January 31, 2005

REALISMO - Esta pré campanha eleitoral tem o mérito de mostrar que as notícias das dificuldades do país não são exageradas. Para além do discurso eleitoral, um respeitado apoiante do PS, o ex-ministro das Finanças, Silva Lopes, admite a necessidade de aumentar impostos e diminuir o custo da Função Pública como um imperativo para resolver o défice. O realismo desta posição tem um mérito, que é o de deslocalizar a questão económica e financeira da esfera partidária. A situação é tão má que a receita prática da sua resolução não se compadece com demagogias nem com uma guerra esquerda-direita. Não há dinheiro, é preciso diminuir a despesa e aumentar as receitas. Não há volta a dar a este texto – sem resolver esta questão não há desenvolvimento, nem emprego, nem tecnologia. Nem melhorias nas políticas sociais.

VOTOS - Debater as diferenças nas propostas, passar das promessas ao concreto, ver o que parece possível e o que aparenta ser improvável, fazer a conta a quanto custa cada programa eleitoral - este é o exercício que falta fazer. O silêncio é muito mau conselheiro eleitoral. Não resisto a dizer uma evidência: o voto pertence a quem vota, não a quem é votado. Esta coisa, básica, elementar da Democracia, é muitas vezes esquecida – sobretudo nos períodos eleitorais, por mais paradoxal que seja. Os partidos não são clubes de futebol – têm que provar que merecem os votos, não podem pedir fidelidades nem clamar por vigança.

ACTOS – A política não é um mundo à parte, não chega ter boas ideias, é preciso saber se elas são exequíveis e saber como e quando se podem concretizar. É preciso saber transformar as ideias em actos, fazer coincidir as palavras com as acções. Pensem todos um pouco na História recente de Portugal e vejam quem conseguiu lançar e concretizar projectos e quem ficou a falar deles sem os fazer andar. Avaliem os comportamentos face ao controlo orçamental e da despesa pública. É um belo método de análise política.

ARTE - O Arts Council da Grã-Bretanha lançou um projecto bem interessante, o «Own Art», que se destina a fomentar a compra de arte contemporânea. Trata-se de um financiamento sem juros até 2000 libras, que pode ser pago em 10 meses, de processamento simples, gerido directamente pelas galerias. O projecto envolve 250 galerias que trabalham com artistas contemporâneos e um banco, o HSBC, que recebe 4% do valor de cada empréstimo directamente do Arts Council. Resultado: os artistas vendem as suas obras, as galerias dão mais oportunidades aos novos, as pessoas habituam-se a comprar arte. Em vez de subsídios, estimula-se o mercado. Boa ideia, não? Resta dizer que as galerias estão encantadas com o projecto.



January 26, 2005

BD
Finalmente percebi tudo do discurso de Louçã. O dirigente do BE deve ser um fanático entusiasta de BD e em particular do universo dos heróis da Marvel, essa fábrica de personagens das histórias de quadradinhos. Palpita-me que entre todos os heróis Louçã resolveu vestir a pele de Frank Castle, um vigilante, que fez as delícias dos leitores da série «O Justiceiro». Só assim se percebe a sua cruzada em várias direcções, a susa certeza de julgamento, a posição em que se coloca de ser o fiel da justiça e do bem.

January 25, 2005

IDEIAS
O grande problema é que não chega ter boas ideias. É preciso saber se elas são exequíveis e saber como e quando se podem concretizar. É preciso transformar as ideias em actos. É preciso saber concretizar projectos. Pensem todos um pouco na história recente de Portugal e vejam quem conseguiu lançar e concretizar projectos e quem ficou a falar deles sem os fazer andar. É um belo método ded análise política.
PROBLEMA
O dilema da política é fazer coincidir as palavras com os actos.

January 22, 2005

BONECADAS - Não sei se já repararam, mas este ano a campanha eleitoral estará em pleno no período do carnaval – a bem dizer não haverá muita diferença porque os últimos tempos têm sido férteis em partes gagas vindas de todas as direcções. Muito elucidativamente o Bloco de Esquerda arrancou a campanha com uma brincadeira na baixa lisboeta, um jogo de bowling onde os bonecos eram pessoas. É a confirmação de que os partidos tratam as pessoas como bonecos. Fixem isto: o «Público» divulgou esta semana uma sondagem com um resultado aterrador: 76% dos portugueses acham que os políticos só estão interessados nos votos das pessoas, 75% acha que bem lá no fundo os partidos são todos iguais e 50% declaram-se pouco ou nada interessados na política.

