January 28, 2008

BOM – A Câmara Municipal de Lisboa resolveu voltar a apoiar a Experimenta Design – que desta vez tem um pólo internacional, em Amesterdão. Não entendo porque é que a oposição se absteve ou votou contra a proposta que António Costa apresentou. É com posições destas, em temas destes, que as oposições se descredibilizam. Será que não conseguem entender o impacto que iniciativas destas têm na imagem e – a médio prazo – nas receitas de uma cidade?


MAU – A prestação do Inspector Nunes, da ASAE, no Parlamento. O que disse, em resumo, é que os fins justificam os meios – princípio que o tem norteado. O que lhe falta em bom senso, sobra-lhe em arrogância. A questão do comportamento do Inspector é de princípio e é política: queremos uma autoridade policial que recorre a todos os meios para atingir os fins do seu responsável máximo?


PÉSSIMO – O que se anda a passar por aí com os problemas na rêde de gás é assustador. Alguém devia estudar o que está acontecer, ver o histórico, perceber como as coisas foram feitas há uns anos, ver quem deu instruções para que fossem adoptados procedimentos, quem eram os responsáveis, como se criaram e funcionam as fiscalizações.


O MUNDO AO CONTRÁRIO – O PSD dá mais nas vistas pelas clivagens internas do que pela oposição que de facto consegue fazer. No mais recente episódio o PSD ficou esmagado pela sombra do responsável da agência de comunicação que lhe devia tratar da imagem e que acaba por ter mais notoriedade que o próprio cliente…


INDEFESOS – Um português que tenha um problema de saúde e seja levado a colocar-se na mão do Estado tem motivos para ter receio – o que se tem passado nas urgências é capaz de pôr os cabelos em pé a qualquer um. Sem ovos não se fazem omoletas – alguém será capaz de explicar isto ao Ministro da Saúde?


PESADELO – Agora quando se sai de um prédio de escritórios o melhor é ir com uma ventoinha na mão para afastar as nuvens de fumo das concentrações de fumadores. Aqui está um desafio para os arquitectos que projectarem novos edifícios.


VER – As novas exposições propostas pela VPF Creamarte e pela Plataforma Revólver, ambas na Rua da Boavista nº84, perto do Mercado da Ribeira. Na VPF André Banha mostra as suas obras sob o aliciante título «Segurei-te o Pôr do Sol» e no andar de cima, na Plataforma Revolver, uma colectiva de novos artsitas sob a designação «Central Europa 2019» e que agrupa obras de Ivo, Joana Rosa, Margarida Dias Coelho, Tiago Borges e Rui Valério. De terça a sábado, das 14h00 às 19h30.


LER – A edição de Janeiro da revista «Vanity Fair» tem sobejos motivos de interesse: uma demolidora reportagem sobre os bastidores da vida de Rudy Giuliani, a história de capa com Katherine Heigl (a estrela de «Anatomia de Grey» e de alguns novos filmes) . As fotografias são excelentes e no site da revista há um vídeo sobre a sessão fotográfica. A ler ainda a história da vida de uma lenda de Hollywood, Angie Dickinson. A finalizar não percam as fotografias de Tim Walker a ilustrar um artigo sobre ingleses excêntricos.


OUVIR –.O novo disco de Cat Power, «Jukebox», uma recolha de canções célebres que pega em originais de Joni Mitchell, Bob Dylan, James Brown, Lee Clayton, Nick Cave e muitos outros. É um cancioneiro que atravessa diversas épocas, servido por arranjos discretos e eficazes, uma produção minimalista, tudo ao serviço da capacidade de interpretação de Cat Power, aqui bem destacada. Na FNAC há a edição especial com um segundo CD com mais cinco faixas extra, também versões.



BACK TO BASICS – «A política é com os políticos» - Santana Lopes sobre as reservas em ter no interior do seu Grupo Parlamentar a agência de comunicação contratada pelo PSD.

January 24, 2008

A CULTURA, FACTOR COMPETITIVO
(Publicado no diário «Meia-Hora» de 23 de Janeiro)

O Senhor Presidente da República iniciou um roteiro sobre o Património, iniciativa obviamente louvável e interessante e muito de acordo com a linha oficial de privilegiar o património cultural existente em detrimento do fomento da criatividade. É coisa, aliás, que já vem dos tempos em que foi Primeiro Ministro e faz parte da linha de acção defendida por nomes como Vasco Graça Moura, um dos seus apoiantes.

Esta acção insere-se às mil maravilhas no discurso oficial da actual Ministra da Cultura, ela própria uma notória partidária de evitar fazer o que quer que seja de novo e canalizar energias para o que já existe.

Infelizmente esta forma de olhar para as coisas não existe só a nível do Governo. São poucas as autarquias que têm uma estratégia de política cultural virada para o futuro, são poucas as que projectam a criação de redes, de ligações nacionais e internacionais, são poucas as que estimulam o desenvolvimento da criatividade. Já nem falo do Porto, onde o edil se preocupa mais com corridas de automóveis e de aviões do que com qualquer coisa que vagamente se prenda com os malefícios das artes e da cultura. Mas seria interessante ver Lisboa preocupada com isto em vez de se concentrar em manifestações mais ou menos folclóricas e passageiras.

