissões às 12h40, 15h40 e 19h40. Esta bela rádio, essencialmente dedicada ao jazz, pode ser ouvida em 90.4 FM, em www.radioeuropa.fm ou na opção de rádio da powerbox da TV Cabo.

PETISCAR – O «Café de S. Bento» tem agora uma sala no primeiro andar. A escada é íngreme mas uma mesa – com vista para o Parlamento – compensa o esforço. E, sobretudo a qualidade do bife e a excelência das batatas fritas são factos incontornáveis. Os empregados, honestamente, dizem que o meio bife é quantidade que chega e têm razão. Experimente-o grelhado e mal passado e verá a excelência da matéria prima. Rua de S. Bento 212, tel. 213952911.


LER – A edição de Novembro da revista «Wired» que tem por tema de capa a Manga japonesa com um belo artigo sobre a indústria de banda desenhada entretanto criada. Outro artigo a ler é sobre as melhores teorias de conspirações desenvolvidas nos últimos anos.


VER – A exposição «Desenhar o Desenho», patente desde esta semana na Galeria Baginski em Lisboa. Daniel Barroca, Paulo Brighenti, Carlos Bunga, Miguel Palma e os intrigantes e sedutores Carlos Correia e Cecília Costa mostram trabalhos inesperados. Até 18 de Janeiro, Rua da Imprensa Nacional 41, cv esq, de terça a sábado entre as 13h30 e as 19h30.


OUVIR – A soprano Anna Netrebko, a meia-soprano Elina Garanca, o tenor Ramon Vargas e o barítono Ludovico Tézier juntaram-se em Agosto passado na cidade de Baden Baden para um recital com árias célebres de algumas óperas italianas e francesas, A direcção do projecto – e da orquestra – foi de Marco Armilato. De Verdi a Bizet, passando por Donizetti ou Puccini, o recital foi magnífico. A Deustche Grammophon gravou-o e editou-o agora no CD «The Opera Gala». Distribuição Universal Music



PERGUNTANDO… Será mesmo verdade que Mário Lino foi o último a saber da nomeação de Almerindo Marques para as Estradas de Portugal? E será que se pode acreditar que Santos Silva estava a trabalhar na recondução do Presidente do CA da RTP, mas só o disse depois de se saber da sua passagem para as rodovias?


BACK TO BASICS – Um erro em política tem preços diferentes conforme quem o pratica – anónimo, a propósito do reconhecimento das inconsistências dos documentos que serviram de pretexto à invasão do Iraque, feito esta semana por Durão Barroso.

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A PREPOTÊNCIA DO FISCO


Este é um caso verídico, mas vou omitir nomes. Chamemos-lhe M. Pois M desesperava por, este ano, não receber informação da restituição de IRS. Trabalhador por conta de outrem, M paga por uma das tabelas mais altas e, com filhos a estudar, despesas de saúde e empréstimo de casa própria, normalmente tem sempre restituição. Digamos que é um forte contribuinte que ainda por cima financia os cofres do Estado e que nunca recebeu juros do dinheiro que adianta. Entrega regularmente a sua declaração, embora às vezes com um pequeno atraso, mas como lhe descontam tudo à cabeça, é um contribuinte genericamente cumpridor.

Foi à Internet e descobriu que «tinha o reembolso pendente da regularização de dívidas». Procurou descobrir que dívidas eram essas e apareceu-lhe uma frase singela: «Por motivos de ordem técnica não é possível satisfazer o seu pedido neste momento. Tente mais tarde».

Um pouco angustiado, foi à sua repartição de finanças onde descobriu que se encontrava em risco de ser penhorado, por duas dívidas, uma de três dezenas de euros e outra por cerca de 160 euros – contribuições autárquicas e de esgotos e semelhantes que por qualquer razão na altura não liquidou. Tratou de pagar o que devia, não sem antes estranhar que estivesse em vias de ir para penhora sem ter recebido qualquer comunicação. Na repartição de finanças foram muito simpáticos mas disseram-lhe que «agora é assim».

