February 27, 2006

ISTO ANDA TUDO LIGADO

O que eu gostava mesmo é que as entidades policiais e judiciais investigassem o tentacular mundo da corrupção na política em vez de investigarem quem são as fontes dos jornalistas; o que eu gostava era de ver uma brigada da judiciária a fazer em sede política o que se atreve a fazer em sede jornalística; o que eu gostava era que vivêssemos numa sociedade onde se procurasse justiça e não apenas perseguição e intimidação.
Na semana passada ficámos a saber que um vereador da autarquia lisboeta reuniu provas de uma tentativa de corrupção por uma empresa de construção que tem, digamos, um registo de influências e situações de excepção nos seus negócios com entidades públicas.
Se for verdade devo dizer que a coisa não me espanta. Já aqui o escrevi uma vez, mas esta é boa altura para recordar: nas décadas mais recentes quem manda na política (e muitas vezes em políticos) é o mundo da construção – seja nas grandes obras públicas, seja nos negócios imobiliários das autarquias.
Basta ver de onde se diz que vêm financiamentos não declarados a campanhas e actividades partidárias, basta ver a impunidade com que construtores se passeiam com autarcas, basta olhar para o desgraçado estado de tantas e tantas cidades, desfiguradas pelos promotores imobiliários em nome do progresso.
Este país tem uma justiça péssima, umas polícias prepotentes e pré-históricas, um sistema de saúde deficiente e um sistema de ensino ineficiente; mas farta-se de construir e de semear betão, infelizmente sem pensar muito no assunto.
Todos os negócios são legítimos – desde que as oportunidades sejam iguais e que a concorrência não seja desvirtuada. O problema é que, à vista desarmada, parece que na construção há mais tráfico de influências que concorrência salutar.