A revista «Time» desta semana escreve preto no branco que a principal razão das visitas turísticas a Nova York reside no desejo de aproveitar a oferta cultural local. Em cada ano, escreve a revista, 7,5 milhões de visitantes têm esse objectivo e o Metropolitan Museum Of Art recebe 4,6 milhões de visitantes por ano. Nova York é uma cidade criativa e apesar de ser a capital financeira do mundo moderno, as indústrias criativas no seu todo (comunicação, edição, produção audiovisual, artes plásticas, design, música, dança, teatro, arquitectura, moda e publicidade) são o segundo sector que mais gente emprega (logo a seguir ao sector financeir) e são o que mais contribui para a imagem externa de Nova York como um pólo de atracção. Isto não se consegue de um dia para o outro, no caso de Nova York, vem de um continuado esforço desde os anos 60. Mas é um esforço que dá frutos. Como a «Time» escreve, «os economistas defendem que as artes, tal como o bom clima e boas escolas, são um factor determinante para atrair profissionais qualificados, que por sua vez dão um local uma vantagem competitiva». Porque é que por cá se pensa tão pouco nisto?

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January 21, 2008

BOM – Duas boas novidades esta semana na área da comunicação. Em primeiro lugar os estudos revelam que em 2007 aumentou o número de leitores de jornais, mostram que a imprensa resiste e ganha audiências. Ler jornais é o primeiro passo para um país que quer evoluir. Bem sei que os jornais gratuitos têm um papel nisso, mas em si é bom. E é muito bom saber que este «Jornal de Negócios» foi dos títulos que mais evoluíu. A segunda boa notícia vem da televisão: José Fragoso é uma boa escolha para a Direcção de Programas e José Alberto Carvalho é também a boa escolha para a Direcção de Informação da RTP 1.



MAU – A forma como Luís Filipe Menezes se resolveu armar em editor de estações de televisão e se pôs a escolher comentadores televisões e a sugerir conteúdos. Se na oposição faz isto, imaginem se um dia tem poder… O aconselhamento do PSD em matéria de comunicação é do género elefante em loja de porcelanas.



PÉSSIMO – O facto de o Sr. Nunes, da ASAE, se afirmar convicto da bondade da participação de agentes sob as suas ordens em programas de instrução policial anti-terroristas. Em vez da persuasão, a força é o seu lema. Cada semana se descobrem novas interpretações abusivas da ASAE. É um caso de notoriedade ganho pela mediocridade da acção e pelo abuso de poder. Por este andar qualquer dia a ASAE começa a fiscalizar a qualidade e condições de armazenamento das hóstias nas igrejas e o método de limpeza dos cálices de vinho usados pelos sacerdotes. Já faltou mais…



O MUNDO AO CONTRÁRIO – Santos Silva, essa extraordinária figura do regime, esse exemplo de manipulação da realidade, a querer fazer crer que a decisão sobre a atribuição do novo canal de televisão não será tomada pelo Governo mas por um organismo – A Alta Autoridade - cujo histórico é fazer tudo o que dá jeito ao Governo, seguir todas as suas instruções, um organismo que é fruto de negociações palacianas de bastidores em que o próprio Santos Silva esteve envolvido.



CRIATIVIDADE – Se alguns dos novos métodos de gestão utilizados na área da cultura e nos media fossem utilizados em instalações industriais tradicionais não me espantava que de uma fábrica de cimento passassem a sair sacos carregados de areia. A subalternização do talento, a falta de atenção à qualidade dos conteúdos é o maior perigo para tudo o que são áreas criativas. Com má matéria prima não se fazem boas construções. Investir pouco nos conteúdos e na qualidade das edições afasta público, anunciantes e compromete a existência de um negócio a médio-longo prazo, mesmo que a curto prazo faça aumentar a rentabilidade.



DESCOBRIR – Uma tarde na net, na passada terça feira. De um lado a Assembleia Geral do BCP, do outro a apresentação das novidades da Apple por Steve Jobs. Relatos em directo, o prazer de nos sentirmos dentro da acção mesmo quando bem longe fisicamente. Coisas que o admirável mundo novo proporciona.



PETISCAR – Ovas de bacalhau de La Gôndola, fábrica conserveira tradicional em Perafita, Matosinhos. Vêm enlatadas em bom azeite, cada caixa traz 120 gramas (por cerca de 5 euros). Saborosas, são ricas em cálcio e ferro, 370 delicadas calorias em cada 100 gramas. Um verdadeiro petisco português – brilhante sobre uma fatia de broa, acompanhado por um bom vinho verde.



LER – Vasco Pulido Valente a explicar como o povo unido jamais será vencido. A coisa não reporta a 1974 mas sim a 1808, quando o país se levantou contra o invasor francês, numa autêntica revolta popular. Num curto ensaio de cerca de 100 páginas, Vasco Pulido Valente como que faz uma reportagem dos acontecimentos, descrevendo a situação, relacionando factos, relatando o sucedido, percorrendo o país de norte a sul. «Ir Pró Maneta» é um dos mais deliciosos livros sobre História de Portugal que li ao longo da vida, muito centrado na brutalidade da actuação de um dos generais franceses, Loison (conhecido pela alcunha do «Maneta»), que mais contribuiu para a revolta dos populares e que mais gente matou.


