MONOTONIA – O PSD anda a ficar tão politicamente correcto e previsível que mais se parece com um frasco de soporíferos do que com um partido político. Por este andar não há novo programa que chegue para abanar as hostes e despertar entusiasmo. A forma como se gerem as crises é sintomática das capacidades das lideranças – o que se está a passar, no PSD, no caso da Câmara Municipal de Lisboa é um manual do que se deve evitar.
FANTASIA – O balanço do sector da Justiça feito esta semana pelo Governo é um retrato perfeito da essência do socratismo: manipulação da realidade, tomar os desejos por factos, encher um balão de ar e chamar-lhe inovação e progresso.
COBRANÇA – Ainda sem saber se o Director Geral dos Impostos continua no lugar permito-me chamar a atenção para uns detalhes: o que ele fez foi cobrar dívidas ( e não é pouco), mas cobrou-as a quem já pagava impostos, não me consta que tenha tido grande êxito em ir cobrar a quem foge ao fisco, oculta rendimentos e pura e simplesmente não contribui para o Estado; teve os resultados que teve com recurso a perigosas invasões da privacidade dos cidadãos e com recurso a ameaças, das quais a publicação das célebres listas de devedores, são o mais flagrante exemplo de uma prática que levanta as mais sérias dúvidas. Os fins não justificam os meios – pelo menos ensinaram-me que em democracia, entre gente civilizada, era assim que devia ser.
COISAS – Desagrada-me sempre que se usem modas sociais para fazer negócio e temo bem que seja o que se passa na cadeia de supermercados Pingo Doce com a introdução dos novos sacos de plástico. A ideia é que os novos sacos podem ser usados várias vezes e que, portanto, causam menos lixo. Na prática ninguém traz os sacos usados de volta para levar as compras e a esmagadora maioria dos clientes quer novos sacos cada vez que vai às compras: detalhe – os sacos antigos eram oferecidos, os novos custam dois cêntimos cada. Quantos sacos vende o Pingo Doce no total por dia? E quanto dá isso ao fim do ano? Por detrás de uma bela preocupação ecológica lá está uma nova fonte de receitas… ai aquecimento global, serves para muito…
LER – O novo romance de um jornalista bem conhecido destas páginas, Fernando Sobral. Chama-se «O Navio do Ópio» e parte de algumas situações verdadeiras para tecer uma intriga que cruza uma história de amor com uma análise do espírito lusitano. A coisa é feita de forma natural, passando-se no início do século XIX. A história é simples – o Ouvidor de Macau (cargo na época correspondente a Governador), desesperava da indolência da decisão de Lisboa , temia os avanços dos britânicos na região, e urdiu um plano para fazer da Madeira um entreposto entre Macau e o Brasil – uma situação em que todos teriam, a ganhar. Para testar as coisas decidiu fazer uma plantação de papoilas de ópio em Porto Santo, rompendo assim o monopólio do produto, nas mãos dos ingleses. No Brasil, onde estava a Corte portuguesa exilada, o produto seria recebido de braços abertos, esperava ele. O diagnóstico do país, mortífero, está nestas escassas linhas, logo no início: « Portugal não tem uma visão de futuro. A sua única estratégia é a que cada pessoa consegue concretizar. Vive de contactos. De relações pessoais. E de nada mais. Somos pequeninos. A pensar e a fazer». «O Navio do Ópio», de Fernando Sobral, edição «Oficina do Livro», 241 páginas.
OSCARES – A academia de Hollywood resolveu por uma vez abandonar o politicamente correcto e reduziu o anti-bushismo militante do favorito «Babel» ao prémio para uma banda sonora original interessante (já disponível em Portugal via Universal Music). Este ano os Óscares privilegiaram o grande cinema, as grandes produções, as grandes receitas de bilheteira. E assim os triunfadores da noite foram os históricos estúdios da indústria do cinema, os criadores de «The Departed», com Martin Scorsese à cabeça, o musical «Dreamgirls» e o histórico «The Queen». O nicho do politicamente correcto ficou para o powerpoint de Al Gore, mascarado de documentário sobre o aquecimento global, «Uma Verdade Inconveniente». Há muito tempo que uma noite de Óscares não corria tão bem.
OUVIR – Uma inesperada versão das Variações Goldberg, de Bach, para trio de cordas – sim , leram bem – uma peça composta para teclas interpretada por um violinistas (Julian Rachlin), um viola (Nobuko Imai) e um violoncelista (Mischa Maisky). As melodias das Variações ganham nova dimensão neste arranjo para trio de cordas feito pelo maestro e violinista Dmitry Sithovetsky. Edição Deustche Grammophon, distribuição Universal Music.
