April 30, 2007

CORRUPÇÃO – Um dos truques que a política tem para liquidar um assunto é apresentar alguma coisa que se pareça com uma iniciativa; assim, o assunto é falado, o respectivo responsável faz um discurso, e espera-se que as pessoas achem que o tema ficou arrumado. Quando João Cravinho apresentou um pacote anti-corrupção e quando o Presidente da República abordou o tema, aquilo que os (bem) preocupava não era a corruptela na multa de trânsito ou numa repartição pública para acelerar o andamento de um processo. As corruptelas são obviamente péssimas e os cidadãos têm boas razões para desesperar de polícias que perseguem a multa, em vez de fazerem prevenção ou de um Estado que é desesperadamente lento. Alberto Costa, um Ministro da Justiça que ficará recordado pelas más razões, lançou um programa anti-corruptela, com o objectivo de evitar o pacote anti-corrupção – esta é a verdade. A corrupção que interessa combater, por exemplo, é a que faz com que decisões de grandes obras públicas sejam tomadas por razões pouco claras, é a que faz com que surjam enriquecimentos rápidos por essas decisões beneficiarem algumas pessoas; a corrupção que interessa combater é a que faz com que a fortuna de alguns se faça à custa de todos, com o beneplácito do Estado e dos políticos, que persistem em manter para si próprios um regime especial e obscuro, aparentemente modesto e frugal, na realidade cheio de financiamentos escondidos e favores largamente compensados no seu retorno à vida civil. Portugal está cheio de exemplos desses e os últimos meses e semanas só o comprovam.


DISCURSO – Inesperado, inesperado é ver Cavaco Silva a apelar ao inconformismo dos jovens e a desafiá-los a assumir um envolvimento mais activo na vida política. Mais uma vez os discursos do Presidente da República são de uma precisão cirúrgica. São certeiras as suas palavras sobre a ritualização das celebrações do 25 de Abril, quando na prática a nossa sociedade vive num ambiente de condicionamento de liberdade de expressão e de concentração de poderes em matéria de informações e forças de segurança. Dá que pensar, não é?


TÚNEL – Prefiro nem comentar o encerramento do Túnel do Marquês dois dias depois de ser inaugurado. São actos destes que tornam o poder ridículo.


VER – «Eu Explico» é o título de uma exposição de Pedro Portugal, que até 26 de Maio estará na Galeria Fernando Santos, em Lisboa, Rua de São Paulo 98. A exposição está aberta de terça a sábado entre as 13h e as 19h30 e o convite mostrava uma obra de Pedro Portugal onde o artista provocatoriamente escreveu «eu sou uma pintura e faço pinturas. Vejam:”.



OUVIR – Após mais de 30 anos de actividade o Kronos Quartet, uma formação de cordas nova iorquina que desde 1973 trabalha com compositores de referência do século XX (como Bártok), contemporâneos (como Arvo Part), ou de jazz (como Ornette Coleman), tendo mais de 40 discos gravados. A mais recente gravação do grupo é baseada num recente trabalho do compositor polaco Henryk Górecki, mais precisamente no seu Quarteto de Cordas nº3, «…songs are sung». É uma novidade este encontro entre um dos mais aclamados compositores contemporâneos e o Kronos Quartet, e o resultado é um disco perfeito. O site do grupo refere que dia 23 de Maio o Kronos actuará em Portalegre, na digressão europeia que acompanha o lançamento deste CD. Até apetece lá ir.(CD Nonesuch).


COMER – Os dias feriados em Lisboa podem ser terríveis quando se procura um restaurante perto do rio onde simultaneamente não haja demasiada gente e a comidinha seja razoável. Uma boa ideia alternativa aos peixes grelhados do costume é ir ao Clube Naval de Lisboa, junto à doca de Belém, e testar o restaurante que lá funciona, o Barra do Quanza, que se dedica à comida de inspiração angolana e brasileira. A opção foi Casca de Siri seguida de Moqueca de Camarão, acompanhado por imperiais de um lado e caipiroshkas do outro. Foi um belo princípio de tarde de 25 de Abril. Serviço simpático, preço razoável, boas fotos de Angola na parede. Barra do Quanza, Clube Naval de Lisboa, tel. 213 620 697.



BACK TO BASICS – Nada perdura tanto como a mudança, Heraclitus.