January 17, 2005

MISTÉRIO – Folheio os jornais todos os dias, vejo os noticiários, e sinto que está a fazer falta alguma coisa. Olho para todo o lado, ouço de todo o lado e mais se adensa a noção de que falta mesmo alguma coisa. E cada dia que passa mais me convenço que a maior das faltas na política portuguesa é puro e simples bom-senso.

VÍRUS – A política portuguesa parece contaminada por um vírus, que se espalhou por todos os partidos. É como se um «hacker» tivesse entrado no disco rígido e começasse a provocar problemas nos diversos ficheiros, provocando respostas automáticas não desejadas, interferindo com o funcionamento. O vírus tem-se espalhado rapidamente pela rêde do poder e chegou até ao «mainframe», o tal que está guardado em Belém. Nestas condições teme-se que o problema obrigue a mudanças sérias no sistema, com introdução de novos servidores e de novos sistemas de protecção. A operação de formatação de disco prevista para dia 20 de Fevereiro arrisca-se a não conseguir resolver os problemas existentes se a arquitectura da rêde e o seu funcionamento não forem repensados.

POPULISMO – Há seis meses atrás uma série de editoriais inflamados erguiam-se contra os perigos de populismo e de demagogia que atribuíam a Santana Lopes. Estranho imenso o silêncio de tanta mente que estava inquieta nessa época quando as demonstrações de populismo e de demagogia começam a ser moeda corrente no outro lado do espectro político. O rei vai nu e já ninguém se importa com isso?

PROGRAMAS – A cerca de um mês das eleições ainda não são conhecidos os programas eleitorais dos principais contendores. Mas a cerca de um mês das eleições abundam já as promessas. Promessas e mais promessas, mas o que importa é saber como elas vão ser concretizadas quando se sabe que à partida não pode haver mais dinheiro e que, antes pelo contrário, tem que se apertar ainda mais o cinto. Eu sei que não é simpático dizer-se que há que cortar ainda mais. Mas quem disser o contrário, mente. Não há dinheiro. O País gasta mais do que aquilo que produz. As reformas têm que ser profundas, não basta uma maquilhagem ligeira.

ELEGER – Eleger é votar, votar é escolher um entre vários. Para se poder votar tem que se conhecer o que cada um propõe. Para se decidir, ajuda saber como funcionam as ideias em confronto. Não basta comunicar o que se quer fazer, a estratégia que cada um propõe. É importante o debate entre pares : é nisso que a democracia se baseia – nos Parlamentos os deputados debatem uns com os outros, no processo que leva à escolha dos Parlamentos, por maioria da razão, o mesmo deve acontecer entre os candidatos a futuros deputados e governantes

BACK TO BASICS – Em tempo de guerra convém que se limpem algumas armas, senão encravam e é pior, começam a disparar para o lado; ou para trás.

COMIDINHA – No centro de Lisboa um bar restaurante com ar muito cosmopolita. Chama-se Luca e parece ser coisa a seguir com atenção. Boa música ambiente, bom ponto de partida na ementa, de inspiração vagamente italiana, mas muito cosmopolita. Voltarei ao assunto. Rua de Santa Marta 35, telef. 213150212.

SUGESTÃO –.A editorial Gótica lançou um livro que vale a pena descobrir: «Lisboa antes do Terramoto de 1755», que faz uso das reproduções das vistas de Lisboa, existentes em azulejos da época, provenientes do palácio dos Condes de Tentúgal, que está hoje no Museu Nacional do Azulejo. A obra é organizada por Paulo Henriques, Director do Museu, e utiliza também uma antologia de textos sobre Lisboa, do século XV ao século XVII, muito bem escolhidos. Atravesse o Tejo e ponha-se na outra margem, no alto da parte velha de Almada, e veja as diferenças. Vai ver que vale a pena.