OUVIR – Num tempo em que se voltou a ouvir fado é boa ideia revisitar o que é a referência de todos – Amália Rodrigues. A Valentim de Carvalho juntou numa edição especial os dois álbuns « O Melhor de Amália», compilados em 1995 e 2000, e em parceria com a Som Livre fez uma bela edição que agrupa os quatro CD’s e mantém as informações e imagens das edições originais. 56 fados, 56 grandes interpretações de Amália, de «Foi Deus» a «Tudo Isto é Fado», passando pelo extraordinário «Ai Mouraria» ou o delicioso «Lisboa Não Sejas Francesa». «O Melhor de Amália», edição especial de 4 Cd’s.



BACK TO BASICS – Os erros são a porta de entrada nas descobertas – James Joyce.

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January 18, 2008

O PRAZER DA IMPRENSA
(Na edição de quarta-feira do diário «Meia-Hora»)

Hoje começo por uma pergunta ao leitor: - sabe que em 2007 muito mais portugueses adquiriram o hábito de ler jornais? – Isso deve-se à distribuição de jornais gratuitos, como este «Meia Hora» que está a ler. Tudo indica que neste novo ano a tendência se irá aprofundar.

Ganhar hábitos de leitura é bom, é mesmo fundamental. O número de pessoas que habitualmente lêem jornais é um dos indicadores importantes do desenvolvimento das sociedades e, infelizmente, também aí Portugal está na cauda da Europa. Para além do analfabetismo ( a incapacidade de ler), existe o analfabetismo funcional – aquelas pessoas que, teoricamente sabendo ler e escrever, na prática não têm o hábito da leitura e aos poucos vão perdendo a sua capacidade. A taxa de analfabetismo funcional dos portugueses é enorme. Eu acredito que os jornais – e neste caso os gratuitos – ajudam as pessoas a interessarem-se pelo que está à sua volta e a perceberem a importância que para as suas vidas tem o conhecimento e a informação.

Mais do que qualquer outro meio, a imprensa contribui para a nossa memória colectiva – regista o que se passou, descreve e interpreta os acontecimentos, mostra as imagens. Mais: é o meio que mais oportunidade dá para exprimir opiniões, de alimentar o pluralismo e o debate na sociedade. E, nos dias que correm, cada vez mais, a imprensa é o melhor meio para procurar públicos segmentados, importante quando se querem atingir mercados mais sofisticados.

E, por último, a imprensa é o meio mais avançado na integração com a Internet e são as empresas jornalísticas baseadas em jornais e revistas que melhores sites têm feito, que mais têm aproveitado as oportunidades de negócios na área digital e que se têm revelado os melhores parceiros para novas formas de publicidade e para a segmentação de contactos com os consumidores.

Ora é exactamente por tudo isto que eu gosto especialmente da imprensa – porque nos permite ler, reter, comparar, pensar. Se tenho saudades de alguma coisa, em termos profissionais, é do mundo da imprensa e não de outro qualquer. A televisão é o reino do instante e efémero, a rádio transformou-se no reino das citações com registo sonoro quase sem mediação, e a imprensa continua, felizmente, a ser o sítio onde se pode ainda perceber o que se passou. Leiam muito neste novo ano.

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January 15, 2008

REVISTA ATLÂNTICO
Não percam a edição deste mês - belos artigos de Rui Ramos, José Miguel Júdice e António Carrapatoso, entre outros. E a coluna habitual sobre televisão, intitulada «Sentados No Sofá», da minha lavra, e que aqui se reproduz. No entretanto espreitem aqui


A HORA H
Nos últimos quatro anos a RTP deve uma gestão estável e foi possível fazer muita coisa a nível de organização da empresa e respectivo equilíbrio financeiro. Em termos de conceito de serviço público houve altos e baixos, como em qualquer época anterior. Mas na realidade, em termos de definição da missão do operador público de televisão e rádio, e sua concretização, muito continua por fazer.

Por isso mesmo, aqui sentadinho no meu sofá, dei comigo a pensar que valia a pena o accionista, que é o Estado, reflectir sobre este assunto – numa altura em que a Televisão Digital Terrestre está aí à beira e em que novos canais privados são já dados como certos.

Existe portanto um ponto assente: a realidade vai mudar, a paisagem audiovisual portuguesa vai sofrer transformações acentuadas nos próximos quatro anos.

Qual o papel e quais as linhas de força da actividade do operador público nesse horizonte de tempo?

A questão tem na realidade um duplo sentido: por um lado definir melhor a esfera de acção de cada canal de televisão de serviço público (e, já agora, também de rádio) e, por outro, definir que papel deve ter a RTP no fomento articulado do desenvolvimento da produção audiovisual portuguesa. Até agora existe um contrato de investimento plurianual com a RTP, tímido e por vezes de difícil execução. É preciso ir bem mais longe.

Um operador da televisão pública que seja de facto aliado do Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia e que participe activamente no fundo de investimento de capital autónomo para o fomento e desenvolvimento do cinema e do audiovisual, pode ter um papel único no desenvolvimento da produção audiovisual, nomeadamente nas áreas da ficção e do documentário, mas também no registo das artes performativas e na relação com outras áreas criativas e artísticas.

