April 19, 2006

FALTA DE COMPARÊNCIA


Parece que no PSD vai haver um candidato único à liderança do partido, apesar de todos os dias se avolumarem as críticas à forma como as coisas correm. No PP as coisas andam lá perto, pelo menos em termos de alternativas credíveis a Ribeiro e Castro. Um correspondente estrangeiro poderia resumir assim a situação política portuguesa para os seus leitores, algures num país distante: Em Portugal os dois principais partidos da oposição abdicaram de se opôr com veemência ao Governo do Engenheiro Sócrates: do lado do PSD Marques Mendes é acusado de ser um líder fraco mas não aparece ninguém a querer o seu lugar, e no PP a oposição tem-se resumido a graçolas e trocadilhos sobre as reformas anunciadas pelo executivo.

Fora de brincadeiras, a situação prenuncia que – caso o Governo consiga concretizar e implementar a maioria das medidas que anunciou e não se fique só pelas palavras e a propaganda – a coisa vá ser difícil para os partidos à direita do PS.

Na realidade a dificuldade começa aí mesmo, no posicionamento. Com Sócrates a deslocar o PS cada vez mais para o centro, a direita sente-se encurralada – até porque, em Portugal, ela tem sido sempre preguiçosa a definir uma ideologia, uma estratégia e uma táctica. Há 30 anos a sua linha de fronteira era combater a revolução e há 15 fazer as privatizações. Fora isso não se lhe conhecem grandes rasgos teóricos, embora se lhe conheçam muitos tiques populistas. Se os partidos à direita do PS não fizerem o trabalho de casa, não reinventarem a cidadania e não conseguirem ter um programa próprio estruturado, quer-me parecer que o eng. Sócrates, ou os seus sucessores, irão ganhar os próximos actos eleitorais por falta de comparência do adversário.


(de O Independente)