FACILIDADES - Numa conjuntura como a actual, num cenário de eleições antecipadas, é bem mais fácil estar na oposição que no Governo – e cá para mim isto foi coisa que pesou na decisão da dissolução. A história deste episódio está aliás ainda para ser bem contada: nas redacções dos media desde o início de Novembro que se sabia que assessores do Presidente da República estudavam a possibilidade do cenário da dissolução e que Belém estava apenas à espera de um pretexto para avançar nesse sentido. A coisa não foi decisão súbita nem provocada por um facto concreto: na realidade esteve a fermentar durante largas semanas à espera de uma oportunidade. E esta azáfama começou apenas três meses depois de Sampaio ter optado por não realizar eleições. Volatilidades...

AVISO - A SEDES veio esta semana avisar solenemente que o país está ingovernável. Já tínhamos percebido que era assim – por isso Guterres se foi embora, por isso Durão optou pela Europa, por isso Ferro Rodrigues mudou de vida. Este aviso da SEDES podia ter sido dado há uns meses ao Presidente da República, talvez se evitassem alguns episódios insólitos, como a não convocação de eleições em Julho ou a dissolução em Dezembro. O que a SEDES vem dizer, de facto, é que o problema não é de quem está, é do estado a que isto chegou.

SETENTA - Um grupo de notáveis figuras da política, com uma idade média na casa dos 70 anos, falou da actualidade (com uma rara excepção) como se não tivessem tido responsabilidades no passado. Na maioria quiseram apresentar-se como impolutas virgens sem mácula sem vivências partidárias. Bem sei que é sempre mais fácil falar quando se está de fora, mas não basta ser-se do contra; convém que se apresentem alternativas. E se olharmos para a paisagem nacional é fácil notar como existe uma grande falta de apresentação de propostas que permitam tornar isto tudo mais possível e governável, diferentes daquelas que já estão em cima da mesa.

BACK TO BASICS – Até ao lavar dos cestos é vindima; convém é ver se o fundo dos cestos está inteiro...

RECOMENDAÇÃO - Existe um blog imperdível , o «Margens de Erro». Ali aprende-se sobre sondagens, podem comparar-se várias e até se pode ver o resultado da média das sondagens mais recentes. O seu autor, Pedro Magalhães, docente na Universidade Católica é o autor de um interessante estudo sobre a evolução das sondagens pré-leitorais em Portugal, cuja leitura se recomenda vivamente e cujo link de acesso pode ser encontrado nesse mesmo blog, www.margensdeerro.blogspot.com .

COMIDINHA – Para estes dias frios, uma comida quente. Recomendo vivamente a cozinha goesa do Xanti, Calçada do Livramento, 17, Casa de Goa, mesmo por tràs do Palácio das Necessidades. Tem estacionamento fácil com parque próprio. Comida e serviço impecáveis. Vamos por partes: couvert inclui chapattis que podem ser lambuzados com um chutney de manga verde bem picante e uma pasta de côco e coentros deliciosa; as chamuças têm uma massa levíssima e vêm sem óleo a pingar; boa nota para o caril de gambas e para o xacuti de galinha; a rematar uma bebinca bem caseira. E o sítio ainda por cima é bem engraçado.

January 21, 2005

O GRANDE LOUÇÃ
Por muito que viva, não me hei-de esquecer desta:" O Senhor não pode falar do direito à vida porque nunca gerou vida. Não sabe o que é gerar vida. Eu tenho uma filha. Eu sei o que é um sorriso de uma criança." (Francisco Louçã dirigindo-se a Paulo Portas num debate eleitoral televisivo).
Os actos - e as palavras - ficam com os seus autores.
Que dirão disto a muito politicamente correcta legião de simpatizantes do Bloco nos media?

BLOCO CENTRAL
Quando pensava já ter visto tudo, eis que mais uma vez fui surpreendido: O Presidente do Benfica e do Sporting sentaram-se um ao lado do outro e apresentaram aos portugueses o seu pacto de regime. Jorge Sampaio já foi em parte ouvido. O Bloco Central já funciona no futebol.