Sempre achei que o operador de serviço público deve ser um dinamizador da produção independente e uma referência em termos da tipologia e da qualidade que se pretende. Durante muito tempo (e a administração cessante infelizmente fomentou esta ideia), a produção independente foi encarada como inimiga da RTP – quando na verdade deve ser encarada como parceira necessária no desenvolvimento da indústria audiovisual portuguesa. Não me canso de repetir que, nos dias que correm, a defesa da língua e da cultura de cada país reside, em primeiro lugar, na sua capacidade de existência no mundo audiovisual e digital. E a esse nível continua quase tudo por fazer.

O serviço público da RTP ou passa por aí - e se justifica o investimento que o Estado para lá canaliza - ou então a sua actividade serve apenas para alimentar uma máquina sem rumo próprio, concorrente às estações privadas, e que garante um palco negociado entre as forças políticas que alternam no Governo do país. E o serviço público só se justifica se este novo paradigma for encarado de frente.



PENSAMENTOS OCIOSOS I

Quando tiverem um bocadinho de tempo e quiserem perceber o que é na realidade bom serviço público, podem visitar o site do Public Broadcasting Service norte-americano (www.pbs.org ) . Para além da história, organização, financiamento e funcionamento das várias estações locais que aderiram ao conceito, têm permanentemente novidades sobre novos programas, quer documentários, quer educacionais, quer reportagens de actualidade ou debates, como por exemplo sobre as próximas presidenciais americanas. É engraçado ver como há sites específicos para crianças, pais e professores, além de extensas zonas de navegação para todos os que querem apenas mais informação sobre a programação e a estação. Um exemplo de boa acessibilidade, boa informação e, acima de tudo, excelentes princípios e objectivos.



PENSAMENTOS OCIOSOS II

A recente greve dos guionistas norte-americanos devia fazer-nos pensar aqui um bocadinho nesta Europa e, em particular, neste Portugal. Como alguns terão notado, o motivo da greve tem a ver, essencialmente, com a distribuição da parte dos direitos de autor e conexos que os guionistas entendem que lhes é devida, em função da distribuição de obras audiovisuais baseadas nos seus textos em outros formatos para além daqueles para que foram originalmente escritas, ou seja os filmes e a televisão. Hoje, para além da tv, temos que contar com a distribuição digital em PDA’s, telemóveis e iPod’sm, com a edição em DVD ou ainda com downloads via net ou via cabo – para só citar alguns exemplos. O que os guionistas querem é o seu quinhão nestas novas receitas, como alguns realizadores, actores e produtores já têm nos Estados Unidos.

Mais cedo ou mais tarde a União Europeia vai também exigir o cumprimento das remunerações acessórias relativas aos direitos de autor – e em Portugal a situação é particularmente grave já que muito boa gente – a começar pelo serviço público que devia dar o exemplo de boas práticas nesta matéria – se escuda no conceito de obras de encomenda para não distribuir as remunerações acessórias.

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January 14, 2008

O HOMEM - Ele fala com um toque de voz enfatuado, um pouco entre o pedante e o estrangeirado. Levanta o queixo, sobranceiro. Noutros tempos podia ser tomado por um provocador. Mas não. É diferente, é um Ministro. Há uns dias apareceu na televisão a defender o encerramento das urgências hospitalares. NA pose, displicente, era indiferente perante a morte. Dos Outros, claro. Mudou de tema rápido e defendeu a actuação da ASAE. Assumiu a infalível autoridade do Estado. O homem que sabe tudo, na mesma entrevista, logo a seguir disse que o Lisboa-Dakar não corria perigo nenhum e não via razão para cancelamento da prova. 12 horas depois, disse que compreendia a dimensão do perigo. A criatura tem um nome – Silva Pereira. E tem uma função – escudeiro de Sócrates.


O PESSOAL - Olho à minha volta e vejo que o pessoal político está bem um para o outro, dos dois lados do baralho. Ribau Esteves deve ser feito do mesmo ADN de Silva Pereira. Menezes parece-se com Santos Silva – não consegue mais que isso. Vitalino Canas é a alma gémea de Marco António. Até parece que Portugal foi pioneiro da clonagem humana e que o laboratório de experiências foi o Bloco Central. O que passa é que todos mentem sem saberem que o fazem, todos prometem o que nunca vão cumprir, todos andam apenas a arranjar pretextos. Com políticos destes não vamos a lugar nenhum – e o velho Eça de Queiroz começa a ter razão – estes políticos e estes partidos não vão cair, têm que ser removidos a benzina porque são uma nódoa.


A TELEVISÃO - O Governo abriu a porta a um novo canal de televisão. Mas continua sem ir ao fundo do problema: qual o papel do Serviço Público? Como este executivo defende que o serviço público de televisão continue no mercado publicitário, sem mais restrições, é inevitável que o queira a competir em audiências. Como o Governo defende que o operador público deve ter novos canais com conteúdos que estão na matriz da definição do serviço público em qualquer lado do mundo – conhecimento e programação infanto-juvenil de qualidade – é porque quer reduzir e menorizar estas áreas nos seus canais generalistas. A quem serve isto? O Estado, recordo, é simultaneamente o accionista único de canais de televisão e o árbitro da nova realidade da Televisão Digital Terrestre. Não existe aqui um jogo perigoso?


O EXERCÍCIO - O Governo reduziu o IVA dos Ginásios para 5% para fomentar o exercício físico. Óptimo. Mas não reduziu a incidência do IVA nos produtos culturais: CD’s e DVD’s continuam a pagar 21%, ao contrário de Espanha, em que pagam 4%. Os livros aqui pagam 5% e em Espanha 1%. A Ministra da Cultura irá pedir para ser equiparada a Personal Trainer?