Mas, disseram-lhe, havia outra dívida por pagar, referente ao IMI, no valor de cerca de 600 euros. Argumentou que tinha enviado um email a questionar essa dívida, já que era de igual montante e referente a igual período, do IMI do mesmo imóvel e que havia pago exactamente a quantia devida, estranhando a duplicação. Os funcionários das finanças disseram-lhe, muito simpáticos, que infelizmente havia falas na respostas a dúvidas dos contribuintes por email, mas que o melhor seria pagar sob pena de ir também para penhora. Talvez depois quisesse reclamar formalmente, mas a reclamação, disseram-lhe, podia comprometer o prazo da restituição.

Registo que neste fim de semana, o Primeiro Ministro, sobre a actuação do fisco, garantiu «que o Governo vai manter a determinação e exigência e não aplicar qualquer moderação no combate à fraude e evasão fiscal».

E Manuela Ferreira Leite, escrevia esta semana, no «Expresso», que existe «um desiquilíbrio na defesa do contribuinte: começa a confundir-se rigor com abuso, eficácia com prepotência e equidade com gula por receita».

Quem defende os contribuintes? Estarmos vivos, trabalharmos e descontarmos começa a ser um perigo.

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November 19, 2007

BOM – A mais recente edição da revista «Atlântico» tem sobejos motivos de leitura: um texto programático de José Miguel Júdice sobre a política portuguesa; uma deliciosa análise de Gunter Grass por Vasco Pulido Valente, uma entrevista a Paul Auster por Pedro Mexia (que bom qunado o entrevistador sabe do que fala…) e, sobretudo, mais um magnífico artigo de Rui Ramos sobre a História de Portugal, desta feita sobre as invasões francesas, há 200 anos, e os seus efeitos ao longo do tempo.


MAU – Os atropelamentos sucedem-se porque os radares de velocidade estão nas vias rápidas em, vez de estarem em zonas residenciais. Se a Polícia Municipal servisse para alguma coisa estaria a controlar o que se passa em pleno centro da cidade em vez de locais onde nem há passadeiras de peões. Alguém já experimentou controlar a velocidade bem no centro de Lisboa, como na Avenida Miguel Torga, em Campolide?


PÉSSIMO – Hugo Chavez está a um passo de fazer aprovar uma Constituição que consagra a expropriação da propriedade privada e lhe permitirá continuar indefinidamente a ser Presidente da Venezuela. O pai, Hugo de Los Reys Chavez, é governador do Estado de Barinas (de onde a família é originária); mas como a idade avançada já lhe provoca limitações, foi criado especialmente o cargo de secretário de Estado do Governador (que não existe em mais nenhuma provícia da Venezuela) para Argenis Chavez, um dos irmãos do Presidente. Outro irmão, Anibal Chavez é Presidente da Câmara de Sabanita, a terra natal do clã. E um outro irmão, Adan Chavez, é o ministro da Educação responsável pelas recentes e bizarras imposições de programas escolares «revolucionários». Agora o melhor: na semana passada, ao mesmo tempo que o Primeiro Ministro e o Rei de Espanha criticavam publicamente o ocupante da presidência venezuelana, o Primeiro Ministro José Sócrates convidou Hugo Chavez para visitar oficialmente Portugal já nos próximos dias. Diz-me com quem andas…


O MUNDO AO CONTRÁRIO – Confrontada com o encerramento de salas nos principais museus portugueses por falta de guardas e falta de verba, a Ministra da Cultura, que tutela aos museus, teve por reacção dizer alto e bom som que a culpa não era dela, mas sim do Presidente do Instituto dos Museus, a quem há bem pouco tempo elogiava com fartura, quando se tratou de afastar umas pessoas e promover outras.