January 20, 2005

BOATOS
Nada pior que usar a boataria como combustível de campanhas. Quando isto começa é um processo que se torna rapidamente num incêndio incontrolável.
REFORMAR
No âmbito da presente campanha eleitoral houve quem submetesse a «focus groups» de eleitores ideias-chave para temas de campanha. Uma palavra que ninguém quer ouvir é «reformas»; não as reformas do emprego - mas sim as reformas da sociedade, do sistema do que quer que seja. Os eleitores querem é que nada mude. Mudar custa sempre mais que ficar na mesma, não é?
PORQUÊ?
Mesmo quando tudo parece estar a correr melhor, há sempre um engano, uma trapalhada, uma troca, que dá cabo do efeito positivo e vem criar mais confusão. Porquê?

January 19, 2005

OPOSIÇÃO
É quase sempre mais fácil estar na oposição do que estar no Governo quando se trata de eleições antecipadas como na conjuntura actual - cá para mim isto foi aliás tema que pesou na decisão da dissolução. Mas, adiante: a única coisa que dificulta a vida à oposição é que não basta ser-se do contra; convém que se apresentem alternativas. E se olharmos para a paisagem nacional é fácil notar como existe uma grande falta de apresentação de propostas diferentes exequíveis.

January 18, 2005

Sobre os Partidos
No seu documento «Portugal: afrontar os desafios, assegurar o futuro», a Sedes traça um quadro do sistema político-partidário que é bem certeiro, como se pode ver neste excerto:
Existe hoje uma descrença generalizada no sistema e nos seus principais agentes, que não têm conseguido, apesar da alternância democrática, produzir as soluções que assegurem o desenvolvimento equilibrado e sustentado do País. Portugal começa a apresentar sinais evidentes de ingovernabilidade, que é necessário atalhar.

Por um lado, a agenda política é cada vez mais condicionada pela agenda mediática que, na ausência de referenciais deontológicos geralmente reconhecidos e institucionalmente assegurados, se tem deixado subordinar aos critérios da trivialidade e do espectáculo de massas.

A acção política tende assim a sucumbir frequentemente ao populismo e ao imediatismo, com sacrifício dos resultados mais duradouros.

Além disso, a prática mediática tem sido muito marcada por um enviesamento negativista (explorando e ampliando os aspectos negativos da realidade e da acção) e pela tendência de, sob esse enviesamento, referendar continuamente a acção política, fazendo caminhar o regime, de uma democracia representativa, de mandato político, para uma democracia populista, de base emocional.

Por outro lado, os partidos têm deixado deteriorar a qualidade da representação política da sociedade. Demasiado emaranhados em teias de interesses, a que acabam por ficar sujeitos pelas enormes exigências financeiras que a disputa eleitoral hoje impõe, têm subalternizado o debate doutrinário e a acção norteada por princípios, e desenvolvido mecanismos de selecção mediocrizantes.

Tem sido, aliás, manifesta a incapacidade dos partidos para se renovarem e para atraírem ao seu seio, ou mobilizarem para a actividade política, melhores quadros e melhores valores intelectuais.A sua vida tende a ser dominada por nomenclaturas perdurantes, que, pelo poder que exercem na nomeação de deputados, tem capturado a representação política e constituído um factor de rarefacção e de sério empobrecimento dessa mesma representação. Ao mesmo tempo que torna o próprio poder democrático mais facilmente permeável pelos interesses estabelecidos e contribui para o desinteresse da população na sua representação política e para o estreitamento da base eleitoral.

O documento pode ser lido na íntegra aqui, no Diário de Notícias.
INGOVERNÁVEL?
Um estudo da SEDES hoje divulgado alerta para os perigos da ingovernabilidade do país. Alguém devia ter dado os relatórios preliminares ao Presidente da República. Sempre se podia ter poupado algum tempo. E, talvez, o Dr. Sampaio percebesse que o problema não estava nesta maioria. Vai ser giro ver como se vai sair desta - até porque do lado do Engenheiro Sócrates as coisas também não parecem muitop famosas.

