February 27, 2006

UM PRESIDENTE PARA A HISTÓRIA


Jorge Sampaio vai certamente ficar para a História, mas não pelas melhores razões. O seu segundo mandato é um «case study» de manobra política, de instabilidade, de favoritismo à sua família partidária. O tempo se encarregará de proporcionar a distância, que é a melhor conselheira na elaboração de juízos.

No meio deste unanimismo bajulatório de final de mandato vale a pena recordar três temas: em primeiro lugar a guerra surda de Sampaio com Ferro Rodrigues (cujas razões verdadeiras talvez nunca se descubram) depois do desaparecimento de Guterres, guerra surda que acabou por facilitar a chegada de Durão Barroso ao poder; em segundo lugar a reacção presidencial ao abandono do cargo de Primeiro-Ministro por Durão Barroso e o longuíssimo período de instabilidade e indecisão que se lhe seguiu; em terceiro lugar o facto de nessa altura não ter convocado eleições antecipadas, sendo certo que se na época, Verão de 2004, o PS tivesse ido a votos dificilmente obteria um resultado vitorioso – e a situação político-partidária seria provavelmente muito diferente hoje em dia. Sampaio preferiu esperar e criar clima para a dissolução da Assembleia da República quando Sócrates já tivesse criado as condições mínimas no PS para se poder submeter às urnas.

Mas se na política a instabilidade foi a marca do segundo mandato de Sampaio, na sociedade portuguesa estes anos ficarão marcados pela degradação e descredibilização da justiça, pelo grau zero da confiança dos cidadãos num sistema judicial que cada vez mais se mostra incapaz de investigar e julgar no respeito pelas liberdades e direitos dos cidadãos. Um Presidente que deixa a situação chegar onde chegou ao longo do seu mandato –acabando ele próprio por ser escutado - certamente tem pouco de que se orgulhar.