April 23, 2006

OS POLÍTICOS


Laxismo, demagogia e tráfico de influências são as principais características dos políticos portugueses e o Parlamento é o espelho de todos os seus vícios. Na semana passada o laxismo ficou à vista, com o escandaloso número de ausências em ante-véspera de um feriado. Mas mais sério ainda é a demagogia que varre todas as bancadas e que se traduz, hoje em dia, numa acção governativa feita de muitas palavras e de poucas acções e numa oposição que notoriamente não sabe sequer porque defende hoje uma coisa e amanhã outra.

Porventura o mais grave de tudo é o permanente tráfico de influências, que une adversários políticos e que se passeia impunemente pelos corredores da Assembleia da República e dos ministérios. Já se tornou lugar comum ver líderes e figuras proeminentes de escritórios de advogados especializados em direito comercial, misturando os interesses dos seus clientes com o cargo para que foram eleitos. Numa teia de incompatibilidades aparentemente muito rígida, os juristas – tradicionalmente o grupo profissional de onde provém a maioria dos deputados – conseguiu excepcionar e arranjar artimanhas para que impunemente pudessem continuar em dois ofícios que não são bem complementares: defender o interesse público dos cidadãos eleitores e defender os interesses comerciais de clientes. Os exemplos são numerosos, basta folhear jornais e ver quem representa quem, quem está na assembleia e lidera sociedades de advogados. Tem-se a sensação de que, para muitos, a passagem pela Assembleia e pela política é apenas um meio para atingir fins estritamente pessoais. A concubinagem entre parlamentares e interesses particulares tem aumentado e é uma maldição que, verdade seja dita, assola particularmente o centralão que nos governa. O Parlamento deixou há muito de ser uma referência. Passou a ser um expediente.
NOVIDADE – A Time Warner e Michael Eisner, o ex-Presidente da Disney, estão entre os novos accionistas da Veoh Networks, uma companhia que, nas palavras de Eisner, vai revolucionar a televisão ao desenvolver uma tecnologia que aproveita a Internet para permitir que cada entidade, seja um cidadão sozinho ou uma companhia de media, possa criar o seu próprio canal de televisão. No passado, diz Eisner, distribuir programas de televisão exigia uma enorme infraestrutura de distribuição e a Veoh vai possibilitar que qualquer pessoa com uma ligação à Internet possa receber e distribuir programas com a melhor qualidade de imagem e som. A Veoh permite a distribuição de televisão de alta definição e agiliza a interactividade entre o emissor e o receptor. Ou muito me engano ou aqui está uma coisa a seguir com atenção.


VER – «Em Foco - Fotógrafos Portugueses do Pós-guerra», a exposição de fotografias, comissariada por Miguel Amado e que reúne obras de 12 fotógrafos portugueses que começaram a sua actividade nos anos 40. Integram a belíssima colecção do escritório de advogados PLMJ (ver, a propósito, o livro baseado nesta colecção editado pela Assírio & Alvim). Destaque para Fernando Lemos, António Sena da Silva, Augusto Cabrita, Eduardo Gageiro, Vítor Palla e Gérard Castello Lopes. A não perder no Museu da Cidade, Campo Grande, Lisboa, até 28 de Maio.


OUVIR – O piano é dos instrumentos que mais me fascinam e Mário Laginha é dos pianistas que mais gosto de ouvir – no caso dele vale a pena também usar a palavra «ver» - porque é muito bonito vê-lo a tocar, perceber como ele sente fisicamente a música. Hoje em dia é relativamente raro existir a oportunidade de se poder ouvir Mário Laginha a solo e este disco vem resolver esse problema. Ele sozinho com o seu piano e a sua música, 12 temas próprios, íntimos mas intensos. Este é daqueles discos que apetece ouvir vezes sem fim, companhia perfeita para qualquer noite em que o pensamento está com vontade de fugir. A gravação foi feita em Dezembro de 2005 no Teatro Micaelense, em Ponta Delgada. «Canções & Fugas», Mário Laginha, editado e distribuído por Universal Music Portugal.


