January 14, 2006

CAMPANHA ELEITORAL – Nunca uma campanha custou tanto a passar, nunca foi tão monótona e aborrecida, desde o cinzentismo fundamentalista de Louçã até às birras de Soares – quem anda na campanha dele bem pode escrever um livro no fim para ajudar a perceber as variações de humor, a mania da perseguição, as declarações intempestivas, as acções irreflectidas. Se mais razões não houvesse bastavam estes últimos dias de campanha de Soares para ver o que não faz falta em Belém.

O PAÍS MUDOU – Quando acabar este momento eleitoral algumas pessoas vão perceber que de 1974 para cá o país mudou mesmo, que as realidades antigas são diferentes. Quem hoje tem 30 anos nasceu já depois do fim da ditadura. De forma crescente, nos actos eleitorais dos últimos cinco anos, percebe-se como o voto tem sido flutuante, como já não é certo que exista uma maioria sociológica de esquerda ou de direita. O voto hoje é mais pragmático e menos ideológico – muitos políticos ainda não perceberam isso e não é com chavões antigos que se conseguem vitórias. Basta olhar para as imagens das acções de campanha de Soares: são semelhantes às do PC – uma base de apoio predominantemente envelhecida.

A GUERRA AOS JORNALISTAS – Outro aspecto da mesma questão é guerra aos jornalistas que sectores da esquerda lançaram nesta campanha, pela primeira vez de forma clara. Convém perceber porquê: é que de facto a protecção disfarçada e a simpatia clara que costumam ser mairitárias na comunicação para com a esquerda, também vai mudando. Já se apontam os defeitos à esquerda – coisa dantes impensável, já se mostram maus planos, já se fazem ironias sobre os discursos – tudo matéria que até há poucos anos era reservada apenas à direita. A esse nível melhorou-se o pluralismo: agora já começam a levar todos por igual. É disto que Maria Barroso e Soares se queixam – estavam habituados a serem intocáveis.

SONDAGENS – Mais uma vez, como em anteriores eleições, vale a pena consultar regularmente o blog www.margensdeerro.blogspot.com onde Pedro Magalhães faz regularmente as comparações entre as tendências das várias sondagens, a evolução dos respectivos resultados e salienta as principais linhas de força que se manifestam.

COISA BOA DA SEMANA – A nomeação de Francisco José Viegas para a Casa Fernando Pessoa.

COISA MÁ DA SEMANA – O saneamento de António Lagarto do Teatro Nacional D. Maria II pelos ocupantes do Ministério da Cultura.

ALERTA – A revista «Atlântico» vai mudar e o novo director, Paulo Pinto de Mascarenhas, prepara já algumas surpresas na sua primeira edição, de Fevereiro. A seguir com atenção.

NOVIDADE GOOGLE – Está em testes o novo serviço Google Vídeo (http://video.google.com/) que apresenta filmes, séries, documentários, videoclips, curtas-metragens, filmes experimentais, enfim toda a gente pode enviar e ver imagens.

LER – Todas as semanas na «Briefing» a nova página «brand taboos», da autoria de Carlos Coelho e Paulo Rocha. Em estreia esta semana «o sexo das marcas».

VER – O magnífico documentário de Martin Scorsese, «No Direction Home – Bob Dylan». Todo o percurso de uma das figuras marcantes da música, da escrita e da consciência social do século XX. Baseado numa entrevista recente a Dylan, o filme utiliza muitas imagens de arquivo, assim como depoimentos de contemporâneos do cantor e muiutos minutos de actuações ao vivo de Dylan. Não é só o retrato de uma época e de uma geração, é também o manual de como fazer um bom documentário biográfico. (2xDVD, distribuído pela Paramount, à venda nas lojas FNAC).

COMER – O velho Alfaia no Bairro Alto foi remodelado (bem remodelado, diga-se), mas continua a ser um grande sítio para jantares de amigos. A comida melhorou substancialmente em relação aos idos dos anos 80, o serviço é simpático mesmo em grupos grandes e no meio da confusão. Ao lado há uma garrafeira que explica como a lista dos vinhos é tão bem fornecida – e nesta garrafeira podem beber-se bons vinhos a copo e comer uns petiscos. Travessa da Queimada 18-24, telefone 21 346 12 32.

DECLARAÇÃO DE VOTO – Não será uma surpresa, mas por via das dúvidas, atendendo à conjuntura e ao desenrolar dos factos, mantenho inalterado o meu voto e gosto que ele seja público: que venha Cavaco Silva para a Presidência da República.

BACK TO BASICS – A Política não pode ser a arte de procurar sarilhos mesmo onde eles não existem.