March 12, 2007

HABILIDADE – Agora é oficial: a utilização das polícias como arma política foi formalmente anunciada pelo Governo. A concentração das várias forças policiais na dependência directa do Primeiro-Ministro é uma preocupante notícia para quem se inquiete com abusos de poder, coisa a que infelizmente o Estado nos tem sobejamente habituado em Portugal.


DESASSOSSEGO – Bastou Paulo Portas anunciar que quer liderar o CDS para o PSD entrar em pré-convulsão. É um estranho fenómeno este que leva o principal partido da oposição a preocupar-se mais com disputas de poder noutros partidos do que em encontrar formas de combater o partido do Governo.


ÚTIL – A Rádio Renascença edita agora diariamente, ao fim da manhã e ao meio da tarde, uma newsletter electrónica chamada «Página Um» (o nome de um dos históricos programas da estação em idos da década de 70), que se destina a fazer a síntese da actualidade. Os assinantes (inscrição fácil no site www.rr.pt) recebem por e-mail, cerca das 12h30 e das 17h30, um ficheiro PDF com noticiário nacional e internacional, previsão metereológica e , no caso da edição da tarde, uma completa agenda dos principais acontecimentos previstos para o dia seguinte. Quem quiser pode imprimir o ficheiro para levar para ler ao almoço ou para folhear no regresso a casa.


CAFÉ-RESTAURANTE – Há poucos dias revisitei um local onde não se pode dizer que se coma muito bem, mas que, em contrapartida, é um belo posto de observação do que é hoje em dia a população de uma zona da cidade famosa nos anos 60, e nessa época bem retratada nos «Verdes Anos», um filme de Paulo Rocha. Falo do café-restaurante «Luanda», num dos prédios simétricos do cruzamento entre a avenida dos Estados Unidos e a avenida de Roma. Cheguei tarde para almoçar ao «Luanda», por volta das três da tarde, já tinha passado a lufa-lufa dos escritórios. A essa hora, percebi, enquanto olhava para a lista, discutem-se os lugares da janela para o chá entre as clientes habituais. E, curioso, mesmo senhoras de grupinhos de lanche diferente, juntam-se na heróica tarefa de guardarem as mesas umas para as outras, tudo com um mapa muito bem definido. Na parte de cima, para além de um pequeno varandim, claramente no final do almoço, um casal dormitava lado a lado, pescoço dobrado, era a sesta – eis então que o «Luanda» é perfeito para uma soneca. À minha frente sentou-se um cavalheiro impecavelmente arranjado, protegido do frio com um sobretudo de gola de astracã, como eu já não via há anos. Foi nessa altura que o meu almoço chegou – e era bem menos agradável que tudo aquilo que se passava à minha volta.


LER – Agora que a noite dos Óscares já dorme, vale a pena devorar a edição especial da Vanity Fair dedicada a Hollywood, um bom hábito que se repete todos os anos. A Vanity Fair de Março é a maior de sempre, com 316 páginas, onde é justo destacar um belíssimo portfolio de quatro dezenas de fotografias de tantos outros nomes grandes do cinema, tudo feito por Annie Leibowitz. Que prazer dá ver/ler uma revista assim onde ainda se encontram imagens do álbum pessoal que Sammy Davis fotografou ao longo da vida, com imagens inéditas de Sinatra, Marilyn ou Robert Kennedy. Ainda na mesma edição portfolios de Mário Testino (o homem que fez a imagem de marca da Benetton) e de Herb Ritts. É difícil ter melhor.


OUVIR – A etiqueta de jazz norte-americana Verve iniciou um programa de reedições do seu catálogo histórico que conta com algumas preciosidades, uma delas a gravação, de estúdio, do encontro de Dizzy Gillespie com Charlie Parker e Thelonius Monk, em 6 de Junho de 1950, encontro que nunca mais se repetiu. Dizzy e Parker tocaram juntos muitas vezes e tinham um enorme respeito mútuo – ambos ajudaram a definir o jazz no pós-guerra. A maior parte dos registos são gravações ao vivo, esta é das raras sessões de estúdio. A presença do piano de Monk (e da bateria de Buddy Rich, já agora), criam um ambiente de swing e uma vivacidade invulgares. O disco levou o título original de «Bird And Diz» e esta reedição da Verve mantém a capa original da Clef Records. CD Verve Classics, distribuição Universal Music.


BACK TO BASICS – O ponto de vista dos Governos sobre a economia é simples: se ela se mexe, apliquem mais impostos; se apesar de tudo ela ainda resiste, implementem regulações; quando ela finalmente pára, preparem a atribuição de subsídios – Ronald Reagan.