LER – Santi Santamaria é um dos cozinheiros que nos últimos anos mais se tem destacado pela forma como trabalha com base nas tradições gastronómicas da Catalunha. Em 1981 inaugurou perto de Barcelona, em Sant Celoni, no Parque Natural de Montseny, o restaurante que lhe deu nome e que ainda hoje é uma referência, o Can Fabes, e em 1990 lançou o restaurante Santceloni (Hotel Hesperia, Paseo de la Castellana 57, Madrid), em ambos os casos sendo de imediato distinguido pelos Guias Michelin, que na edição de 2005 consideraram o Can Fabes como o melhor restaurante de Espanha. Desde 2001tem escrito com regularidade para o jornal «La Vanguardia», de Barcelona. Algumas das suas melhores crónicas foram agora reunidas em livro e mostram uma forma diferente de escrever sobre cozinha e a arte da mesa. Em textos curtos (duas páginas cada) abordam-se, de uma forma singular e divertida, temas que vão desde a forma de escolher vinhos até à comida dos aviões, passando por almoços de negócios. De certa forma as crónicas de costumes cruzam-se com sugestões gastronómicas e com dicas para receitas e formas de trabalhar determinados ingredientes. Perfeitamente delicioso, no verdadeiro sentido da palavra. «Palabra de Cocinero», de Santi Santamaria, ediciones Península, 288 páginas.


COMER – Existe por vezes ainda algum preconceito contra os restaurantes dos hotéis, mas esse é, cada vez mais, um juízo injustificado. No Hotel D. Pedro Lisboa existe um dos restaurantes italianos que vale a pena conhecer, o Il Gattopardo – nome retirado do filme emblemático de Visconti. Cozinha italiana muito elaborada, riquíssima em sabores, feita com delicadeza e saber. As massas frescas são belíssimas, as propostas do chefe são boas recomendações. Aberto todos os dias ao almoço e jantar, nos dias bons disfrute da esplanada no terraço. Av. Eng. Duarte Pacheco 24, reservas pelo telefone 21 389 66 00.


AGENDA – Dia 28, no Grande Auditório da Culturgest, a cantora peruana Susana Baca, vencedora de um Grammy, apresenta o seu disco mais recente, «Traversias».


O MELHOR DA SEMANA – A Festa da Música, hoje, amanhã e depois, no CCB, o destaque vai para a Europa barroca.


O PIOR DA SEMANA – O Parlamento, os políticos, as mentiras do deficit, este mundo de faz de conta.


BACK TO BASICS – 90 por cento dos políticos são responsáveis pela má reputação que atinge os outros 10 por cento, Henry Kissinger

April 19, 2006

SINAL DOS TEMPOS – A Academia das Artes e Ciências de Televisão, dos Estados Unidos, decidiu criar este ano uma nova categoria dos prémios Emmy, dedicada a programas produzidos expressamente para plataformas móveis, telemóveis de banda larga, iPods, PDA’s e outros suportes de imagem não tradicionais. A MTV tornou-se entretanto o maior fornecedor mundial de conteúdos para telemóveis, tendo já atingido o número de 1 milhão de downloads mensais. Tenham uma ideia do negócio: em termos mundiais estima-se que os jovens gastem 16 mil milhões de dólares em música gravada por ano, quase nada comparado com os 106 mil milhões que o mesmo segmento gasta em comunicações móveis sob todas as formas.

PROGRAMA – Ir nas noites de terça feira à Casa da Morna e deixar-se conquistar por quem estiver de serviço nesse dia a cantar. Semanalmente, às terças, pelas 23h30, depois do jantar ou no meio de um copo, pode assistir a vozes africanas pouco conhecidas – algumas vezes acompanhadas em palco por Tito Paris, o homem da casa. É o jantar-concerto, uma ocasião para boas descobertas. A muqueca de camarão é muito boa, o ambiente é simpático, em cima há um bar, em baixo o restaurante, o palco fica no meio. Nas paredes há sempre uma exposição de obras de artistas africanos. Todos os dias também há música ao vivo e pode-se sempre jantar de segunda a sábado. Casa da Morna, Rua Rodrigues Faria nº21, www.casadamorna.com , tel. 213 646 399.

