November 22, 2004

SEM ILUSÕES

MUDANÇAS – Olhando para o que se passa à nossa volta sou levado a seguir este pensamento, que me chegou por mão amiga: nenhuma sociedade ou civilização se esgota e morre, sobretudo de morte total, por um ataque de dúvida; é mais fácil que o definhar venha pela razão inversa, isto é, por causa da petrificação ou arterioesclerose das crenças. Talvez valha a pena estender este raciocínio e levá-lo mais além. Começa a ser evidente que o sistema político e partidário tem uma lógica interna que não permite que surjam verdadeiras mudanças, que evita transformações. Por isso, provavelmente, faz sentido pensar em novas formas de intervenção, faz sentido colocar dúvidas, debater novas formulações que só surgirão de rupturas e, muito provavelmente, nunca de evoluções a partir do modelo actual. Na verdade os apelos à democratização interna dos partidos e a uma maior preocupação dos políticos pelos cidadãos significaria a subversão total do esquema que está instalado. Não me parece que os políticos vão cometer suicídio colectivo e iniciar um processo de auto-destruição do sistema que lhes assegura o poder.

INVENÇÃO – Uma das maiores multinacionais, a Unilever decidiu há uns anos impulsionar a criatividade como factor de mudança da cultura da empresa. De facto o objectivo inicial era procurar um toque mágico na maneira como se imagina a produto, como se pensa no consumidor,
como se comunica, como se faz publciidade. Em 1999, na sede de Londres da companhia, iniciou-se o programa Catalyst, baseado no princípio de trazer para dentro da lógica empresarial o sistema de inovação da criação artística. Instrumentalmente o programa Catalyst começou por intervir na decoração da empresa e, depois, em fórmulas de entretenimento para os funcionários. Mas rapidamente se estabeleceu como um processo estratégico de transformação pessoal e organizacional. Do teatro ao cinema, passando pela poesia, a música ou as artes plásticas o Catalyst tem intervido na transformação da cultura da empresa, em estimular o surgimento do potencial criativo dos quadros, em aumentar a partilha de descobertas com os colegas. De facto, ao apostar na arte contemporânea, o Catalyst estimulou a descoberta, a dúvida, o pensamento e as interrogações sobre uma visão mais ampla da sociedade. Tudo isto foi relatado na semana passada em Serralves numa interessante conferência intitulada «Arte e Empresa, uma aliança criativa». O Presidente da Fundação, António Gomes de Pinho, na sua intervenção inicial, deixou um desafio aos gestores portugueses: « sejam criativos, imaginativos, intuitivos, visionários». É um apelo que devia percorrer toda a sociedade, e não apenas as empresas.

LUCIDEZ – O ex-Presidente da República do Brasil, Fernando Henriques Cardoso, passou esta semana por Lisboa e no meio da intervenção que proferiu a convite da Fundação Luso-Brasileira, fez uma afirmação de uma enorme actualidade: «A lucidez, em política, só aumenta a angústia».

BACK TO BASICS – Citando Charles De Gaulle, «a política é um assunto demasiado sério para ser deixado só aos políticos».

RESTAURANTE – Xanti, comida indiana, na Casa de Goa, Calçada do Livramento 17, junto ao Palácio das Necessidades. Tel. 21 393 01 71. Um grande espaço, uma cozinha surpreendente.
LEITURA – O artigo sobre a tecnologia e o método utilizados pelo arquitecto Frank Gehry no seu processo criativo, na revista «Wired», edição de Novembro, também disponível em www.wired.com
TENTAÇÃO – A mostra Mundo Mix, Tivoli Forum, Avenida da Liberdade, dias 20, 21,27 e 28 de Novembro.
SUGESTÃO – A Arte Lisboa no Pavilhão 4 da FIL do Parque das Nações, até às 20h00 de segunda-feira.