March 26, 2006

Pelo menos uma vez por semana tento almoçar sozinho. Quer dizer, não é bem sozinho, é acompanhado por uma revista – e nesta altura do ano isso é especialmente agradável numa esplanada. Nesses dias gosto de ir almoçar fora de horas, lá para as duas e tal, para ficar sossegado a folhear o objecto. Esta semana veio ter-me às mãos mais uma edição, o número 8, da revista «Attitude», publicada no Porto e uma das poucas publicações portuguesas com um carácter verdadeiramente cosmopolita. Este número é dedicado a Amsterdão e merece ser guardado por todos aqueles que pensem em lá dar um salto nos próximos meses. Tem de tudo desde o «Foam», o museu de fotografia da cidade até reportagens em ateliers, conversas com designers, trabalhos de fotógrafos, e uma visita ao Superclub, onde as noites se espalham por quatro salas de ambientes diversos – um conceito muito interessante. Pelo meio ficam ainda visitas a pastelarias, lojas de espelhos, um belo artigo sobre o origami (a arte japonesa de dobrar papel) e um destaque sobre a casa Roscoe ,na California. Tudo por cinco euros, do Porto para o mundo.


Muito regularmente prometo a mim mesmo que vou ter mais cuidado com a alimentação, que vou cortar os deliciosos almoços de comida caseira e portuguesa de dois pequenos restaurantes da zona de Chelas e do Beato onde costumo ir. Garanto que me vou dedicar ao peixe grelhado e que abandono os deliciosos filetes de polvo do «Apuradinho», em Campolide. E todas as semanas garanto que vou comer jantares ligeiros, género salada caprese, essa deliciosa mistura de tomate maduro com queijo mozarella, temperado com basílico fresco, sal e o melhor azeite virgem que tiver à mão (provavelmente será o «Romeu», de Trás-Os Montes). E penso em beber água em vez do vinho branco que esta salada requisita. O pior de tudo é que compro o mozarella e depois acabo por o deixar passar de prazo e deitar fora, sem sequer ver a cor da saladinha.


O pior de tudo são as fomes súbitas nocturnas, ainda por cima quando se mora ao pé da remoçada «Paródia», um histórico bar lisboeta que há 30 anos homenageia com o seu nome e decoração o génio de Rafael Bordalo Pinheiro. Pois esta «Paródia» tem umas belíssimas tostas mistas e um tentador bolo de chocolate, acompanhadas nas noites de quinta feira por poesia avulsa e piano inspirado. Eu prefiro a cerveja para a tosta, mas há cocktails arrojados para os aventureiros. Rua do Patrocínio 26 B, 213 964 724.


Esta semana descarreguei dois discos para o meu iPod: a banda sonora de «Brokeback Moutain», de que já aqui falei há umas semanas e um novinho em folha, o maravilhoso «The Little Willies», um grupo surgido da reunião de cinco amigos que gostam de tocar temas tradicionais da música popular norte-americana. Os cinco amigos são de peso: Lee Alexander no contrabaixo, Jim Campilongo na guitarra eléctrica, Norah Jones na voz e piano, Richard Julian na voz e guitarra e Dan Riser na bateria. Interpretam temas de Willie Nelson (o nome do grupo vem do nome do músico…), de Kris Kristofferson, Fred Rose ou Hank Williams. O bar onde tocam habitualmente chama-se The Living Room e o disco captura bem o ambiente descontraído e informal de um grupo de amigos a tocar canções conhecidas de que todos gostam. CD Milking Bull Records, distribuído por EMI.


Duas recomendações para quem gosta de ver pintura: obras da colecção de Joe Berardo na recém recuperada galeria do «Diário de Notícias» (Avenida da Liberdade 266) e a nova exposição «Veduta», de Jorge Humberto, um dos mais fascinantes pintores portugueses contemporâneos, na Galeria Jorge Shirley (Largo Hintze Ribeiro 2 E/F, à Rua de S. Bento).

O melhor da semana – A Primavera começa dia 21, terça-feira que vem, que por acaso é também Dia da Poesia (comemorações a rigor na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa).

O pior da semana – Os preparativos da reunião privada dos amigos de Marques Mendes, a que alguma alma caridosa se lembrou de chamar Congresso do PSD.

Back To Basics - «Adoro patidos politicos, são o único local que resta onde as pessoas não falam de política» - Oscar Wilde.