January 17, 2005

SONDAGEM
Existe um blog imperdível , o Margens de Erro. Ali aprende-se sobre sondagens, podem comparar-se várias e até se pode ver o resultado da média das sondagens mais recentes. O seu autor, Pedro Magalhães, docente na Universidade Católica é o autor de um interessante estudo sobre a evolução das sondagens pré-leitorais em Portugal, cuja leitura se recomenda vivamente link.pdf.
DESINTERESSE
O «Público» de hoje publica uma sondagem com um resultado aterrador: 76% dos portugueses acham que os políticos só estão interessados nos votos das pessoas e 75% acha que bem lá no fundo os partidos são todos iguais. 50% declaram-se pouico ou nada interessados na política.
HIPOCRISIAS

De repente toda a gente quer ser reformista. De repente toda a gente quer mascarar-se: o país está subitamente cheio de Brancas de Neve, sem defeitos, nem pecados. Até o Presidente da República defende agora que deve haver uma maioria estável – presume-se das suas acções recentes que a entende preferível com um único partido a formar Governo.
Em relação às próximas eleições as propostas dos partidos vão sendo atiradas para cima da mesa, de forma avulsa, como meros instrumentos de propaganda. Avolumam-se os sinais de que haja candidatos que não querem entrar em debates, preferindo estarem sózinhos em cima do palco.
Isto da fuga ao debate deve ser vírus contagioso – começou por atacar a Ministra da Educação, mas rapidamente alastra pelo espectro político. Os debates são necessários – na sua essência uma campanha eleitoral é um confronto de ideias e isso só se consegue com os adversários frente-a-frente, olhos nos olhos..
Não querer debates e ao mesmo tempo alimentar polémicas com assuntos menores, fomentar declarações e a actuação de porta-vozes, são formas de utilizar a informação e os media, não são formas de proporcionar informação, esclarecimento, troca de ideias – enfim, aquilo que devia caracterizar as bases de escolha do eleitorado.
Há muito que discutir, há muito que debater – a começar pelas reformas que todos dizem querer até chegar a hora da verdade. Há meios e condições para fazer reformas. O que falta é a vontade, fora dos períodos eleitorais. Esta é a maior hipocrisia que vivemos.
MISTÉRIO – Folheio os jornais todos os dias, vejo os noticiários, e sinto que está a fazer falta alguma coisa. Olho para todo o lado, ouço de todo o lado e mais se adensa a noção de que falta mesmo alguma coisa. E cada dia que passa mais me convenço que a maior das faltas na política portuguesa é puro e simples bom-senso.

VÍRUS – A política portuguesa parece contaminada por um vírus, que se espalhou por todos os partidos. É como se um «hacker» tivesse entrado no disco rígido e começasse a provocar problemas nos diversos ficheiros, provocando respostas automáticas não desejadas, interferindo com o funcionamento. O vírus tem-se espalhado rapidamente pela rêde do poder e chegou até ao «mainframe», o tal que está guardado em Belém. Nestas condições teme-se que o problema obrigue a mudanças sérias no sistema, com introdução de novos servidores e de novos sistemas de protecção. A operação de formatação de disco prevista para dia 20 de Fevereiro arrisca-se a não conseguir resolver os problemas existentes se a arquitectura da rêde e o seu funcionamento não forem repensados.

POPULISMO – Há seis meses atrás uma série de editoriais inflamados erguiam-se contra os perigos de populismo e de demagogia que atribuíam a Santana Lopes. Estranho imenso o silêncio de tanta mente que estava inquieta nessa época quando as demonstrações de populismo e de demagogia começam a ser moeda corrente no outro lado do espectro político. O rei vai nu e já ninguém se importa com isso?

PROGRAMAS – A cerca de um mês das eleições ainda não são conhecidos os programas eleitorais dos principais contendores. Mas a cerca de um mês das eleições abundam já as promessas. Promessas e mais promessas, mas o que importa é saber como elas vão ser concretizadas quando se sabe que à partida não pode haver mais dinheiro e que, antes pelo contrário, tem que se apertar ainda mais o cinto. Eu sei que não é simpático dizer-se que há que cortar ainda mais. Mas quem disser o contrário, mente. Não há dinheiro. O País gasta mais do que aquilo que produz. As reformas têm que ser profundas, não basta uma maquilhagem ligeira.

