October 31, 2004

HIPOCRISIA – Em toda a discussão sobre esta questão da liberdade de expressão há duas ou três coisas que merecem ser ditas, que é para não passarmos todos por hipócritas. Em primeiro lugar todos os proprietários de meios de comunicação, aqui e em qualquer país, têm ideias claras sobre o posicionamento editorial que pretendem que seja seguido – as mais das vezes sobre o que não desejam que seja feito – a coisa é mesmo assim; em segundo lugar a independência de jornais, jornalistas ou comentadores é um mito hipócrita – todos têm as suas opções, todos são influenciados a partir do posicionamento que têm; em terceiro lugar o grande problema que existe em Portugal é a falta da saudável transparência dos media anglo-saxónicos que não hesitam em assumir partido e – mais que tomar posição – dizer quem apoiam. A grande hipocrisia está em pensar que agentes políticos possam fazer comentários inocentes ou independentes – na verdade a coisa tem pouco a ver com liberdade de expressão e mais a ver com ética e conflito de interesses.

POLÍTICA – Nesta história alguém mente e talvez convenha revisitar o passado para ver quem tem mais tradições, digamos, de dizer inverdades: se Miguel Paes do Amaral, se Marcelo Rebelo de Sousa. Sem ser demasiado cínico acho que qualquer observador mediano da sociedade portuguesa tem algumas razões para desconfiar da bondade das intenções de Marcelo e sobretudo da sua ingenuidade. Uma frase não muito sublinhada da resposta de Miguel Paes do Amaral a Marcelo, na noite de quarta-feira, revelava tudo. O Presidente da Media Capital disse, preto no branco, que Marcelo tinha agido para poder fazer um aproveitamento político de uma situação. Dias antes tinha afirmado que dentro de alguns meses tudo se perceberia melhor. Que Marcelo conseguiu aproveitamento político neguem duvida. Continuo a achar que a história ainda está por contar e que daqui a algum tempo talvez tudo se esclareça. Por isso me aflige que os juízos sejam feitos na base de presunções.

IMPASSE – As mais recentes sondagens sobre as eleições norte-americanas da próxima terça-feira apontam para uma probabilidade de empate. Estas eleições destinam-se a encontrar os 538 membros do Colégio Eleitoral, que depois hão-de votar o nome do futuro presidente dos EUA. Muitos comentadores apontam para a possibilidade de, mais uma vez, como aconteceu em 2000, o candidato ganhador no voto popular acabe por ter menos apoiantes no colégio eleitoral. Em 2000 votaram 110 milhões de norte-americanos, todos os esforços vão no sentido de diminuir a abstenção e conseguir mais eleitores.

TÁCTICA – Durão Barroso conseguiu dar a volta ao impasse que estava em vias de ser criado no Parlamento Europeu, em relação à votação sobre os nomes dos novos Comissários. Boa gestão de informação e uma actuação táctica com um timing bem preciso proporcionaram um defecho elogiado pela generalidade dos comentadores dos principais jornais europeus. O próprio Buttiglione, o homem no centro de toda a polémica, admitia na imprensa italiana de quinta-feira que talvez já não lhe interessasse ser Comissário.

DIGITAL – A Apple anunciou a edição em finais de Novembro da primeira compilação musical exclusivamente feita para formato de download digital legal. Através da sua I Tunes Music Store, que vende downloads para o leitor I Pod, a Apple, em colaboração com os U2, vai lançar um conjunto de 400 canções do grupo, «The Complete U2», incluindo alguns inéditos e o novo álbum «How To Dismantle An Atomic Bomb» que vai ter a sua edição no formato CD pela mesma altura.


A PERGUNTA DA SEMANA – Quem fala verdade?

BACK TO BASICS – O tempo acaba por esclarecer tudo.

O MELHOR DA SEMANA – As primeiras imagens de Titã, a lua de Saturno que está a ser explorada pela sonda Cassini, da Nasa.

O PIOR DA SEMANA – A morte de John Peel, um dos mais influentes DJ’s da rádio de todo o mundo, que fez a sua carreira na BBC a revelar talentos. Um exemplo de atenção permanente à inovação.

RECOMENDAÇÃO – A revista «Tabacaria», editada em Lisboa pela Casa Fernanda Pessoa, com direcção de arte de João Francisco Vilhena. É um exemplo raro de elegância editorial.