INDEFESOS – A sucessão de acidentes das últimas semanas mostra uma coisa: o Estado está mais interessado em reprimir do que em prevenir, uma velha distorção da sociedade portuguesa, muito mais dada a passar multas do que em resolver a causa dos problemas ou prevenir o seu surgimento. Alguma razão há-de haver para tanto acidente com veículos pesados nos últimos dias e isso é que era bom perceber.


PETISCAR – Bom almoço, boa conversa, uma vista larga sobre Lisboa e uma bela proposta: cannelonni de lagosta com vieiras de um lado, e risotto de ostras do outro. Vinho Loridos branco, a copo. Serviço médio, qualidade da comida muito boa, preços razoáveis para os pratos e vinho em causa. A coisa passa-se no restaurante do El Corte Inglês, no sétimo andar. Telefone 213711724. Uma descoberta.


LER – «As Mulheres de Meu Pai». de José Eduardo Agualusa, saíu há uns meses mas só agora o li. Fiquei conquistado pela forma magnífica da escrita, mas sobretudo pela história em si: a vida de um músico africano entre Luanda e a Ilha de Moçambique, cujo percurso e episódios de vida são revisitados pela filha Laurentina (o nome da marca de uma cerveja angolana), que tenta construir um documentário sobre o pai, Faustino Manso. No fim o livro ganha uma pujança ainda maior, fica com uma escrita ainda mais cinematográfica – quase com anotações de direcção. Fascinante.


OUVIR – Herbie Hancock nasceu em Chicago em 1940 e tornou-se notado como um dos grandes pianistas do jazz logo nos anos 60. Aos 23 anos foi convidado por Miles Davis para o seu quinteto. Em finais dos anos 60 escreveu a banda sonora de «Blow Up» de Michelangelo Antonioni. Agora, com 67 anos, Hancock atirou-se ao repertório de uma das grandes folk singers norte-americanas, Joni Mitchell. O seu novo disco chama-se «River- The Joni Letters» , e para além da própria Mitchell, conta com participações de Norah Jones, Corinne Bailey Era (porventura a melhor interpretação vocal do disco, precisamente em «River»), Tina Turner , Luciana Souza e Leonard Cohen. Pelo meio fica uma versão de «Nefertiti», um tema de Wayne Shorter, do tempo em que ambos tocavam com Miles Davis. CD Verve, Universal Music.


VER – A exposição «Planos», de Pedro Calapez, na galeria Lisboa 20, Rua Tenente Ferreira Durão 18-B, em Campo de Ourique. Obras a três dimensões, com recurso a volumes e formas que evocam esculturas e instalações e se cruzam com a pintura. Inesperado e sedutor.


BACK TO BASICS – Alguns políticos, como Santana Lopes, são como os gatos: têm sete vidas; não vale a pena é tentarem esgotá-las todas em rápida sucessão.

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November 15, 2007

O ESTADO CONTRA OS CIDADÃOS
(publicado quarta-feira 14 no diário «Meia Hora»)

Uma das coisas mais intrigantes destes tempos é a forma como o Estado aproveita todas as oportunidades para extorquir cada vez mais dinheiro aos cidadãos, sob o pretexto da necessidade de pagamento de certos serviços.

Percamos um pouco de tempo com uma questão básica: os impostos que o Estado cobra são supostos garantir o funcionamento de serviços públicos de inquestionável utilidade social. Ou seja, a receita arrecadada pelo Estado devia garantir questões como a saúde, a educação, serviços de urgência e segurança e a criação de infra estruturas. Na realidade os cidadãos em geral já pagam diversos impostos, directos e indirectos, já descontam para a segurança social, já pagam imposto de circulação, impostos sobre combustíveis, um IVA elevadíssimo em termos europeus, taxas municipais variadas, desde esgotos a saneamento, taxas incorporadas nas facturas de água e de electricidade, etc, etc.