OUVIR - Muito divertido o novo CD de Elvis Costello, mais uma vez a mostrar a sua atracção pelo jazz . «My Flame Burns Blue» é uma gravação efectuada na edição de Julho de 2004 do North Sea Jazz Festival e Costello surge acompanhado de um grupo de excelentes músicos, cheios de swing, a que deu o nome de Metrópole Orkest. A maior parte dos temas são do próprio Elvis Costello, mas existem versões suas para originais de Charles Mingus, Billy Strayhorn, Burt Bacharach e Dave Bartholomew. Como bónus há um CD extra, com a suite «Il Sogno», a pessoalíssima visão de Costello para um bailado sobre uma obra de Shakespeare, «Midsummer Night’s Dream», aqui com a participação da London Symphony Orchestra. CD Deustche Grammophon, distribuído por Universal Music.

LER – Edward Bernays foi um dos percursores das relações públicas e da comunicação de massas. A sua carreira começou como agente de imprensa na Broadway e desenvolveu-se na grande fábrica da propaganda a favor da participação norte-americana na I Grande Guerra, o Comité Para a Informação Pública. Com os ensinamentos adquiridos funda no pós-guerra a sua própria agência e mantém-se independente até ao fim da vida, evitando sempre propostas de fusões e aquisições que lhe foram feitas. Entre os seus clientes estiveram a General Electric, a Procter & Gamble, a Dodge Motors, a General Motors e a United Fruit, por exemplo. «Propaganda», o seu segundo livro, editado originalmente em 1928, mantém-se estranhamente actual e a sua recente edição em Portugal (da Mareantes Editora) é uma boa ocasião para descobrir a sua obra – tanto mais que o prefácio escrito por Luís Paixão Martins é em si próprio um belíssimo resumo de algumas das facetas mais importantes da actuação de um consultor de comunicação e relações públicas.

PRENDA DE PÁSCOA - Karl Richter foi dos nomes que mais contribuíu para a divulgação da música antiga e as suas interpretações de Bach são históricas. Richter, que morreu com 55 anos em 1981, era um maestro de rara sensibilidade e um organista e cravista virtuoso. «The Legacy Of Karl Richter» é um documentário de 76 minutos que traça a história do grande músico e mostra momentos de algumas das suas actuações mais expressivas (incluindo a derradeira, em 12 de Fevereiro de 1981, três dias antes da sua morte). Este trabalho, inédito, é lançado no ano em que Richter comemoraria 80 anos e inclui entrevistas e testemunhos com contemporâneos seus que ajudam a enquadrar a sua vida e obra. DVD Deustche Grammophon, distribuído por Universal Music.

O PIOR DA SEMANA – Supremo Tribunal de Justiça considerou como lícitos os correctivos corporais dados a crianças deficientes num lar em Setúbal.

O MELHOR DA SEMANA – O site www.omeuecoponto.pt da Sociedade Ponto Verde, que explica onde se podem encontrar e como se devem utilizar os ecopontos e fazer a separação do lixo doméstico.

BACK TO BASICS – Um bom esboço vale mais que um longo discurso, Napoleão.
FALTA DE COMPARÊNCIA


Parece que no PSD vai haver um candidato único à liderança do partido, apesar de todos os dias se avolumarem as críticas à forma como as coisas correm. No PP as coisas andam lá perto, pelo menos em termos de alternativas credíveis a Ribeiro e Castro. Um correspondente estrangeiro poderia resumir assim a situação política portuguesa para os seus leitores, algures num país distante: Em Portugal os dois principais partidos da oposição abdicaram de se opôr com veemência ao Governo do Engenheiro Sócrates: do lado do PSD Marques Mendes é acusado de ser um líder fraco mas não aparece ninguém a querer o seu lugar, e no PP a oposição tem-se resumido a graçolas e trocadilhos sobre as reformas anunciadas pelo executivo.

Fora de brincadeiras, a situação prenuncia que – caso o Governo consiga concretizar e implementar a maioria das medidas que anunciou e não se fique só pelas palavras e a propaganda – a coisa vá ser difícil para os partidos à direita do PS.

