July 14, 2004

O ESTADO DA NAÇÃO I
Primeiro disseram que iam votar contra só porque sim;
Depois gritaram contra os primeiros nomes porque a escolha os surpreendeu;
A seguir clamaram por originalidade sem olharem para si próprios.

July 13, 2004

AS ENTREVISTAS - COMENTÁRIO
O post sobre as entrevistas dadas pelo ingitado Primeiro Ministro motivaram um bem articulado comentário de LF, autor do largo do rato, cuja leitura se recomenda.
Aqui vão excertos so comentário:
Ao contrário de muitos comentadores - quase todos pró
dissolução, diga-se - acho que PSL fez muito bem em
conceder as duas entrevistas referidas e no "timing"
que o fez.
Foram aliás entrevistas notáveis no seu conteúdo
politico.
A primeira a Judite de Sousa, Santana Lopes afirmou-se
como líder do PPD/PSD declarando:
- As razões dos sociais democratas para a manutenção
da estabilidade governativa, nomeadamente nos aspectos
sensíveis definidos por Durão Barroso e Jorge Sampaio
(a coerencia e continuidade das politicas
economico-financeira, externa e de defesa) e
demonstrando que pela sua parte nada havia a temer
sobre a governabilidade do país.
- Estar preparado para uma campanha eleitoral e para
ver o sua liderança consolidada nas urnas através duma
vitória se fosse essa a decisão de Jorge Sampaio.

e mostrando uma serenidade, liderança e contenção
assinaláveis.

Marcou pontos ao:
-clarificar a posição contrária a eleições do PPD/PSD
-não excluir nem temer a outra solução assumindo-se
como líder desse combate eleitoral para vencer.
-mostrar aos cépticos internos do PSD que os vai
contradizer e á esmagadora maioria do partido que o
seu apoio se justifica.
- mostrar-se tal como é retirando aos críticos a
satisfação de o dizerem com "low profile" táctico para
obter o cargo de PM.

A entrevista a Ricardo Costa permitiu-lhe:
- Justificar-se ao eleitorado de Lisboa pela sua
saída, reforçando a sua obra a acabar pelo executivo
camarário com uma palavrinha ás autarquias e autarcas
da maioria.
- Mostrar ao PR e ao país, que considera Jorge Sampaio
e que se compromete a uma relação institucional
impecável. Mostrando-se desde já não disponível a
tratar temas objecto de conversa com Sampaio.
- Reforçar a imagem de Estado que já tinha deixado
transparecer na primeira entrevista. Sendo tolerante -
desvalorizando - com as críticas pessoais que lhe
fazem e enfocando o seu discurso para a
responsabilidade do seu governo, a continuidade das
políticas e o muito trabalho que espera os portugueses
mesmo quando a retoma já espreita.
- Reforçar, e bem, o discurso social.
- Mostrar lealdade e liderança em relação ao parceiro
de coligação.

DICOTOMIA II
Um sempre atento leitor destes posts, o N.F., mandou-me, a propósito do post «Dicotomia», uma citação de Anthony Burgess que não resisto a reproduzir:
Readers are plentiful: thinkers are rare.
JÁ?
Ainda nem o Governo apresentou equipa nem programa e a Frente Popular já decidiu que vota contra. Vota contra por votar. Vota contra porque sim. Vota contra porque não lhe interessa aquilo em que vota, interessa apenas o efeito que produz. É com coisas destas que se vai destruindo a capacidade de os cidadãos acreditarem na utilidade dos parlamentos.

July 12, 2004

AS ENTREVISTAS
O facto de Pedro Santana Lopes ter dado duas entrevistas a estações de televisão deixou muito comentador enervado: que a coisa não se devia fazer, dizem. Talvez preferissem o método mais habitual na política portuguesa, que é mandar recados anónimos para os jornais, sobretudo entre quinta e sexta-feira. manias... Ainda bem que as entrevistas foram dadas: assim foi ao vivo e em directo, em vez de ter sido por interposta pessoa.
DICOTOMIA
Uma das coisas que contribui para a confusão nacional é a estimulação de uma permanente dicotomia entre pensar e fazer. Quem se posiciona como grande pensador raramente consegue concretizar, alimenta aliás algum desprezo pelo assunto; e tem tendência a considerar que quem faz pouco pensa. Assim não se vai a lado algum. Pensar é preciso, decidir e fazer também. Não chega ficar só a pensar, embora seja fundamental que continue a existir quem fique apenas a observar, a reflectir, a criticar. É isso que ajuda a fazer melhor.