Na semana passada descobriu-se, de repente, que a Força Aérea cobrava por acções de urgência a pescadores portugueses no mar. No orçamento de Estado verifica-se que as Estradas de Portugal vão passar a ter umas receitas próprias que se traduzem em mais uma taxazita a pagar pelos utilizadores. Nos hospitais públicos a lista de casos em que há taxas a pagar vai aumentando. Por este andar qualquer dia é preciso pagar para fazer uma queixa na polícia ou pela utilização do 112.

Ou seja, está completamente subvertido o princípio de que os cidadãos pagam impostos para que o Estado lhes assegure determinados serviços públicos (aliás em número cada vez mais reduzido). E o mais estranho é que não só pagamos cada vez mais impostos, como a administração fiscal é cada vez mais prepotente na forma como trata os contribuintes.

Nós, cidadãos, somos simultaneamente clientes e accionistas do Estado, que nos trata mal quer numa, quer noutra das circunstâncias. Nenhum dos dois partidos que rodam o poder entre si, PS e PSD, está minimamente interessado nos cidadãos, a não ser em vésperas de eleições. E, nessa altura, fazem apenas promessas que depois não cumprem. Não era nada mau que existisse um partido dos contribuintes, como sucede em alguns outros países europeus.

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November 12, 2007

BOM - A criação de uma estrutura, na Fundação de Serralves, que vai servir de incubadora a negócios na área da criatividade (da fotografia à arquitectura passando por produção de conteúdos). A Fundação disponibiliza um open space totalmente equipado que receberá até 12 áreas de trabalho distintas, com um preço de aluguer de 12 euros por metro quadrado de ocupação. O INSerralves, assim se chama o projecto, ajudará os participantes na montagem de planos de negócio, na avaliação do potencial comercial e estabelecimento de parcerias. Em www.serralves.pt estão todos os pormenores.


MAU – A Ministra da Educação. O Ministério da Educação. Os membros do Governo na área da Educação. Os planos e propostas fomentados pela Ministra da Educação.


PÉSSIMO – O que se está a passar na Agência Lusa, a agência noticiosa portuguesa, começa a ser um escândalo. A actuação do seu actual Director de Informação, Luís Miguel Viana, tem afastado do activo profissionais experientes e existem acusações recorrentes, desde que assumiu o lugar, de tentativa de controlo da informação veiculada pela agência – suposta ser imparcial, completa, factual, não descriminatória. No mais recente caso foi afastado o Chefe de Redacção, até à data ainda não lhe foi distribuído qualquer trabalho jornalístico, e em comunicado o Conselho de Redacção afirmou que o Director de Informação dizia que a resolução desta situação estaria dependente de uma conversa entre o referido ex-Chefe de Redacção e o Presidente do Conselho de Administração da empresa, uma situação pelo menos caricata face ao que a Lei determina serem as competências de um Director de Informação.


O MUNDO AO CONTRÁRIO – Eu julgava que se a classe média folgasse um pouco isso poderia ajudar a economia a crescer e o país a melhorar. É engano meu – única explicação possível para este Orçamento de Estado ser em termos fiscais especialmente penalizador precisamente para a classe média, que qualquer dia vai ser espécie em vias de extinção.


DESCOBRIR – Há um programa de rádio, na TSF, que é verdadeiramente exemplar. Chama-se «Mais Cedo ou Mais Tarde», de segunda a sexta, das 14h00 às 16h30. O seu autor é João Paulo Meneses e todos os dias encontra três temas interessantes, a maioria baseados em actividades de ilustres desconhecidos, que têm um interesse prático para a sociedade. Aqui está um bom exemplo de um efectivo serviço público prestado por um órgão de comunicação social privado. No blog www.maiscedo.blogspot.com pode seguir os temas que são abordados dia a dia.


PROVAR – A Wine O’ Clock é uma cadeia de lojas de vinho, nascida em Matosinhos, que no mês passado se expandiu para Aveiro e que este fim de semana chega a Lisboa, à Rua Joshua Benoliel 2B, às Amoreiras. A casa construiu reputação de ter uma boa selecção de vinhos (portugueses e estrangeiros), a preços comedidos. Além disso organiza provas, que permitem aos clientes ir descobrindo o que por aí existe. Se quiserem mais informações vão a www.wineoclock.com.pt .


