November 05, 2004

Manual da Manipulação
(In «Independências»)

Ingredientes: uma ideia para transmitir, uma fonte minimamente credível (um assessor, um deputado, um dirigente partidário, um membro do Governo), uma boa lista telefónica.
O conceito funciona desta forma: a ideia a transmitir não deve ser uma notícia, mas deve conter a sugestão de que se está por dentro de uma coisa que poderá vir a ser notícia. A fonte escolhe o difusor da ideia, e aqui há duas opções possíveis: ou um influente semanário que nunca investigue os dados que lhe são soprados ao telefone ou à mesa do restaurante, ou então um jornal de segunda linha. No primeiro caso a «dica» poderá ser apenas uma entre muitas «inconfidências», o destaque que tiver depende da competição entre as várias pistas largadas na tarde de sexta-feira para os diligentes transmissores e analistas; no segundo caso, pode ser encarada de forma suficientemente relevante para ser paginada com destaque.
O passo seguinte é sempre o mesmo: o que interessa é conseguir publicar a primeira «dica», a partir daí o processo gira sózinho – essa «dica» vai entrar na agenda das outras redacções e a partir daí os outros media vão trabalhá-la. Isto quer dizer que vão procurar reacções – essa terrível forma de manipular a informação que se tornou uma rotina. A «dica» passa a ter estatuto de verdade incontestada e desde os seus hipotéticos apoiantes até aos seus eventuais opositores todos falam dela como se de facto consumado se tratasse. Com sorte até um «opinio-maker» escreve sobre o assunto. A isto chama-se «fazer a agenda».. Em muitos mais casos do que se imagina criam-se factos artificiais a partir de um simples rumor. Às vezes, assim, impede-se que alguma coisa aconteça. Ou faz-se acontecer o que antes era improvável.