ELEGER – Eleger é votar, votar é escolher um entre vários. Para se poder votar tem que se conhecer o que cada um propõe. Para se decidir, ajuda saber como funcionam as ideias em confronto. Não basta comunicar o que se quer fazer, a estratégia que cada um propõe. É importante o debate entre pares : é nisso que a democracia se baseia – nos Parlamentos os deputados debatem uns com os outros, no processo que leva à escolha dos Parlamentos, por maioria da razão, o mesmo deve acontecer entre os candidatos a futuros deputados e governantes

BACK TO BASICS – Em tempo de guerra convém que se limpem algumas armas, senão encravam e é pior, começam a disparar para o lado; ou para trás.

COMIDINHA – No centro de Lisboa um bar restaurante com ar muito cosmopolita. Chama-se Luca e parece ser coisa a seguir com atenção. Boa música ambiente, bom ponto de partida na ementa, de inspiração vagamente italiana, mas muito cosmopolita. Voltarei ao assunto. Rua de Santa Marta 35, telef. 213150212.

SUGESTÃO –.A editorial Gótica lançou um livro que vale a pena descobrir: «Lisboa antes do Terramoto de 1755», que faz uso das reproduções das vistas de Lisboa, existentes em azulejos da época, provenientes do palácio dos Condes de Tentúgal, que está hoje no Museu Nacional do Azulejo. A obra é organizada por Paulo Henriques, Director do Museu, e utiliza também uma antologia de textos sobre Lisboa, do século XV ao século XVII, muito bem escolhidos. Atravesse o Tejo e ponha-se na outra margem, no alto da parte velha de Almada, e veja as diferenças. Vai ver que vale a pena.

January 16, 2005

PALPITE
Tenho a impressão que esta vai ser a semana de todas as promessas: lá para dia 20 devem surgir os guias de promessas, que é como quem diz os programas eleitorais. E lá para o fim de semana inevitavelmente a rapaziada da política nbão deve deixar de largar umas fugas de informação para os semanários...

January 15, 2005

INTERESSE
O pessoal desiludiu-se com a política. Está descrente. Olha para o panorama e não vê grandes diferenças entre uns e outros. Ao fim destes anos todos já se vai percebendo que os partidos não podem ser encarados como clubes de futebol. Os partidos vão mudando, afastam-se dos cidadãos, afastam-se da sua missão, são representantes de grupos de interesses, vão evoluindo para pequenos círculos fechados. Os partidos não podem pedir a fidelidade dos eleitores. Têm é que se mostrar capazes de resolver os problemas, coerentes e, acima de tudo, têm que demonstrar seriedade. Ora a resolução de problemas, a coerência e a seiredade política são exactamente as grandes lacunas do sistema partidário português.

January 14, 2005

COMEÇOU...
Ainda a procissão vai no adro e um «Semanário» conhecido por ser altifalante de intrigas diversas já anuncia a criação de facções partidárias no PSD para a disputa interna de poder logo a seguir às eleições. Que alguém se lembre de escrever estas coisas é como o outro. Agora que jornais assim sejam presença constante em gabinetes e sedes partidárias é que mostra o estado da nação: uma newsletter de intriga sobrevive apenas porque as fontes querem todas andar a ver o que as outras dizem. Irra...

January 13, 2005

POR ACASO...
Desculpem a pergunta, mas não era suposto a campanha eleitoral estar mais avançada? Já haver uns programazitos eleitorais, qualquer coisa, sei lá...

January 12, 2005

MODAS
A moda veio da Ministra da Educação - o seu a seu dono. Mas eis que a coisa pegou: em vez de debates inter-pares, conversas com os jornalistas. Uma boa entrevista não substitui um debate. O largar a conta gotas dos programas eleitorais não substitui a sua discussão. Porquê a rejeição dos debates, que são a essência da democracia?

January 11, 2005

CURIOSIDADES...
Consultando um guia turístico de S. Tomé e Princípe notei que no local da polémica, além do Bom Bom só há uma pensão de quartos com e sem águas correntes. Chama-se Palhota.
REFORMAS
Quem ouvir agora o pessoal da política corre o risco de achar que todos querem fazer reformas e transformações no país. Basta olhar uns meses para trás para ter uma ideia real das coisas: travões, bloqueios, manipulações, tudo serviu para impedir grandes mudanças. Para mudar o país não é preciso começar por mudar a Constituição; basta mudar mentalidades. O resto é conversa.
TRETAS
Eu sei que em tempo de campanha vale tudo - mas as histórias sobre a visita de Morais sarmento a São Tomé e Princípe mostram bem o que aí vem: sob o manto diáfano da pureza, a nudez crua da verdade. Os anteriores ministros de outros governos quando faziam viagens ao arquipélago dormiam no meio do areal?