LER – Escolher bem um livro para alguém é um enorme acto de ternura. Por isso aqui confesso que fiquei enternecido quando me deram «Toutes Les Télés Du Monde», uma edição feita em parceria entre o canal fraco-alemão Arte e a editora Seuil, baseado no trabalho feito por um magazine semanal daquele canal, da responsabilidade de Vladimir Donn, que também assina o livro. É uma deliciosa viagem a esse universo aliciante, em permanente mudança que é o da televisão. O livro seria bem útil a algumas pessoas que por aí falam do assunto com pouco conhecimento de causa. E, a mim, deu-me muito gozo.


OUVIR – Os concertos de piano nºs 2 e 5 de Saint-Saens na interpretação do pianista francês Jean-Yves Thibaudet, com a Orquestra da Suiça Romanda, dirigida por Charles Dutoit. Thibaudet, considerado um dos maiores nomes contemporâneos do piano, faz uma notável interpretação desta música saída da belle-epoque, do mesmo autor da ópera «Sansão e Dalila».


VER – Até segunda feira à noite, inclusive, pode visitar a Arte Lisboa, na FIL, este ano com a presença de 60 galerias nacionais e estrangeiras. O horário é das 16h00 às 23h00. Este ano algumas das boas Galerias de Lisboa fizeram coincidir novas exposições com a Feira, criando assim um circuito complementar que permite aumentar a oferta neste fim de semana – é o que acontece por exemplo na Galeria Luís Serpa Projectos Rua Tenente Raul Cascais 1-B, ao Rato) onde está patente uma curiosa exposição de pintura, desenho e escultura intitulada «Foreign Policy» com obras de Diann Bauer, Matt Franks e Andrea Medjesi-Jones.



PERGUNTANDO… Será verdade que existe um grande corropio nas candidaturas às dezenas de conselhos de administração de empresas públicas e afins que terminam mandatos no fim deste ano? Aqui está uma oportunidade para ver como funciona a relação entre os boys e os jobs…


BACK TO BASICS – « É muito perigoso querer ter razão quando o Governo está errado»- Voltaire.

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November 08, 2007

A Cultura é cara?
(Publicado no diário «Meia Hora» do dia 7 de Novembro)

«Quanto Custa a Cultura?» é o tema de um ciclo de conferências organizado em conjunto pela Reitoria da Universidade do Porto e pela Casa-Museu Abel Salazar, todas as terças feiras ao fim da tarde até 4 de Dezembro. As conferências já realizadas têm títulos sugestivos: « A ignorância é barata?»; «A cultura e o dinheiro»; «A cultura é cara?».

Os parcos relatos dos jornais sobre esta iniciativa mostram como é importante debater sem problemas esta questão, assim como algumas outras que nas próximas semanas serão abordadas – nomeadamente a relação entre a Cultura e a política e como organizar a Cultura. Eu por mim espero que no final deste ciclo de conferências haja alguma forma de revisitar as conversas (não haverá maneira de colocar um podcast?). Era importante fazer a memória de algumas intervenções, até porque é cada vez mais importante levar os principais partidos políticos a tomarem uma posição sobre o que entendem dever ser a política cultural. Os ocupantes do bloco central fogem de debater estas questões no concreto – com temas como os que este ciclo de conferências arriscou – e preferem refugiar-se em banalidades e lugares comuns. A cultura é um território político que se assemelha a uma feira de vaidades com muita prosápia e pouca discussão séria.

