April 23, 2006

OS POLÍTICOS


Laxismo, demagogia e tráfico de influências são as principais características dos políticos portugueses e o Parlamento é o espelho de todos os seus vícios. Na semana passada o laxismo ficou à vista, com o escandaloso número de ausências em ante-véspera de um feriado. Mas mais sério ainda é a demagogia que varre todas as bancadas e que se traduz, hoje em dia, numa acção governativa feita de muitas palavras e de poucas acções e numa oposição que notoriamente não sabe sequer porque defende hoje uma coisa e amanhã outra.

Porventura o mais grave de tudo é o permanente tráfico de influências, que une adversários políticos e que se passeia impunemente pelos corredores da Assembleia da República e dos ministérios. Já se tornou lugar comum ver líderes e figuras proeminentes de escritórios de advogados especializados em direito comercial, misturando os interesses dos seus clientes com o cargo para que foram eleitos. Numa teia de incompatibilidades aparentemente muito rígida, os juristas – tradicionalmente o grupo profissional de onde provém a maioria dos deputados – conseguiu excepcionar e arranjar artimanhas para que impunemente pudessem continuar em dois ofícios que não são bem complementares: defender o interesse público dos cidadãos eleitores e defender os interesses comerciais de clientes. Os exemplos são numerosos, basta folhear jornais e ver quem representa quem, quem está na assembleia e lidera sociedades de advogados. Tem-se a sensação de que, para muitos, a passagem pela Assembleia e pela política é apenas um meio para atingir fins estritamente pessoais. A concubinagem entre parlamentares e interesses particulares tem aumentado e é uma maldição que, verdade seja dita, assola particularmente o centralão que nos governa. O Parlamento deixou há muito de ser uma referência. Passou a ser um expediente.