BACK TO BASICS – Justiça adiada é justiça negada, William Gladstone.
FANTASIA – O balanço do sector da Justiça feito esta semana pelo Governo é um retrato perfeito da essência do socratismo: manipulação da realidade, tomar os desejos por factos, encher um balão de ar e chamar-lhe inovação e progresso.
COBRANÇA – Ainda sem saber se o Director Geral dos Impostos continua no lugar permito-me chamar a atenção para uns detalhes: o que ele fez foi cobrar dívidas ( e não é pouco), mas cobrou-as a quem já pagava impostos, não me consta que tenha tido grande êxito em ir cobrar a quem foge ao fisco, oculta rendimentos e pura e simplesmente não contribui para o Estado; teve os resultados que teve com recurso a perigosas invasões da privacidade dos cidadãos e com recurso a ameaças, das quais a publicação das célebres listas de devedores, são o mais flagrante exemplo de uma prática que levanta as mais sérias dúvidas. Os fins não justificam os meios – pelo menos ensinaram-me que em democracia, entre gente civilizada, era assim que devia ser.
COISAS – Desagrada-me sempre que se usem modas sociais para fazer negócio e temo bem que seja o que se passa na cadeia de supermercados Pingo Doce com a introdução dos novos sacos de plástico. A ideia é que os novos sacos podem ser usados várias vezes e que, portanto, causam menos lixo. Na prática ninguém traz os sacos usados de volta para levar as compras e a esmagadora maioria dos clientes quer novos sacos cada vez que vai às compras: detalhe – os sacos antigos eram oferecidos, os novos custam dois cêntimos cada. Quantos sacos vende o Pingo Doce no total por dia? E quanto dá isso ao fim do ano? Por detrás de uma bela preocupação ecológica lá está uma nova fonte de receitas… ai aquecimento global, serves para muito…
LER – O novo romance de um jornalista bem conhecido destas páginas, Fernando Sobral. Chama-se «O Navio do Ópio» e parte de algumas situações verdadeiras para tecer uma intriga que cruza uma história de amor com uma análise do espírito lusitano. A coisa é feita de forma natural, passando-se no início do século XIX. A história é simples – o Ouvidor de Macau (cargo na época correspondente a Governador), desesperava da indolência da decisão de Lisboa , temia os avanços dos britânicos na região, e urdiu um plano para fazer da Madeira um entreposto entre Macau e o Brasil – uma situação em que todos teriam, a ganhar. Para testar as coisas decidiu fazer uma plantação de papoilas de ópio em Porto Santo, rompendo assim o monopólio do produto, nas mãos dos ingleses. No Brasil, onde estava a Corte portuguesa exilada, o produto seria recebido de braços abertos, esperava ele. O diagnóstico do país, mortífero, está nestas escassas linhas, logo no início: « Portugal não tem uma visão de futuro. A sua única estratégia é a que cada pessoa consegue concretizar. Vive de contactos. De relações pessoais. E de nada mais. Somos pequeninos. A pensar e a fazer». «O Navio do Ópio», de Fernando Sobral, edição «Oficina do Livro», 241 páginas.
OSCARES – A academia de Hollywood resolveu por uma vez abandonar o politicamente correcto e reduziu o anti-bushismo militante do favorito «Babel» ao prémio para uma banda sonora original interessante (já disponível em Portugal via Universal Music). Este ano os Óscares privilegiaram o grande cinema, as grandes produções, as grandes receitas de bilheteira. E assim os triunfadores da noite foram os históricos estúdios da indústria do cinema, os criadores de «The Departed», com Martin Scorsese à cabeça, o musical «Dreamgirls» e o histórico «The Queen». O nicho do politicamente correcto ficou para o powerpoint de Al Gore, mascarado de documentário sobre o aquecimento global, «Uma Verdade Inconveniente». Há muito tempo que uma noite de Óscares não corria tão bem.
OUVIR – Uma inesperada versão das Variações Goldberg, de Bach, para trio de cordas – sim , leram bem – uma peça composta para teclas interpretada por um violinistas (Julian Rachlin), um viola (Nobuko Imai) e um violoncelista (Mischa Maisky). As melodias das Variações ganham nova dimensão neste arranjo para trio de cordas feito pelo maestro e violinista Dmitry Sithovetsky. Edição Deustche Grammophon, distribuição Universal Music.
BACK TO BASICS – Justiça adiada é justiça negada, William Gladstone.
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