November 07, 2004

SER DO CONTRA

BLOGS – Estas foram as primeiras eleições que viveram sob o constante foco dos blogs. Desde a angariação de fundos até à organização de voluntários para as campanhas, de tudo se passou nos blogs. Penso não ser exagero dizer que os democratas e Kerry eram maioritários na blogosfera. Mas, como se vai comprovando, os Blogs são um novo e extraordinário meio de expressão, mas são ainda um instrumento de minorias e de elites. Não se pode ver o mundo através dos seus olhos, senão começa a haver uma distorção. A multiplicação de vozes pró-Kerry na blogosfera ajudou a dar a ideia de que a opinião pública queria maioritariamente afastar Bush. Afinal não foi nada disso que se verificiou. Há coisas para aprender aqui. Continuando a ver e fazer blogs, claro.

NEGATIVO – Uma campanha eleitoral toda feita contra alguma coisa não é o suficiente para acabar com ela. A prova está aí: provavelmente o maior erro de Kerry foi ser tão obsessivamente do contra, ter dado mais realce às suas opiniões contra Bush do que em mostrar aquilo em que acreditava, em falar das suas propostas e de como as queria concretizar. Como tudo o resto, a política tem que ser feita pela positiva. Falar só pela negativa é uma perca de capacidade de comunicação e de mobilização. As eleições ganham-se a anunciar o que se quer fazer, não o que se quer desfazer.

FLOP – Michael Moore deve estar à beira de um ataque de nervos. O autor de «Fahrenheit-911» bem se esforçou por manipular a opinião pública, mas o efeito prático da forma apalhaçada com que faz uns filmes (que quer fazer passar por documentários) foi afinal bem reduzido – o objectivo confesso do filme (derrubar Bush) – não foi afinal conseguido. Quando se quer mascarar a propaganda como arte, as pessoas acabam por perceber. Pode demorar tempo, mas percebe-se.

POR CÁ – O sindroma do contra é endémico na sociedade portuguesa - e alimentou a figura do Velho do Restelo. Por cá fica sempre bem ser do contra, é sempre mais difícil ser a favor de alguma coisa. A oposição só gosta de dizer aquilo em que está contra o que o Governo faz. Os media gostam sempre de publicar temas contra o Governo e os seus membros. Na Assembleia os deputados falam mais frequentemente das coisas contra as quais entendem manifestar-se, do que daquilo de que são a favor. As opiniões do contra são melhor acolhidas que as opiniões a favor. Ser do contra é bom, ser a favor é mau.

ABSTRACÇÃO – Vamos por um instante imaginar que o Primeiro Ministro não era Pedro Santana Lopes e que o Governo tinha tomado exactamente as mesmas medidas que já tomou. Acham que se assim fosse o número de vozes contra seria maior ou menor? Exercício curioso, não é? – dá que pensar sobre os efeitos de uma coisa que varre a sociedade portuguesa: preconceito.

TABUS – Citado, com a devida vénia, do artigo de capa da edição desta semana da revista britânica «The Spectator»: « Os tabus existem não somente porque são um reflexo de coisas que a opinião geral considera serem más, mas existem também porque contribuem para dar um sentido de unidade e coerência, real ou imaginário, à sociedade. É certo que os tabus não necessitam de ser sujeitos a um mecanismo de avaliação democrática da maioria que os suporta. Geralmente basta que um número suficiente de fazedores de opinião,as grandes organisações de meios de comunicação e a classe política os definam e logo toga a gente se lhes submete.»

BACK TO BASICS – Nunca tomar os desejos por realidades.

O MELHOR DA SEMANA – A maneira como correram as eleições americanas.

O PIOR DA SEMANA – O atraso de Kerry no reconhecimento da derrota.

A PERGUNTA – Que se passará na cabeça de George Soros depois de ter investido mais de 20 milhões de dolares numa campanha anti-Bush?

SUGESTÃO – A edição norte-americana da revista «Esquire» de Novembro, o clássico «The Women We Love Issue», com Angelina Jolie na capa e, lá dentro, a lista dos melhores novos restaurantes dos Estados Unidos.