A PROMESSA - Quando um Primeiro Ministro contraria uma promessa eleitoral, que deve fazer? Para voltar atrás em mais uma promessa eleitoral – aprovar o novo texto guia da Comunidade Europeia em referendo - refugiou-se no trocadilho de palavras – não é um tratado sobre batatas mas sim sobre a forma de plantar batatas. Eu aliás sou dos que prescindo do referendo – mas o que está em causa é como os políticos de hoje fazem promessas para ganhar votos e depois as não cumprem e - pior – querem fazer de conta que não estão em falta. É a nova demagogia. Dos políticos modernos.


A LEITURA – A revista «Monocle» está a tornar-se num manual de acção política – no sentido cívico – para o século XXI. Nas últimas edições abordou o papel das cidades, a questão da imagem dos países e o assumir de marcas nacionais. Agora, na edição de Dezembro/Janeiro aborda as formas de governação, pistas para o novo ano e, sobretudo, como no mundo global é importante manter identidades fortes.No tempo da globalização, a proximidade e a segmentação voltam a ganhar espaço.


O DISCO- Vão fixando este nome: Luciana Souza. Trata-se de uma cantora brasileira, a viver nos Estados Unidos, cujo último disco, o sétimo da sua carreira, se chama, atrevidamente, «The New Bossa Nova». Com produção do seu marido, um experiente músico de jazz e produtor, Larry Klein, o disco é uma compilação de versões de temas compostos por nomes como Joni Mitchell, Leonard Cohen, Donald Fagen, James Taylor, Randy Newman e Tom Carlos Jobim, entre outros. A interpretação de Luciana Souza para temas conhecidos (e, por isso, arriscados) é inovadora QB, o que em boa parte se deve à excelência dos arranjos e da produção. CD Verve, distribuição Universal.


OBSERVANDO - Só falta o BCP requisitar pessoal à CGD, tal como fazem entre si os vários serviços do Estado.


BACK TO BASICS – Mais que as competências são os nossos actos que mostram a nossa verdadeira forma de ser – J.K. Rowling

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January 10, 2008

A MINISTRA DA CULTURA VAI PARA O GINÁSIO OU PÕE-SE AOS GRITOS?
(publicado na edição de 9 de Janeiro do diário «Meia Hora»)

Na sua incessante busca pelo aperfeiçoamento do corpo, o Primeiro Ministro José Sócrates resolveu baixar o IVA aplicável aos utilizadores de ginásios para 5%. A redução, que entrou em vigor ao mesmo tempo que as medidas anti-tabaco, deve certamente destinar-se a combater o aumento de peso dos ex-fumadores.

Uma outra hipótese é que, com base nestas medidas, o Governo venha anunciar que já começou a descer os impostos, o que certamente dará oportunidade ao Ministro Santos Silva para vir mais uma vez dizer que este Governo, na realidade, não pede sacrifícios aos portugueses.

Eu por mim não tenho nada contra esta descida de IVA, até me parece que ela é de saudar. Só tenho uma pequena questão: o que dirá a Senhora Ministra da Cultura deste assunto? Baterá palmas de contente? Ou terá exigido que idêntico tratamento, em matéria fiscal, seja concedido aos bens culturais?

A pergunta é retórica, porque está provado que a Ministra não tem opinião nem vontade – está ali para fazer o que lhe dizem sem levantar ondas. Mas o tema não é nada retórico: na verdade é espantoso que o Primeiro Ministro ache que é importante descer a taxa de IVA nos ginásios, mas que continue a achar que nos bens culturais não vale a pena diminuir impostos.

Recordo que, embora os livros tenham uma taxa reduzida de 5%, os CD’s e os DVD’s pagam os 21% de taxa máxima. Numa altura em que a música gravada atravessa uma crise sem precedentes, um pouco por todo o lado procuram-se maneiras de apoiar os artistas e a edição musical. O mesmo se passa em relação ao universo do audiovisual. Aqui ao lado, em Espanha, há uns meses, o Governo decidiu reduzir de forma drástica o IVA aplicado a bens culturais, que já era mais pequeno que em Portugal. No caso dos livros desceu para apenas 1% e no caso dos CD’s e DVD’s reduziu para 4% - uma diferença de 17% em relação ao que se passa em Portugal.

Senhora Ministra da Cultura, de que está à espera para se pôr a protestar e exigir tratamento igual ao dos ginásios? Senhora Ministra: se não consegue que o seu Governo defenda e promova os bens culturais, que está aí a fazer?

