April 09, 2007

PENSAMENTOS OCIOSOS


O regime, na sua ânsia reformadora, vai juntar numa só entidade a Companhia Nacional de Bailado e o Teatro Nacional de S. Carlos. A nova companhia estatal de produção artística, estou a crer que de inspiração soviética, vai chamar-se OPART e tem o parto previsto para Junho. Vozes avisadas já chamaram a atenção para os perigos desta manobra aventureira, que se arrisca a deitar por terra o trabalho de duas entidades que estavam a funcionar bem autonomamente.

Penso que a ideia não será criar uma nova forma de expressão artística, o bailado cantado – não estou a ver bailarinos e bailarinas a fazerem de tenores e sopranos, e não me parece que, inversamente, os cantores e as cantoras pulem levemente de nenúfar em nenúfar. Se assim não é, a coisa não se percebe – tal a distância entre os dois tipos de produção: o da Ópera, que é um dos mais complexos (talvez o mais complexo) no mundo do palco; e o do bailado, que exige tempos e ensaios como nenhuma das outras artes cénicas. Por este andar ainda se arrisca a nascer, neste rincão á beira mar plantado, o tal bailado cantado – variante erudita do Vira do Minho, fonte inspiradora da política do Mistério da Cultura.

(Publicado na Revista Atlântico, edição de Abril)