September 08, 2004

DA ESQUINA IMPRESSA...
UMA SEMANA CHEIA DE MAR...

O BARCO – Um método simples para conseguir bons resultados de comunicação é fazer uma provocação. Se quem fôr provocado reagir à provocação, o provocador verá o seu objectivo amplificado. Foi o que se passou com o barco do aborto: o sururu foi maior do que se o barco acostasse a fazer o seu folclore – do ponto de vista da acção que pretende implementar não faria mais do que está a fazer em alto mar, mas os ecos seriam bem menores em quantidade e duração. Assim lá teve que vir o Primeiro Ministro a terreiro tentar remediar a trapalhada em que o Governo escusadamente se envolveu.

RELIGIÃO – O fundamentalismo religioso é mau conselheiro. Nenhuma religião é verdade universal, nenhuma pode querer impôr a sua opinião. Na raiz da decisão do Governo sobre o barco do aborto prevaleceu não a Lei, mas a imposição arbitrária da opinião de uma religião sobre o assunto, no caso a Católica. A forma foi tão forçada que até uma das vozes com maior peso de opinião da Igreja Católica, D. Januário Torgal Ferreira, teve que vir a público manifestar uma abertura para discutir o assunto que os sectores mais fundamentalistas do Governo não souberam mostrar. Dá que pensar o facto de, no final, os efeitos da decisão terem levado o Primeiro Ministro e um Bispo ilustre a admitirem a necessidade de debater o que se quis impedir ser debatido – a alteração da legislação sobre o aborto. O barco ganhou mais em ficar ao largo do que em acostar a um porto – isso é que é a pura realidade. Assim tivémos uma semana cheia de políticoa a fazerem comícios no meio do mar.

FILM COMMISSION – Boa ideia a de criação de uma Film Commission (esperemos que seja uma, nacional, e não várias, regionais). Como há mais de uma dezena de anos estive ligado a uma das primeiras tentativas de criar uma estrutura semelhante, convém recordar que um factor de êxito de qualquer das Film Commissions desse mundo que tiveram êxito (Nova Zelândia, Quebec, Irlanda, etc) passa por garantir um pacote atraente e competitivo de incentivos fiscais e financeiros à filmagem e produção audiovisual em Portugal. O sol, o clima, as montanhas, as praias e o mar não chegam – nem os catálogos com bonitas fotografias, por melhores que eles sejam. Só atrairemos rodagens a sério se do ponto de vista financeiro fôr mesmo compensador vir aqui filmar. O resto é ilusão e folclore.


PS – José Sócrates recebeu o apoio de António Vitorino, reconheceu que o PS «devia ter governado melhor» e aponta como objectivo mínimo para Manuel Alegre 40% dos votos. Manuel Alegre propôs a revisão da Lei de bases da Segurança Social e diz que «há medo no PS». João Soares propõe não tributar o investimento atractivo e admite apoiar Alegre se houver segunda volta nas eleições internas.

PSD – Política é isto mesmo: marcar o terreno com um Congresso em Novembro, boa ideia a de fazer uma radiografia de Portugal, a de mudar a imagem, a de apostar nas novas tecnologias para comunicar com militantes e eleitorado, a de procurar contributos externos.

O MELHOR DA SEMANA - Pelos resultados obtidos, pela postura, pela convicção, o Presidente do Comité Olímpico português, Comandante Vicente Moura.

O PIOR DA SEMANA - O governo cubano agravou as condições de detenção do poeta dissidente Raul Rivero, restringindo as visitas e o acesso a medicamentos. Era bem vinda uma campanha de boicote ao turismo em Cuba enquanto o livre pensamento fôr perseguido naquele país.

PERGUNTA- Porque é que o IKEA de Lisboa é mais caro que o de Madrid e de outros da Europa?