October 18, 2004

PLÁSTICA - Nos últimos anos criou-se uma doentia misturada entre política e informação. Primeiro, protagonistas da política foram convidados para comentadores; depois criou-se-lhes um estatuto implícito de comunicadores, mais próximos do entretenimento que do jornalismo; pelo meio sofreram uma operação plástica que fez passar protagonistas da vida política por opinadores independentes – que de facto nunca poderiam ser. Na realidade não exprimiam opiniões, limitavam-se a ser instrumentos de ambições ou campanhas – e nisto não há uma única excepção à vista.

SECRETO - Outro lado desta misturada, eventualmente mais grave, tem a ver com o estabelecimento de agendas políticas transformados em pseudo informação.Muito do que é publicado vive de rumores, de fontes não identificadas, de hábeis campanhas de informação e contra-informação em que os jornalistas não são os descodificadores (nem sequer os mediadores) mas meras correias de transmissão. É como se, por exemplo, numa determinada ocasião um jornal publicasse a informação de que existia um acordo secreto para uma futura coligação pós eleitoral, com o único objectivo de esconder a existência de um verdadeiro acordo pré-eleitoral com os mesmos protagonistas. De quem é a culpa de uma desinformação: de quem veicula a notícia – mas não é identificado formalmente – ou de quem a publica, dando apenas ouvidos a sopradores de rumores?

RUÍDOS- Não sei se era a estes rumores, a estas intrigas que todos os dias atravessam todas as redacções do país, que o Presidente da República se referia quando na semana passada, enquanto no estrangeiro, decidiu comentar a actualidade portuguesa, construindo um raciocínio baseado em «ruídos» que se ouviriam nas redacções. Espanta-me que um Presidente da República baseie uma análise em ruídos, mas deve ser sinal dos tempos – afinal , de facto, qualquer Presidente chega ao lugar por ser um político – não vale a pena pretendermos que não sofra dos males que atravessam os partidos e quem neles habita.

PARTIDO - E agora, os partidos, essas uniões de interesses que nos governam e que tão desajustadas são da sociedade. Cada vez compreendo menos a existência dos partidos tais como os conhecemos: nos últimos 30 anos são responsáveis pelo aumento da abstenção, pouco fizeram para reformar o sistema, procuram manter o «status quo» e impedem a entrada de novos protagonistas, privilegiam o seguidismo sobre o espírito crítico e declaradamente assumem a ausência de estratégia como uma vantagem e o excesso de táctica como uma qualidade. Se o melhor que os partidos têm para nos oferecer é isto a que assistimos nos últimos dez dias, então havemos de concordar que o espectáculo não é bonito de se ver – por alguma razão a «Quinta das Celebridades» faz rir e o noticiário político deprime.

REACÇÃO – O estilo jornalismo-reacção é o exemplo da parcialidade de muita informação: quando um facto é sistematicamente confrontado com reacções isto não é a procura de cotraditório, é a tentativa de impedir que o facto seja noticiado de forma clara e que os comentários ao que aconteceu superem a própria notícia original que os motiva.

BACK TO BASICS – Os jornalistas fazem perguntas; os políticos respondem a perguntas.

O MELHOR DA SEMANA – A réplica de António Mexia aos autarcas algarvios.

O PIOR DA SEMANA – 55% da classe A-B vê regualramente a «Quinta das Celebridades».

A PERGUNTA DA SEMANA – Quem reparou no reaparecimento do «Grupo da Sueca» na última quinzena?

RECOMENDAÇÃO – O disco «Canções Subterrâneas», do grupo A Naifa.