Na realidade a dificuldade começa aí mesmo, no posicionamento. Com Sócrates a deslocar o PS cada vez mais para o centro, a direita sente-se encurralada – até porque, em Portugal, ela tem sido sempre preguiçosa a definir uma ideologia, uma estratégia e uma táctica. Há 30 anos a sua linha de fronteira era combater a revolução e há 15 fazer as privatizações. Fora isso não se lhe conhecem grandes rasgos teóricos, embora se lhe conheçam muitos tiques populistas. Se os partidos à direita do PS não fizerem o trabalho de casa, não reinventarem a cidadania e não conseguirem ter um programa próprio estruturado, quer-me parecer que o eng. Sócrates, ou os seus sucessores, irão ganhar os próximos actos eleitorais por falta de comparência do adversário.


(de O Independente)

April 09, 2006

VENTO – Suporto a chuva, o frio (pelo menos o nosso) não me incomoda muito. Mas o vento dá cabo de mim. Não gosto do som do vento e muito menos de o sentir na pele. Faz-me dor de cabeça. Estes dias têm sido terríveis. A única vantagem visível deste vento é que os cheiros dos jasmins da Primavera parecem circular mais este ano.


FIM – O «Blitz» morreu, viva o «Blitz». Quando há 22 anos fundei e dirigi o jornal «Blitz» tive uma das mais gratificantes experiências da minha vida, podendo trabalhar em formatos gráficos com poucas regras e muita descoberta, subvertendo as regras tradicionais da escrita e apostando em imagens que eram aproximações diferentes à fotografia. Jornais assim têm ciclos de vida curtos e o «Blitz» teve um ciclo longo, felizmente partilhado por muita gente que ao longo dos anos lá colaborou. Às vezes apetece-me repetir o desafio e encontrar outra forma de o fazer, voltando a conjugar o grafismo, a fotografia e o texto, as minhas recorrentes paixões. Há três pessoas que não têm sido referidas nesta história e manda a justiça que se diga que foram elas que viabilizaram o projecto, dando-lhe meios para se fazer e permitindo todas as experiências – a Administração da CEIG na época: João Tito de Morais, Francisco Calheiros e José Lobato


PAPEL – Isto anda tudo ligado: nos Estados Unidos a editora Hachette Filipacchi suspendeu a publicação da revista «Elle Girl» em papel, mas decidiu continuá-la na Web e com conteúdos desenhados para plataformas móveis. Isto acontece num ano em que a revista teve um aumento de 46,1% nas páginas de publicidades vendidas e em que a circulação paga subiu 17,9% para um total de 601.000 exemplares por edição. Jack Kliger, o Presidente do grupo editorial sublinha que decidiu a mudança, apesar da boa performance da revista segundo os indicadores de referência, porque acredita que este tipo de projecto deve ser reorientado estrategicamente para formatos wireless e dispôs-se mesmo a reforçar os meios investidos na produção da revista.


FICÇÃO – Mão amiga fez-me chegar a edição da belíssima revista de Domingo do «El Pais» da semana passada. No artigo da última página o escritor Javier Marias propõe aos editores de jornais, revistas e outros media em geral que criem o cargo de «Detector de Ficções» , para acabar de vez com relatos falsos, notícias inventadas, fretes avulsos, «para pôr fim à venda de gato por lebre», tão frequente nos media de hoje em dia. Se o cargo fosse criado havia por aí muito jornal em que o respectivo titular não teria mãos a medir.


VER – Três propostas diferentes: a exposição XX, que assinala os 26 anos dos Encontros de Fotografia, no Centro de Artes Visuais de Coimbra; desenhos (não de arquitectura) do arquitecto Álvaro Siza na Galeria João Esteves de Oliveira, ao Chiado; e os trabalhos em grafite, tinta da china e acrílico de Diogo Pimentão na Fundação Carmona e Costa, na Rua Soeiro Pereira Gomes em Lisboa.


AGENDA – Serralves inaugura hoje as exposições de Pedro Morais e uma (quase) retropectiva de António Dacosta. Ficam até ao início de Julho.