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January 07, 2008

MANIFESTO ANTI-NUNES E POR EXTENSO
dedicado ao inspector mor da ASAE
adaptado, com a devida vénia, do original de José de Almada-Negreiros
POETA D'ORPHEU FUTURISTA e TUDO

BASTA PUM BASTA!
UMA GERAÇÃO, QUE CONSENTE DEIXAR-SE REPRESENTAR POR UM NUNES É UMA GERAÇÃO QUE NUNCA O FOI! É UM COIO D'INDIGENTES, D'INDIGNOS E DE CEGOS! É UMA RÊSMA DE CHARLATÃES E DE VENDIDOS, E SÓ PODE PARIR ABAIXO DE ZERO!
ABAIXO A GERAÇÃO!
MORRA O NUNES, MORRA! PIM!
UMA GERAÇÃO COM UM NUNES A CAVALO É UM BURRO IMPOTENTE!
UMA GERAÇÃO COM UM NUNES À PROA É UMA CANÔA UNI SECO!
O NUNES É UM CIGANO!
O NUNES É MEIO CIGANO!
O NUNES É UM HABILIDOSO!
O NUNES VESTE-SE MAL!
O NUNES USA CEROULAS DE MALHA!
O NUNES ESPECÚLA E INÓCULA OS CONCUBINOS!
O NUNES É NUNES!
O NUNES É ANTÓNIO!
MORRA O NUNES, MORRA! PIM!
E O NUNES TEVE CLÁQUE! E O NUNES TEVE PALMAS! E O NUNES AGRADECEU!
O NUNES É UM CIGANÃO!
NÃO É PRECISO IR P'RÓ ROCIO P'RA SE SER UM PANTOMINEIRO, BASTA SER-SE PANTOMINEIRO!
NÃO É PRECISO DISFARÇAR-SE P'RA SE SER SALTEADOR, BASTA APARECER COMO NUNES! BASTA NÃO TER ESCRÚPULOS NEM MORAES, NEM ARTÍSTICOS, NEM HUMANOS! BASTA ANDAR CO'AS MODAS, CO'AS POLÍTICAS E CO'AS OPINIÕES! BASTA USAR O TAL SORRISINHO, BASTA SER MUITO DELICADO E USAR CÔCO E OLHOS MEIGOS! BASTA SER JUDAS! BASTA SER NUNES!
MORRA O NUNES, MORRA! PIM!
O NUNES NASCEU PARA PROVAR QUE, NEM TODOS OS QUE INSPECCIONAM SABEM INSPECCIONAR!
O NUNES É UM AUTOMATO QUE DEITA PR'A FÓRA O QUE A GENTE JÁ SABE QUE VAE SAHIR... MAS É PRECISO DEITAR DINHEIRO!
O NUNES É UM SONETO D'ELLE-PRÓPRIO!
O NUNES EM GÉNIO NUNCA CHEGA A PÓLVORA SECCA E EM TALENTO É PIM-PAM-PUM!
O NUNES NÚ É HORROROSO!
O NUNES CHEIRA MAL DA BOCA!
MORRA O NUNES, MORRA! PIM!
O NUNES É O ESCARNEO DA CONSCIÊNCIA!
SE O NUNES É PORTUGUEZ EU QUERO SER HESPANHOL!
O NUNES É A VERGONHA PORTUGUEZA! O NUNES É A META DA DECADÊNCIA MENTAL!
E AINDA HÁ QUEM NÃO CÓRE QUANDO DIZ ADMIRAR O NUNES!
E AINDA HÁ QUEM LHE ESTENDA A MÃO!
E QUEM LHE LAVE A ROUPA!
E QUEM TENHA DÓ DO NUNES!
E AINDA HÁ QUEM DUVIDE DE QUE O NUNES NÃO VALE NADA, E QUE NÃO SABE NADA, E QUE NEM É INTELLIGENTE NEM DECENTE, NEM ZERO!
E FIQUE SABENDO O NUNES QUE SE UM DIA HOUVER JUSTIÇA EM PORTUGAL TODO O MUNDO SABERÁ QUE O AUTOR DOS LUZÍADAS É O NUNES QUE N'UM RASGO MEMORÁVEL DE MODÉSTIA SÓ CONSENTIU A GLÓRIA DO SEU PSEUDÓNIMO CAMÕES.
E FIQUE SABENDO O NUNES QUE SE TODOS FÔSSEM COMO EU, HAVERIA TAES MUNIÇÕES DE MANGUITOS QUE LEVARIAM DOIS SÉCULOS A GASTAR.
MORRA O DANTAS, MORRA! PIM!
PORTUGAL QUE COM TODOS ESTES SENHORES, CONSEGUIU A CLASSIFICAÇÃO DO PAIZ MAIS ATRAZADO DA EUROPA E DE TODO OMUNDO! O PAIZ MAIS SELVAGEM DE TODAS AS ÁFRICAS! O EXILIO DOS DEGRADADOS E DOS INDIFERENTES! A AFRICA RECLUSA DOS EUROPEUS! O ENTULHO DAS DESVANTAGENS E DOS SOBEJOS! PORTUGAL INTEIRO HA-DE ABRIR OS OLHOS UM DIA - SE É QUE A SUA CEGUEIRA NÃO É INCURÁVEL E ENTÃO GRITARÁ COMMIGO, A MEU LADO, A NECESSIDADE QUE PORTUGAL TEM DE SER QUALQUER COISA DE ASSEIADO!
MORRA O NUNES, MORRA! PIM!

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PRÉMIOS 2007 – Prémio «A Trombeta de Sócrates» direitinho para o comentador de assuntos económicos António Peres Metelo; Prémio «A Inutilidade do Ano» para a Ministra da Cultura pela sua acção decisiva na instalação do Museu Berardo; Prémio «Melhor Agente Secreto» para Augusto Santos Silva, pela forma como deu oportunidade à saída de quadros da RTP para a SIC; Prémio «Qual é o meu papel aqui?» para Vítor Constâncio e o Banco de Portugal.


