January 28, 2006

Pela segunda vez em meia dúzia de meses os aparelhos partidários foram confrontados por campanhas eleitorais que fugiram ao seu controlo. Nas autárquicas isso aconteceu com estrondo, nem sempre pelas melhores razões, e agora nas presidenciais o estrondo ainda foi maior. Como bem faz notar Pacheco Pereira o problema não é apenas português mas é forçoso pensar em como resolver a questão da participação na vida democrática – para um número crescente de pessoas os partidos não são o melhor veículo para isso.


Nestas eleições houve vencedores claros, como Cavaco, Manuel Alegre e Jerónimo de Sousa – mas também Sócrates que por muito que diga obteve o resultado que melhor jeito lhe dá para a sua estratégia pessoal: a derrota de Soares, um Presidente eleito com quem tem mais em comum do que aquilo que pode parecer e finalmente uma rude machadada no velho aparelho do PS, o que foi criado por Mário Soares e hoje é muito simbolizado por Jorge Coelho – Soares, Coelho e Francisco Louçã foram aliás os derrotados da noite.


Um outro fenómeno político interessante foi a clivagem entre o PSD e Carmona Rodrigues na Câmara Municipal de Lisboa. O líder social-democrata do grupo do PSD na Assembleia Municipal, Vítor Gonçalves, fez aprovar por unanimidade – unanimidade, note-se - uma moção a criticar o facto de a Associação de Turismo de Lisboa, com a bênção da maioria da vereação e do Presidente e Vice-Presidente, ter entregue a Jorge Coelho a coordenação de um grupo de trabalho para definir as grandes linhas estratégicas para o turismo em Lisboa. A nomeação de Coelho – um dos grande paladinos do aeroporto da Ota – tinha causado surpresa. A iniciativa da Assembleia Municipal veio desfazer o golpe palaciano e obrigou Jorge Coelho a demitir-se.


Nem quero entrar na bizantina discussão sobre se Sócrates sabia (ou devia saber) o que se estava a passar no universo dos protagonistas eleitorais quando decidiu falar na noite de Domingo. Mas no mínimo é terrível que os responsáveis das emissões de todas as televisões tenham passado do directo de um candidato que foi a votos para um líder partidário, que por acaso é Primeiro Ministro. É um triste retrato dos critérios editoriais, que infelizmente se pautam pela bitola do poder. Alegre era o fenómeno das eleições, o estrito ponto de vista noticioso devia levar a ouvi-lo. Cada vez mais a informação televisiva se pauta por motivos que têm pouco a ver com a notícia. Já agora não resisto a uma nota final: em termos informativos uma das derrotadas da noite foi Anabela Mendes a funcionária da SIC que, mais uma vez, fez uma cobertura opinativa e sectária - «biased» é o termo que melhor se aplica ao seu trabalho.


A VER – No CCB a exposição dos candidatos ao prémio Bes Photo 2005. Obras de António Júlio Duarte, José Luís Neto, José Maçãs de Carvalho e Paulo Catrica. Sendo o universo da fotografia contemporânea um dos mais confusos – e um dos mais dados a mistificações- esta selecção é curiosa porque tem de tudo um pouco: do truque puro e simples à evocação de outras imagens ou à exarcebação do olhar. Para mim fica na memória o que vi de José Maçãs de Carvalho. O resto podia ter sido visto noutro prémio qualquer, noutra circunstância, até noutro suporte. Em exposição até 5 de Março.


A VISITAR – Pedro Luz tem inegável talento na construção e reformulação de espaços e o seu novo Zocco (no local onde era o Indochina, nas docas) é bem a prova disso. O Zocco assenta num conceito de imagem, iluminação e decoração muito bem escolhido para o local e garantidamente é um sítio agradável e confortável. Sendo um restaurante terá que se falar de comida – mas aí não há muito a dizer. O menu é de inspiração italiana – e inspiração é mesmo a palavra que descreve a situação. A confecção é mediana, as escolhas são corriqueiras. Mas na verdade o Zocco vive do ambiente e não exclusiva ou principalmente da comida. O serviço é atencioso, a sala é muito bonita. Mais do que um restaurante o Zocco encaixa dentro daquele categoria de locais abrangidos pelo conceito de entertainment food. E aí resulta em cheio.


A OUVER – Ouvir e ver o «Barbeiro de Sevilha» no DVD filmado no Teatro Real de Madrid, numa co-produção com o nosso S.Carlos, com Pietro Spagnoli como Fígaro, Maria Bayo como Rosina e Juan Diego Florez como Conde de Almaviva. O DVD tem ainda uma intorudção a esta ópera de Rossini muito bem estruturada e está filmado em Alta Definição. Edição Decca.


BACK TO BASICS – A ilusão é o primeiro de todos os prazeres, Oscar Wilde.