April 20, 2007

CIDADE - Desde há cerca de dois meses estou a trabalhar nas Avenidas Novas. Para mim esta era sempre uma zona de passagem, e na realidade é dos locais de Lisboa mais bem pensados no passado e mais maltratados no presente. Superfície plana que convida a andar, muitas árvores (há mesmo uma rua inteira com arvoredo, a Conde Valbom), muito comércio local, muitos restaurantes, desde comida vegetariana até especialidades bem portuguesas, a oferta é variada e imensa. Alguma alma peregrina teve aqui há uns anos a ideia de transformar parte das Avenidas Novas em pistas de sentido único, nomeadamente na Marquês de Tomar e na Miguel Bombarda – as quatro faixas pretendidas estão frequentemente reduzidas a uma ou duas por causa dos estacionamentos, descargas e obras. Mas o pior de tudo, o que constitui mesmo um atentado, é a forma como o Metropolitano de Lisboa foi autorizado a fazer obras e a colocar estaleiros na extensão da linha encarnada, que desventrou a Duque de Ávila, a transformou no cenário de um bombardeamento e encravou irremediavelmente a zona da Marquês da Fronteira, no cruzamento com a António Augusto de Aguiar. As obras estão já atrasadas, prazos iniciais excedidos, um inexplicável estaleiro autorizado em pleno cruzamento – as responsabilidades conjuntas do Metropolitano (que é dono da obra) e da CML (que autorizou os estaleiros) são totais neste atentado aos lisboetas. Um atentado continuado, arrogante, sobre o qual, pelos vistos, ninguém é responsabilizado – se a Câmara funcionasse já tinha obrigado o Metropolitano a diminuir as consequências do problema. Simplesmente lamentável.


SEMANA – Continuam as divergências entre o Gabinete do Primeiro Ministro e factos e documentos relacionados com o processo da sua licenciatura…percebe-se agora que aqui há uns anos a Universidade Independente criou um autêntico nicho de mercado, facilitando canudos a políticos activos e figuras públicas em busca de um grau académico…se isto tudo acontecesse há dois anos, não havia de faltar quem dissesse que o Primeiro Ministro se havia enrolado em mais uma trapalhice…nesta história toda o que mais espanta é a falta de ética – de quem se dispôs a obter canudos facilitados, de quem se dispôs a fornecê-los até com exames privados em casa, e de quem quis esconder todo o processo, todos os arranjinhos, toda a fábrica de ilusões montada e encenada.


OUVIR – Nada como o piano para descansar de todo o ruído criado pelo caso da Universidade Independente. Para estes dias de brasa sugiro uma edição recente, gravações ao vivo, em recital, inéditas, de Alfred Brendel, seleccionadas pelo próprio pianista a partir de uma vasta série de gravações da BBC. Brendel considera que aqui estão, do ponto de vista da interpretação, execuções de referência das Variações Diabelli, de Beethoven, da «Grande Polonaise» de Chopin e das «Variations Sérieuses de Mendhelssohn. «Alfred Brendel, Unpublished Live And Rádio Performances 1968-2001», CD duplo Philips, distribuição Universal Music.


VER – Um site delicioso, basicamente sobre ideias invulgares de design, chamado Digital Drops e que, graças a indicação de um bom amigo, localizei em http://www.digitaldrops.com.br/drops/design/ . Desde estantes com sofás incorporados até novidades em gadgets ou equipamento electrónico variado, tudo se pode aqui encontrar.


COMER – O Pateo Bagatela aloja alguns bons restaurantes, é um sítio simpático para um almoço, a escolha é múltipla, o estacionamento no parque é fácil. Uma proposta relativamente recente é a de um novo restaurante italiano, o «Migari», com aquele conceito italiano muito importado do Brasil. Boa base de matéria prima, confecção cuidada, sabores bem equilibrados, uma tradição italiana mais fiel do que aquela que durante alguns anos dominou em Portugal. Serviço atencioso, mesas amplas, espaço interior simpático, garrafeira razoável, preços a condizer. Ristorante Magari, Pateo Bagatela loja K, tel. 21 383 22 46.




BACK TO BASICS – Assegurem-se que têm os factos na mão e depois distorçam-nos como vos der mais jeito – Mark Twain.