O ABUSADOR - O destino tem coisas curiosas: a fotografia da capa do «Diário de Notícias» da passada terça-feira valia por mil palavras: nela se via o Inspector-Geral da ASAE, António Nunes, a fumar num local fechado, já no dia 1 de Janeiro. Questionado, o homem que é suposto fazer cumprir a legislação que regulamenta o consumo de tabaco, achou que estava dentro da Lei, contrariando pareceres de outras entidades sobre o assunto. O caso é revelador do personagem: em vez de dar o exemplo, prefere o seu prazer pessoal. Este é o verdadeiro carácter do homem que comanda a ASAE e que propõe como alternativa para os seus opositores que emigrem e deixem Portugal – sim, leram bem: «se não quisermos viver nesta sociedade temos a hipótese de emigrar» - são palavras deste monumento de arrogância e prepotência mascarado de zeloso funcionário, numa entrevista publicada na semana passada pelo «Sol». Espero que ele emigre, depois de se demitir. Sempre duvidei de quem justifica actos burocráticos irracionais com o estrito cumprimento de leis e ordens. Como se comprova o zelo é bom para os outros, não para o próprio. O Senhor Ministro Manuel Pinho, que é suposto tutelar este funcionário, importa-se de dizer o que pensa sobre tudo isto?


COINCIDÊNCIAS – Há uns meses o Primeiro Ministro José Sócrates cedeu ao Comendador Berardo uma parte do CCB e fez com ele um negócio – no mínimo estranho em valor e substância – sobre a colecção de arte daquele investidor. O Comendador falou de alto, impôs regras próprias no espaço, faz uma contabilidade imaginativa dos visitantes do museu que agora tem o seu nome. Eu não sou dado a conspirações, mas não posso deixar de registar que todo o movimento que levou à crise no BCP foi desencadeado pelo comendador Berardo e não posso deixar de notar que foi ele o impulsionador de uma proposta que entrega o destino do Banco ao ex-Presidente do Banco do Estado, a CGD, um gestor próximo do PS, e a destacados socialistas que até há pouco tempo reduzida experiência tinham em gestão. Posso, nesta conjugação de coincidências, ser levado a pensar que o bom negócio que Sócrates proporcionou a Berardo com a sua colecção de arte tem agora uma contrapartida no papel de Berardo a facilitar a tomada de posições por parte do PS no maior banco privado português. Ele há estranhas coincidências. Mas também há curiosas alianças. E curiosíssimas formas de fazer negócio.


LER – A edição deste mês da revista «Atlântico» merece uma leitura atenta. António Carrapatoso, José Miguel Júdice e Rui Ramos escrevem sobre Portugal na transição de 2007 para 2008. Vasco Pulido Valente imaginou um concurso com perguntas inesperadas e prémios para as melhores respostas. Carrapatoso, escreve que o Governo ainda não apresentou uma visão estruturada para o futuro de Portugal, avisa que as perguntas fundamentais sobre o papel e a organização do Estado continuam a não ter uma resposta estruturada e consistente e alerta, com dados e númertos, para o facto de a despesa pública estar de facto a crescer sem beneficiar a coesão social ou a criação de oportunidades para todos.


OUVIR – Em 1982 o pianista Friederich Gulda gravou o ciclo das sonatas de Mozart, mas só parte delas foram editadas. A Deutsche Grammophon, que promoveu a gravação e edições originais, aproveitou o ano Mozart, em 2006, para editar uma remasterização cuidada dea parte dessas gravações que tinha tido uma edição original há 25 anos.. Surge agora, pela primeira vez, a parte nunca antes editada desses registos, São seis sonatas interpretadas por Gulda e nunca antes editadas. Apesar de algumas pequenas imperfeições na captação sonora (e que foram responsáveis pela sua não divulgação até agora), estes trabalhos comprovam a enorme capacidade do pianista e a forma única como foi capaz de interpretar a música de Mozart. - «The Gulda Mozart Tapes II, 6 sonatas», CD Deutsche Grammophon, FNAC.


ASSUKA SEM GRAÇA - Algumas pessoas acham que a comida é tudo num restaurante. Engano. A comida, a boa comida, é uma parte importante de um restaurante. Mas o serviço é outra parte com uma boa dose de relevo, e o ambiente completa o leque das variantes a ter em conta. A pior coisa que pode acontecer a um restaurante é cair na moda e não estar preparado para lidar com isso. É o que se passa no japonês Assuka, em Lisboa. Empregados desatentos, serviço demoradíssimo, falta de coisas básicas como imperial ou atum fresco (estamos num restaurante japonês, caramba!), bajulação dos empregados a estrelas de telenovela que falam alto e encanitam os outros clientes, tudo isto deu cabo num instante da qualidade da comida do Assuka. Tão cedo não volto ao nº153 da Rua de São Sebastião da Pedreira.