July 09, 2004

O PROBLEMA DOS DIRECTOS
O grande problema dos directos é que se tornam insuportàveis quando não há nada a dizer. Vinha no carro a ouvir a TSF e no fim da reunião do Conselho de Estado o repórter de serviço queria à viva força tirar palavras dos conselheiros que saíam. Como era de esperar ninguém disse nada - é isso que se espera de conselheiros do Presidente da República. Pretender impôr o contrário é ir contra os princípios da ética da cidadania. O que engloba, acho eu, a ética dos jornalistas. Este folclore dos directos é demais.
A ESQUINA IMPRESSA
Aqui vão uns excertos de «A Esquina do Rio», hoje dada à estampa no «Jornal de Negócios».

A SEMANA FOI MARCADA pelo nascimento da Frente Popular. Francisco Louçã disse alto o que alguns pensaram baixinho: o Bloco de Esquerda e o PC estão dispostos a viabilizar um Governo PS, já se sabe que com algumas garantias e exigências, mas isso é fogo de vista retórico. Vamos ao essencial: no mesmo dia em que a CGTP promoveu manifestações pela dissolução do Parlamento, a Frente Popular nasceu em declarações à saída do palácio de Belém. De repente parece que não houve queda do Muro de Berlim, nem perestroike, nem alargamento europeu a Leste. Numa só semana, em Portugal, andámos politicamente 20 anos para trás: instabilidade, governos precários, oscilação, falta de clarificação. O baile está armado.

O QUEIJO LIMIANO de que o PS precisa para poder pensar em governar vai ser desta vez fornecido em bandejas pelo PCP e o Bloco de Esquerda – caso exista, apesar de tudo uma maioria nesse sentido. O problema é que, se num cenário pós-eleições não fôr clara nenhuma maioria, ainda mais se acentua a crise. Ou seja, é evidente, no ponto a que se chegou, que o cenário de dissolução comporta riscos sérios de aumentar a rotatividade de governos, a instabilidade política e económica e de contribuir não para a clarificação mas para a confusão. Digamos, de um ponto de vista prudente, que de facto não se sabe se convocar eleições antecipadas não será correr um risco incontrolável.

NA «ECONOMIST» desta semana há um belo artigo sobre o preço da euforia, que começa assim: « Na Europa Medieval os dirigentes que queriam deixar uma marca no seu tempo construíam uma Catedral. Na Europa moderna constróiem-se estádios desportivos», tal como aconteceu em Portugal e na Grécia, por sinal dois pequenos países em busca de afirmação e de um lugar na nova Europa, sublinha a revista.



July 08, 2004

FRASE DO DIA
«Pode V.Exa. tirar o equídeo da pluviosidade» - Deputado Telmo Correia (PP), respondendo ao Deputado Medeiros Ferreira (PS), a propósito do à vontade com que o PS se considera vencedor de eventuais eleições antecipadas.