LER – A edição de Março da revista «Egoísta», com as cidades como tema de fundo. Textos (entre outros) de Filipa Melo, António Mega Ferreira e Hugo Gonçalves, fotos (entre outros) de Amy Yoes, João Vilhena e Helmut Newton. Patrícia Reis edita a revista que Mário Assis Ferreira felizmente continua a viabilizar.


OUVIR – O concerto para piano nº1 de Brahms, com o pianista Krystian Zimerman e a Filarmónica de Berlim dirigida por Simon Rattle. Uma gravação fora de série fruto de um dinâmico encontro criativo. Edição Deustche Grammophon, distribuição Universal Music.


SÍTIO – Cerveja de fim de tarde no bar irlandês Hennessy’s, ao Cais do Sodré. Ampla escolha de cervejas, bom gin tónico.


O MELHOR DA SEMANA – Finalmente, arroz de bacalhau com coentros. Simples.


O PIOR DA SEMANA – O desastrado folhetim da Judiciária, em que o Ministro Alberto Costa resolveu desempenhar o papel de elefante em loja de porcelana. Quem tem falta de jeito não se devia meter na política, digo eu.
UM MINISTRO CONTRA LISBOA


Em qualquer boa história há sempre os bons e os maus. Na semana passada confirmou-se como os papéis se distribuem dentro do Governo. Há Ministros que servem para lançar sarilhos, são os maus da fita; e há o Primeiro-Ministro, sempre apaziguador, que sem contrariar ninguém vai lançando água na fervura, mesmo quando se fica com a impressão de que poderá ter sido ele a levantar a intensidade da chama.

Um caso particularmente interessante de terrorismo institucional é dado pelo Ministro Mário Lino, que utiliza as Obras Públicas como património de acção política. Na semana passada veio marcar a agenda de Lisboa, com a questão das obras do Metropolitano na envolvente do Túnel do Marquês. Na prática o que Mário Lino fez foi condicionar e achincalhar o Presidente da Câmara de Lisboa, dizendo-lhe que não é ele quem manda na cidade, e impondo que é o Ministro quem decide o calendário de obras e inaugurações.

O estranho disto tudo é que o Presidente da Câmara tenha ficado no silêncio absoluto, submisso, sem reacção e, sobretudo, sem vir dizer claro e em bom português o que acha das interferências do Senhor Ministro.

O peso político ganha-se e constrói-se, a autoridade conquista-se, a luta política não é uma dança de salão nem um grupo excursionista. Quando a capital de um país é descriminada e abusada por ser de cor política diferente do Governo convém que haja alguém que fale grosso para um Ministro que continua a ser o responsável por ter o Terreiro do Paço esventrado há anos – e suspeita-se que o plano para o Marquês do Pombal seja o mesmo. No fundo o plano de acção do Ministério das Obras Públicas é o a-b-c do terrorismo: lançar o caos na cidade.

April 04, 2006

KITSCH
Quase tão kitsch como Alberto Costa está a ser o Maxim na Praça da Alegria - a sua aproximação a José Cid imita o que fez Vitorino há uns anos com Tony de Matos. Será Manuel João Vieira o novo Vitorino Salomé?
O DEMAGOGO
Decidiamente Alberto Costa é o mais demagógico e um dos mais ineficazes Ministros do actual Governo. O recente incidente da Judiciária e as suas declarações revanchistas definem o seu carácter. E o boneco não é bonito de se ver. Uma pouca-vergonha, é o que é - basta olhar para o que disse sobre a necessidade de modernizar a gestão orçamental da Judiciária e que se resume a isto: fazer omoletas em ovos. Um autêntico pilha-galinhas...

April 01, 2006

SAMPAIO VENCE SOARES
O ex-Presidente Jorge Sampaio começou a dar bocas sobre o ´pais ainda mais depressa do que o ex-Presidente Mário Soares, depois de ambos terem saído de Belém. A coisa promete.
QUEDA – Pois é verdade, a circulação de jornais está em queda. Os números relativos a 2005 provam isso mesmo e um muito citado especialista da Universidade do Minho considera tal se deve à falta de poder de compra da população em geral. Não ocorre ao especialista que se possa dever ao facto de os leitores não encontrarem aquilo que procuram e que isso seja, sempre, a causa da perca de audiências. Aqui há uns meses citei um belo artigo publicado na «Columbia Journalism Review» e que estudava casos de jornais nos Estados Unidos que conseguiram ganhar leitores. Receita? – Melhor jornalismo, melhor investigação, melhor reportagem, ir além do óbvio, mais rigor, mais imaginação.