BACK TO BASICS – O segredo para ser maçador é dizer tudo o que nos apetece, Voltaire

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January 01, 2008

ESQUINA 232 – 28 DEZ 07


A INTENÇÃO - A voz estava treinada, colocada, entoada. A imagem estava cuidada, o olhar estava bem focado, as cores bem escolhidas, a simbologia de Natal aprimorada. Ele disse que tudo estava a correr bem – só um problemazinho no desemprego, mas que depressa se irá arrumar, prometeu. Falou pouco da Europa, voltou a falar do país. E falou não de fora para dentro, mas bem direito aos portugueses, aos seus eleitores que daqui a dois anos o irão avaliar nas urnas de voto. Foi um momento emocional, um pedido de ajuda. Fez-me lembrar a excelente nova campanha da PT. Quando ouvi a mensagem de Natal do Primeiro Ministro só me lembrei de uma frase: «O que tu queres, sei eu!».


AS FOTOS - Quando olho para a nova campanha de Portugal reparo que as fotos menos más têm a ver com energias renováveis e as piores com o resto. Será que foi o olhar educado e o gosto apurado de António Mexia que escolheu as imagens energéticas e a devoção fotográfica deslumbrada de Manuel Pinho que opinou sobre as outras? Eu bem gostava de ser mosca para perceber quem criou na realidade a campanha: se os criativos da agência de publicidade, se os palpites fotográficos do Ministro e da sua entourage. Basta comparar a campanha de Portugal com a de Espanha, que também está a ser publicada na imprensa internacional, para se perceber uma diferença que é todo um episódio: a de Espanha tem um alvo claro – turistas que gostem de sol, comida mediterrânica, arte e património; a de Portugal não tem alvo – ou então tem alvos a mais, o que vai dar ao mesmo. E sem se definir bem quem se quer atingir, uma campanha publicitária não serve para nada. Isto é básico.


A TROCA - Não me parece normal que o futuro de um banco privado seja debatido na sede de uma empresa, a EDP, onde o Estado tem forte posição; também não me parece normal que um accionista ligado ao Estado patrocine o nome do Presidente do banco do Estado, a CGD, para Presidente de um banco privado; não é normal que o Banco de Portugal admita com a maior naturalidade do mundo que houve relaxe na fiscalização do Banco Comercial Português. O que aconteceu no Millennium-BCP e todos os episódios à sua volta vieram descredibilizar o sistema financeiro, as entidades reguladoras e mostraram mais uma vez este paradoxo: o Estado não interviu quando devia e como devia, através dos órgãos reguladores, e interviu quando não devia e como não devia, forçando uma solução apadrinhada pelo Governo. Sou levado a pensar que a aceitação desta solução foi a moeda de troca para que as investigações não se aprofundem demasiado.


O MUNDO AO CONTRÁRIO – O Secretário de Estado do Comércio acha que a ASAE está a ser alvo de uma campanha caluniosa. Ainda não lhe ocorreu que se calhar a culpa de tanto burburinho é da forma como a ASAE actua, da forma como comunica e, sobretudo, da forma como prefere reprimir a prevenir, como prefere intimidar a esclarecer. Quanto foi investido pela ASAE no esclarecimento junto do público dos direitos dos consumidores e do que devem exigir em matéria de higiene nos locais que frequentam?


LER – Este ano em Portugal leu-se mais, há novos jornais – o mundo dos gratuitos está a trazer novos leitores. Alguns hão-de passar a comprar outros jornais. As notícias da morte da imprensa são largamente exageradas. Os sites dos jornais estão a ficar melhores. Eu, que gosto de jornais e revistas, que comecei a trabalhar nos jornais, estou contente com este ano. Tenho mais e melhor para ler – houve mudanças que resultaram bem, outras pior, mas existe uma evolução. E, claro, nestas alturas confesso que tenho saudades do momento de planificação e do momento de fecho de uma edição.


VER – Vai ser muito engraçado seguir o que se poderá ver na televisão no próximo ano. Daqui a seis meses já teremos uma ideia como as coisas estão a evoluir e a batalha vai travar-se nos últimos quatro meses de 2008, de Setembro a Dezembro. Aí se conseguirá perceber os primeiros resultados do trabalho de Nuno Santos na SIC e nessa altura se poderá também ver como se comporta a RTP – se vai fazer continuar a fazer concorrência aos privados ou se vai aperfeiçoar a matriz de serviço público. Em qualquer dos casos o ano promete – tanto mais que a TVI irá lançar o seu primeiro canal temático no cabo.


OUVIR – É uma descoberta do fim do ano, mas é uma das belas canções dos últimos tempos, «Hey There Delilah» dos Plain White T’s, uma balada pura, uma voz envolvente, uma melodia marcada pelo dedilhar simples de uma guitarra, uma secção de cordas discreta mas marcante, um refrão que fica na cabeça, como o de todas as grandes canções de amor – sim, claro, é disso que se trata. A canção está no quarto álbum da banda, «Every Second Counts», que data de 2006.


PERGUNTANDO – Porque é que não existem restaurantes e bares só para fumadores?


PESADELO – Algumas estações de rádio teimam em dar informações de trânsito sempre iguais noticiário após noticiário. Se fosse a acreditar no que dizem pensaria que às nove da noite existem os mesmos engarrafamentos que às sete da tarde. Não será possível fazer mais actualizações, em vez de meter sempre hora após hora a mesma gravação de um porta voz da Brigada de Trânsito, que continua a ser emitida mesmo quando fica desactualizada?


BACK TO BASICS – «Não sei qual é o segredo do sucesso, mas o caminho certo para o falhanço é tentar agradar a toda a gente» - Bill Cosby.