Eu por mim tenho curiosidade em ver como Luís Filipe Menezes irá, no âmbito da anunciada revisão do programa do PSD, abordar esta questão. A curiosidade tem razões: nos últimos anos Gaia tem servido de refúgio para os exilados culturais do terrível consulado de Rui Rio, no Porto. Mário Dorminsky, o homem que criou o Fantasporto, é o vereador da Cultura de Menezes e a actividade do município de Gaia nesta área tem dado nas vistas. Até insuspeitas figuras como o jornalista Baptista Bastos aparecem a elogiar o perfil de Menezes nesta matéria, dizendo que ele «apoiou as artes e a cultura, e não caiu na tentação da intolerância e do ostracismo políticos».

Por uma vez podia ser que um líder partidário aceitasse trazer o assunto à discussão, que o elencasse entre as matérias a debater, entre as questões para as quais vale a pena elaborar uma estratégia. E mostrasse que a política cultural não é monopólio da esquerda.

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November 04, 2007

MAU – O polémico filme «Fados» de Carlos Saura fez apenas cerca de 20.000 espectadores nas suas duas primeiras semanas de exibição, segundo dados do ICAM. Da primeira para a segunda semana perdeu mais de metade dos espectadores (pelos vistos ninguém entusiasmou os amigos a irem ver o filme), e reduziu a exibição dos 14 écrans iniciais para dez. Para uma coisa que se queria um popularizador do fado…. Estamos conversados.


PÉSSIMO – Não há na Comunidade Europeia nenhum Tratado de Dublin, mas no entanto na Irlanda vive-se melhor que em Portugal; não há na Comunidade Europeia nenhuma Estratégia de Madrid, mas no entanto em Espanha a economia está em boa forma, os impostos são mais baixos e o deficit não é um problema – os Espanhóis trataram foi de criar uma estratégia para Espanha e conseguiram. Por cá temos uma Estratégia e um Tratado de Lisboa que são a prova de que os nossos governantes se importam mais em brincar a criar símbolos, do que em resolver os problemas do país.


O MUNDO AO CONTRÁRIO – Sábado recebo em casa uma chamada de uma operadora de telemarketing que se identifica como sendo da Deco (Associação de Defesa dos Consumidores), propondo novos serviços. Pergunto-lhe se não acha estranho que uma Associação de Defesa do Consumidor esteja a fazer telemarketing, importunando ao telefone pessoas que não lhe deram autorização para ligar. Diz-me que não. E insiste em querer vender alguma coisa.


INDEFESOS – O Governo vai avançar com uma revisão legislativa que vai permitir que os serviços secretos façam escutas telefónicas. A coisa promete…


PESADELO – No entretanto soube-se que as polícias contratam detectivos privados para fazerem escutas ilegais. Não, não é rumor, foi dito no Parlamento pelo Procurador Geral da República.


VER – Vale a pena ir ver (até 10 de Novembro) os trabalhos recentes de Pedro Zamith, expostos na Galeria Arqué, em Lisboa. Sob o título «Zoollywood», Zamith revê ícones e memórias de instantes do cinema numa aproximação que parte do universo da Banda Desenhada para formular interpretações pessoalíssimas das das imagens originais que aqui são evocadas e recriadas. A aproximação à banda desenhada é natural – Pedro Zamith tem três livros de BD publicados e esta é a sua quinta exposição individual. Galeria Arque, Avenida Miguel Bombarda 120 A, das 12 às 20h00 de segunda a sábado.


PETISCAR – Os bares dos bons hotéis são um bom sítio para petiscos fora de horas. E, um dos melhores, é o «Le Ganesh», do Méridien de Lisboa, na Rua Castilho. Ao almoço há alguns bons pratos portugueses como sugestões do dia, ao fim da tarde e à noite a oferta de boas e imaginativas sanduíches. É uma alternativa simpática e muito confortável à rotina das tostas mistas e pregos de outros locais, a preços razoáveis.


