March 10, 2006

PAZ PÔDRE


Os principais protagonistas da actividade política decretaram nas últimas semanas a instituição oficial do regime de paz pôdre: só há eleições daqui a três anos, agora é deixar andar. Simultaneamente isto permitirá ao Eng. Sócrates um estatuto de intocável e, por outro, desculpa a anemia galopante na oposição.

Uma coisa é garantir a estabilidade governativa e o cumprimento dos ciclos políticos, outra, é existir uma oposição que faça jus ao nome. Ora acontece que em Portugal a oposição anda em parte incerta. Surge pontualmente, quase só no Parlamento, que lá vai cumprindo o seu papel de justificativo democrático, de forma cada vez mais trôpega e incoerente. A nossa oposição precisa de Viagra mas tem vergonha de o ir comprar à farmácia.

Esta Assembleia da República passou a ser uma loja de porcelanas onde os elefantes só podem entrar uma vez por mês – no dia do debate com o Governo. No resto do tempo é como se nada se passasse, parece uma estufa de orquídeas. Este Parlamento é uma vergonha e a forma como deu cobertura – basicamente pelo silêncio- ao processo em curso de ataque à liberdade de informação mostra uma evidência: há um entendimento partidário para criar medidas repressivas contra jornais e jornalistas que toquem casos incómodos ou façam revelações que deviam permanecer nos segredos dos bastidores. A Entidade Reguladora da Comunicação Social consagra esse entendimento e é o espelho deste regime de arranjinhos em que o Parlamento se converteu.

Os próximos anos serão a consagração do pior que pode haver num bloco central de consensos hipócritas e entendimentos de circunstância. Provavelmente quando este ciclo acabar alguns partidos deixarão de ter razão de ser. Os políticos em exercício caminham para deixar como herança um regime de quase partido único – o grande centrão. Esta não é certamente uma boa notícia.