March 26, 2006

A CALMA – Cozinhar é um ritual que me descansa. Gosto de cozinhar assim a partir do nada, em improviso, agarrando o que aparece no frigorífico ou na dispensa. É impressionante o que se consegue com pouca coisa, algumas especiarias e temperos e um bocado de paciência. Enquanto cozinho gosto de ir petiscando uns salgados, com a ajuda de um vinho branco ou de uma cerveja. Gostava de saber fazer um bom arroz de bacalhau, mas ainda não cheguei lá, pode ser que um dia alguém me ensine.


A VELOCIDADE - Vivemos numa época de decisões instantâneas, ou de «exercício cognitivo rápido», como alguns teóricos gostam de lhe chamar. A própria política parece hoje em dia que segue as regras do «speed-dating»: a cada candidato são dados cinco minutos para mostrar o que vale – assim sendo, os 100 dias tradicionais de benefício da dúvida para os políticos recém eleitos são hoje em dia uma eternidade. As eleições autárquicas foram a 9 de Outubro. Já lá vão mais de 150 dias…


O PAÍS - Estava eu encostado uma destas manhãs ao vidro de um
sétimo andar no centro de Lisboa quando dei por um descontraído cidadão
que, aí por volta das onze em meia, resolveu urinar encostado a uma
parede num pequeno largo, no meio da rua em frente. A coisa foi feita com grande
à-vontade e naturalidade e, de repente, dei por mim a pensar que há uma expressão para definir o que se passa: tornámo-nos num país de mija na rua.


O MELHOR DA SEMANA - A exemplar produção do especial aniversário de Herman José na SIC, a semana passada. Um modelo de entretenimento.


O PIOR DA SEMANA – As desculpas eurocratas do mais acabado exemplo de burocrata comunitário, o Ministro da Agricultura português.


LER – Na «Time» desta semana o artigo sobre a vivacidade e rentabilidade da obra de Shakespeare neste ano em que se assinala o seu quarto centenário. Além de genial dramaturgo, Shakespeare é dos mais lucrativos autores e à volta da sua obra floresce uma próspera indústria.


OUVIR – Ano Mozart, já se sabe, lá volta o tema à baila, agora mais tranquilo que já se fala menos do assunto. A Philips recolocou no mercado uma selecção dos concertos para piano do compositor, com interpretação de Mitsuko Uchida e da English Chamber Orchestra, dirigida por Jeffrey Tate. As gravações foram efectuadas em diversos locais, entre Outubro de 1985 e Fevereiro de 1990 e estão agrupadas numa caixa com oito CD’s. Aqui estão os concertos número 5, 6, 8, 9, 11, 12, 13, 14, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 24, 25, 26 e 27 , em interpretações fidelíssimas, sóbrias e empolgantes - parece impossível, mas não é. Caixa Philips, distribuída por Universal Music – Mozart, The Piano Concerts by Mitsuko Ushida.

VER – Com base em desenhos minuciosos a tinta da china, Jorge Feijão constrói quadros intrigantes e sedutores. A exposição pode ser vista na VPF Creamarte até 29 de Abril. Vejam-nos com calma e detalhe, sobretudo aquele que aparece escondido num recanto. No andar de cima, na Plataforma Revolver, uma colectiva intitulada « Boa noite!, eu sou a Manuela Moura Guedes», com um vídeo muito curioso de Filipe Rocha da Silva feito em Nova York, uma instalação de Gustavo Sumpta, fotografias encenadas de Jane Gilmor e trabalhos de João Pedro Rui. Rua da Boavista 84, 2º e 3º andar, Lisboa.


TRINCAR – Já não cheira a fritos na «Primavera», do Bairro Alto. O Senhor Rafael lá fez obras e mudou o exaustor e agora as maravilhas que a Dona Helena prepara na cozinha já podem ser saboreados sem medo de a roupa ficar contagiada pelos odores das frituras dos deliciosos panadinhos e dos filetes. Até mesmo com a porta fechada o ar continua fresco e inodoro. Vale a pena ir redescobrir a «Primavera». Travessa da Espera 34, tel. 213 420 477.


AGENDA – Damian Marley, filho de Bob Marley, parte do reggae genético e vai pelos caminhos dos Rhythm’n’Blues e do Hip-Hop. Aterra com o seu «Welcome To Jamrock» terça-feira que vem, dia 28, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.


BACK TO BASICS – A liberdade implica responsabilidade, por isso é que a maior parte das pessoas a receiam (George Bernard Shaw).