LER – Peter Ackroyd é um escritor inglês que se tem notabilizado pelas suas biografias e que antes se tinha feito notar pela sua colaboração na revista «The Spectator». A mais recente das suas obras é uma invulgar biografia em que o sujeito é o rio Tamisa. Dickens, a cidade de Londres, Blake e Thomas More foram temas de outras biografias que escreveu. Baseado numa investigação minuciosa e portador de um estilo cativante, Ackroyd escreveu em 2005 uma biografia de Shakespeare que nos leva dentro da vida na Inglaterra do século XVI, relatando o dia a dia, desde as origens em Stratford-upon-Avion até Londres, as companhias de teatro, os problemas pessoais, as cenas do quotidiano. Escrita quase em tom de romance de aventuras, esta biografia é irresistível. A tradução, muito boa, é de Telma Costa e a edição é da Teorema.


OUVIR – Este ano assinala-se o 50ºaniversário da estreia de «West Side Story» e a Deutsche Grammophon resolveu fazer uma edição especial da obra. Esta edição inclui a versão integral da histórica gravação de 1984 em que o autor , Leonard Bernstein, dirige Kiri Te Nanawa, José Carreras, Tatiana Troyanos, Kurt Ollmann e Marilyn Horne. A mesma edição inclui ainda um DVD com o making of da gravação do disco. Podemos ver no DVD momentos dos ensaios e depoimentos dos vários participantes. A edição inclui ainda um pequeno livro com a cronologia e a história de «West Side Story», assim como abundante material fotográfico. A não perder.


DESCOBRIR – Uma boa novidade da blogosfera, o novo blogue de Pedro Lomba e Pedro Mexia, acessível em www.ogattopardo.blogspot.com que tem a decorrer uma bela sondagem sobre o Tratado de Lisboa. Vão lá, vejam e votem. E leiam o blogue com atenção, que vale bem a pena.



BACK TO BASICS – Tentar perceber o que se passa no mundo apenas ouvindo os noticiários da televisão é como querer saber as horas num relógio só com um ponteiro.
ARTE
(publicado no diário «Meia Hora» de dia 31 de Outubro)

Na semana passada abriu na Fundação de Serralves, no Porto, uma exposição sobre a obra do artista norte-americano Robert Rauschenberg, mais precisamente sobre o seu trabalho na década de 70. A imprensa tem publicado imagens das peças em exposição e aposto que algumas dessas imagens terão surpreendido muita gente.

A imagem mais divulgada foi de uma obra de 1973, feita à base de um velho triciclo. Sou capaz de imaginar que não poucas pessoas terão olhado para a fotografia e pensado: «mas porque é que isto é arte?».

Esta pergunta – que surge tantas vezes perante arte contemporânea – é um dos maiores desafios que a criação artística coloca. E este desafio tem a ver com o facto de o exercício da criatividade – e da criação artística em particular – ter por objectivo fazer pensar, confrontar as pessoas com dúvidas, inquietações e interrogações – e, também, incomodidades. A obras de arte não são consensuais – a polémica tem convivido com a Arte ao longo de toda a história da Humanidade e os grandes momentos de ruptura - e de avanço - foram sempre muito polémicos.

Rauschenberg é considerado um dos grandes nomes da arte contemporânea e a sua obra desde cedo fez cruzar a pintura com a escultura, a fotografia e a gravura, ao mesmo tempo que foi utilizando materiais não tradicionais. Com outro norte-americano, Jasper John, desbravou os caminhos que anos mais tarde levariam Andy Warhol, e outros, à pop art. Robert Rauschenberg tem aquilo que torna importante um artista: é um experimentador nato, que combina a criatividade com a provocação, que gosta de cruzar territórios aparentemente em rota de colisão. Não foi por acaso que os Talking Heads lhe pediram para desenhar a capa da edição limitada do álbum «Speaking In Tongues» , de 1983.

Voltemos a Serralves, onde esta exposição vai ficar até 30 de Março: a Fundação tem sido habilmente provocadora e eficazmente atraente – a prová-lo estão os números dos visitantes das suas exposições. Serralves é a prova de que as pessoas gostam de descobrir aquilo que, à primeira vista, podem não compreender. Basta darem-lhes oportunidade para isso.