January 10, 2005

BATUQUE - A peregrina ideia do pacto de regime dada como prenda de fim de ano pelo Presidente da República foi alvo da chacota generalizada de economistas e de sábios do regime. Alguma coisa se passa na cabeça de quem dissolveu um parlamento onde existia uma maioria e vem agora apelar a pactos. Sou eu que estou a pensar mal ou isto anda tudo sem nexo?

FUTEBOL – Se provas faltassem, esta semana a evidência confirmou-se: meter pessoal do futebol na política dá mau resultado, ainda para mais sabendo-se como o mundo da bola tem, digamos, má reputação. A causa primeira do problema em torno de Pôncio Monteiro foi a sua escolha. Pôr políticos a jogar futebol não deve dar pontos na Liga. Pôr o pessoal da bola na política garantidamente provoca mais problemas que os votos que podem trazer.

RUPTURA – Dizem-me existir ruptura nas farmácias de pastilhas rennies, kompensans e quejandos: é que, no processo de formação de listas de candidatos dos partidos, foram tantos os que tiveram que engolir grandes sapos que se tornaram mesmo necessárias fortes ajudas para a digestão. Eu próprio esgotei o meu stock doméstico quando vi que ao cançonetista Nuno da Câmara Pereira estava prometido um lugar elegível.

CAVAQUINHO – Para quem não estava na política activa, Cavaco Silva resolveu fazer um regresso em força numa atitude que deixo aos psicanalistas o favor de analisarem. Por este andar qualquer dia dá indicações para que nas suas biografias não se refira que foi Primeiro Ministro pelo PSD. Curioso que desta vez não alimentou nenhum tabu. Foi direito ao assunto. Estranhos tempos estes.

CULTURA – Onde está? Num momento de crise de identidade e de pessimismo, exactamente quando era mais precisa, por onde anda? - Desapareceu do vocabulário político. À medida que entram futebolistas, estrelas de telenovela e de reality shows o resto desaparece. Ninguém fala da necessidade de proteger a música portuguesa, ninguém fala da importância da criatividade na afirmação da identidade nacional, deixou de se pensar a arte e a cultura como parte de uma estratégia de afirmação e visibilidade, capaz de impulsionar outras áreas. Agora, quanto muito, usa-se a cultura como um berloque de moda, passeia-se uma rapaziada nos comícios e dá-se o assunto por arrumado.

LUTA – Todas as gerações têm a sua luta – pelos direitos humanos, pela paz, contra a fome. A nova luta é pelo direito a sermos informados sem distorções nem manipulações, pelo direito a termos os factos de um lado e as opiniões do outro, pelo direito de deixarem cada um chegar às suas próprias conclusões.

ELECTRICIDADE – Estava no carro de manhã a ouvir rádio e, no meio da publicidade, eis que a EDP aconselha os seus acumuladores de calor e os benefícios da tarifa bi- horária, sempre apregoando que põe o interesse dos clientes acima de tudo. Só gostava de saber porque é que eu fiz tudo aquilo que anunciam e agora não tenho energia eléctrica em condições para que as coisas funcionem. Esta semana a EDP fez grande alarido com as melhorias que a imagem das novas lojas iriam introduzir no serviço aos clientes. E que tal se respondessem às sucessivas reclamações e resolvessem as suas causas em vez de andarem por aí a iludir os incautos?

BACK TO BASICS – Quando os círculos se estreitam criam-se seitas fanáticas. As seitas fanáticas impedem de pensar.

PERGUNTA DA SEMANA – E o que acontece às figuras em lugares no limiar do não elegível se os nomes acima deles forem chamados a outras funções?

SUGESTÃO – O ciclo mensal de concertos no Fórum Roma, «For U Music», que numa sala municipal com óptimas condições acústicas e de conforto apresenta dia 15 de Janeiro os Mão Morta, dia 19 de Fevereiro Jorge Palma, dia 5 de Março Rodrigo Leão e dia 9 de Abril os Rádio Macau. Sempre às 22h00.