CURIOSIDADE – No ano passado o mercado de conteúdos vídeos para dispositivos móveis nos Estados Unidos valeu 62 milhões de dólares. Um estudo recente prevê que em 2010 esse mesmo mercado valerá 501 milhões.


ESPLANADAS – Se não fosse o vento tínhamos o tempo ideal para esplanadas. Assim, ficamos com a aproximação. Agora que finalmente chegaram os dias longos apetece acabar as tardes ao ar livre, a ver o sol a desaparecer no rio. Fazem falta bons bares e esplanadas onde existam tapas decentes a preços honestos e onde se possa matar a fome sem ter que jantar à séria. Espero, ansioso, pela abertura dos Perdigueiros do Rio, ali junto ao Cais do Sodré.


LER – Jamie Oliver é um dos mais interessantes e inspirados cozinheiros britânicos contemporâneos, e também um caso raro de capacidade de comunicação, como uma recente série exibida na 2: mostrou. Mas ele é também um escritor divertido, que consegue colocar nas páginas de um livro a informalidade e o sentido lúdico das estórias que surgem a propósito das receitas que sugere. Apaixonado confesso pela gastronomia italiana, Oliver fez um autêntico roteiro da Itália, onde mistura observações pessoais com receitas, recomendações de ingredientes, temperos ou preparação. Sobre a pizza, por exemplo, faz uma dissertação quase filosófica, desde a massa aos ingredientes que se colocam por cima dela. Inicialmente o projecto era uma série para o Channel Four, depois transposta para livro, «Jamie’s Italy», onde Oliver conta com a ajuda de boas fotografias de David Loftus e Chris Terry. É dos mais divertidos e úteis livros de cozinha que tenho lido. Edição Penguin, comprada na Amazon.


OUVIR – A banda sonora do filme «Good Night And Good Luck», em que Dianne Reeves interpreta de forma sóbria, mas sentida, grandes clássicos do jazz vocal como «I’ve Got My Eyes on You», «How High The Moon», «There’ll Be Another Spring» ou «One For My Baby», alguns dos 15 temas desta banda Sonora seleccionada e produzida pelo próprio George Clooney. CD Concord.



VER – Até 29 de Abril pode visitar 15 exposições em tantas outras galerias na iniciativa «Lisboarte». O roteiro pode ser consultado em www.lisboarte.com e é um belo pretexto para a ocupação de um fim de semana. Se me permitem destaco pinturas e desenhos de Fernando Calhau na Galeria Luís Serpa Projectos e, seguindo recomendação certeira, fotografias de Graça Sarsfield na Módulo – Centro Difusor de Arte.


AGENDA – Hoje mesmo inaugura no Museu Nacional de Arte Antiga a exposição de fotografias «Lúmen», de André Gomes e por lá fica até 28 de Maio.


O MELHOR DA SEMANA – O regresso do CCB a uma lógica de programação e actuação dinâmicas, depois de dez anos de declínio. As entrevistas de António Mega Ferreira sobre os seus planos para o CCB foram uma lufada de ar fresco.


O PIOR DA SEMANA – As reacções tipo «dor de cotovelo» e género «porque é que não fui eu a lembrar-me disto?» ao programa Simplex (embora este seja o raio de um nome…mesmo a pedir chacota).


TRINCAR – Boas surpresas italianas na Trattoria Vitalli, carnes bem trabalhadas e temperadas, ambiente simpático, preço honesto, Rua dos Duques de Bragança 5M, tel. 213 427 669, encerra aos Domingos.


BACK TO BASICS – «Quando o acto de comprar e de vender são regulamentados por legislação, os primeiros a serem comprados são os legisladores» - P.J. O’Rourke