January 06, 2005

ELEITORES
Da esquerda à direita a última preocupação na formação das listas foi ter em conta a proximidade com os eleitores. Longe vai o tempo em que se falava de círculos uninominais, longe vai o tempo em que se falava de aproximar os candidatos dos cidadãos, longe vão os tempos das boas intenções.Longe vai o tempo em que se queria dignificar e prestigiar o Parlamento - a casa-mãe da Democracia, recordam-se?


January 05, 2005

OPINIÃO
Há muitas maneiras de fazer opinião. Em alguns casos basta escolher algumas notícias - e apenas essas - e dispô-las de determinada maneira, estabelecendo uma relação que tem a ver com uma interpretação dos factos e não necessariamente com a realidade. Pode chamar-se a isso fazer campanha. Ou contra-campanha.

January 04, 2005

TRISTEZA...
As eleições para a presidência norte-americana no ano passado foram um terreno onde a net - e nomeadamente os blogs - foram uma ferramenta indispensável para as campanhas dos principais candidatos. Se derem uma voltinha pelos sites dos partidos portugueses verão como são previsíveis e cinzentões (mesmo quando têm cores vivas), e como não há utilização das novas formas de participação.

January 03, 2005

O PROBLEMA DO ABUSO
Sabem o que é abuso de posição dominante?
Em 9 de Março de 2004, por e-mail fiz uma reclamação à EDP porque a corrente eléctrica não me chega a casa com os 220 volts que devia – então à noite nem pensar, anda sempre muito aquém desse valor contratado, com todos os prejuízos que tal situação acarreta. Com o Inverno a coisa complicou-se, nem os caloríferos (acumuladores de calor recomendados pela EDP) aquecem como deve ser. Em Março fiz a reclamação na net, recebi uma resposta automática a dizer que o assunto estava a ser seguido. De então até agora ninguém me contactou, o problema não foi resolvido, mas as facturas continuaram sempre a aparecer sem que o serviço que são supostas cobrar seja fornecido como está contratado. No dia 29 de Dezembro enviei nova reclamação pela net e recebi nova resposta automática. A EDP só pode estar a brincar comigo, cliente com as contas em dia. Serviço a clientes é coisa que não conhecem por aquelas bandas. Algumas empresas que detêm monopólios são muito irritantes, não são?

January 02, 2005

DE VOLTA
Ano novo, vida nova. Este blog volta a ter presença regular. Os tempos não estão para menos. Há que desabafar. Até já.

January 01, 2005

SE...
Se 2004 não existisse, tinha que ser inventado. Se esse ano não tivesse sido assim, nunca teríamos percebido uma série de coisas. Se esse ano não tivesse sido assim, nunca teríamos uma ideia clara dos comportamentos possíveis deste Presidente da República. Se esse ano não tivesse sido assim, nunca perceberíamos o ponto a que a intolerância e o preconceito podem chegar. Se esse ano não tivesse sido assim, nunca teríamos visto como uma série de pessoas actuam. Se esse ano não tivesse sido assim, nunca teríamos assistido ao desenrolar de uma conspiração. Se esse ano não tivesse sido assim, nunca teríamos sido testemunhas de como os erros são amplificados. Se esse ano não tivesse sido assim, nunca perceberíamos o que é a resistência às reformas. Se esse ano não tivesse sido assim, nunca veríamos tantas máscaras caírem em tão pouco tempo. Se esse ano não tivesse sido assim, nunca teríamos assistido ao campeonato nacional de tiros nos pés que tem novas provas todos os dias. Se esse ano não tivesse sido assim, não teríamos assistido ao primado da especulação sobre a notícia.
Vamos ver como vai ser este novo ano. Vamos ver como as coisas se vão passar. Vamos ver como a campanha eleitoral vai decorrer. Vamos ver a que ponto se vai chegar. Vamos ver como se desenrolam as reacções ao que se vai passar. Vamos ver que papéis desempenham os personagens que este ano fizeram furor. Vamos ver que decisões tomam os que tiverem que interpretar o voto dos eleitores. Vamos ver. Se acham que este ano foi complicado, preparem-se para o que se segue.