July 07, 2004

IMPERDÍVEL
Um dos blogs de que mais gosto é A Formiga de Langton. Não resisto a citar um excerto de um recente post: Daniel Dennett, provávelmente o mais conceituado dos filósofos da Inteligência Artificial, estará dia 8 na Faculdade de Ciências às 15h00 (sala 3.2.14 no edifício C3).Tema? Rational Avoidance in a Deterministic World. Segundo ele, parece-me, o elo determinismo-inevitabilidade parece possivel de ser quebrado. Eu espero bem que sim. Até porque neste mesmo dia, o Presidente da Républica vai falar a todos os Portugueses. E a bolsa de Lisboa, uma vez mais, vais estar praticamente imune a isso. E todas as instituições do Estado estarão? Tem estado nestes últimos dias? Que rebuliço deve por lá andar. Logo agora, que Francis Fukuyama, o arauto-mor, parece viver uma nova vida. Para quem rezava que era o fim da história, a história tem dado muitas voltas. Que será dos Neo-Cons daqui por 5-10 anos ??! Que será do PP se se realizar eleições ??! É bom viajar à boleia, qualquer viajante do mundo que se preze o sabe, mas todas as boleias transportam em si mesmas o seu fim. Entre a necessidade do espaço individual e do colectivo a boleia nasce, deambula e morre. É a natureza da própria viagem que a faz assim. O país não é psicadélico, o som está é demasiado alto.
CENÁRIOS:
1 - O PR decide manter a maioria parlamentar e não dissolver a Assembleia, convidando o PSD a formar Governo. A esquerda fica furiosa e aumenta a pressão;
2- O PR dissolve, convoca eleições e forma-se uma maioria clara. Parece improvável no actual estado das coisas, pode formar-se uma maioria relativa de esquerda mas também de direita - ficamos portanto mais ou menos como estamos, para pior devido ao desgaste;acresce que se a maioria formada fôr de direita o PR terá em cima do final do seu segundo mandato o ónus de ter preferido apostar numa solução que terá parado o país sem mudar nada;
3- O PR dissolve, convoca eleições e não há maioria possível, chega-se a um empate técnico, renasce o sindroma do voto do queijo limiano. Aí a situação é mesmo a mais complicada e no final o PR arrisca-se a que digam que desprezou uma maioria existente para chegar a um cenário ainda mais instável.
DIMITROV
O búlgaro Dimitrov foi, no período antes da II Grande Guerra, o teórico daquilo que ficou conhecido pelo Frentismo: sob a direcção dos partidos comunistas constituíam-se coligações que agrupavam as forças de esquerda inter classistas que se apresentavam às eleições sob a designação de Frente Popular - vitoriosos aliás em França e em Espanha a nível eleitoral, o que precipitou outros acontecimentos - mas adiante. Na teoria de Dimitrov a Frente Popular era um passo para a Revolução Democrática e Popular, um estádio intermédio antes da Revolução Socialista. A Frente Popular era assumidamente uma aliança táctica de várias classes para tomar o poder, após o que se caminharia para o admirável mundo novo da pureza socialista, cujos resultados hoje já todos conhecemos sobejamente. Estaline levou a coisa mais além e nos países de Leste ocupados pelo Exército Vermelho após a guerra. fabricou autenticamente partidos que representavam determinadas classes e organizou a sua aliança para poder concretizar as tais democracias populares, a meio caminho para a ditadura do proletariado.
Pois o que por aqui se está a passar é, sem tirar nem pôr, a construção de uma Frente Popular - Francisco Louçã (que está cada vez mais chato a falar, mas que continua a ser o mais sabedor de todos os políticos de esquerda), já veio ontem dar o mote e apelar a uma unificação das esquerdas. Palpita-me que vamos ter muito para observar nos próximos dias - sobretudo para ver como Belém reage à Frente Popular.
COINCIDÊNCIAS
No mesmo dia em que Bloco de Esquerda, Verdes e PCP são recebidos em Belém, a CGTP fez uma tentativa de manifestação. Tudo junto, a uma só voz, dispostos a fabricar alianças para provocar eleições - como Francisco Louça deixou bem claro. Como não acredito em coincidências em matéria política está bom de ver o trabalhinho que por aí anda a ser feito...
FALSAS MAIORIAS
Há seis partidos representados na AR: o Bloco de Esquerda, o PCP, os Verdes, o PS, o PSD e o PP. O PSD e o PP têm a maioria dos deputados, mas os partidos à sua esquerda têm a maioria das delegações e das vozes públicas. Até há um partido que nunca foi directamente a votos - os Verdes - mas está representado.
Cada vez que há alguma coisa, surgem quatro vozes de esquerda a falar e duas de direita.
Cheira-me que há aqui qualquer coisa que está mal.
Cheira-me que há aqui uma representatividade subvertida.
A Belém foram quatro vozes partidárias dizer que sim a eleições e duas dizer que não. Acontece que as duas representam uma maioria de votos expressos mas não de opinião reproduzida. Para os públicos que seguem a informação há quatro vozes num sentido e duas noutro. Confuso, não é?

July 05, 2004

NO PAIN, NO GAIN
Estes Gregos que nos venceram deviam vir de Esparta, tal era a disciplina e a determinação. Devem ter passado horas a treinar a marcação de cantos, coisa que os nossos não fizeram ao que se viu; treinaram horas como defender a grande área bem à frente para pôr os adversários fora de jogo; treinaram horas para garantir contra-ataques. A Grécia ganhou todas as partidas deste Euro por um golo, um único golo. Mas meteu-o e ficou em vantagem, regra básica do futebol. Quem trabalha alcança qualquer coisa. Nós também trabalhámos - admito - mas focámos mais na esperança que na disciplina.
BUFARIA
Se eu contasse todas as conversas telefónicas que tenho e todas as mensagens que recebo a apelar para isto ou aquilo não havia de faltar de protesto se eu viesse a público com o assunto. Mas foi isso mesmo que fez alguém que recebeu um sms meu a apelar à não dissolução do parlamento e a exprimir o apoio a Pedro Santana Lopes para Primeiro Ministro e que foi a correr denunciar o facto ao «Expresso» como se de um crime se tratasse. Por acaso tenho uma muito boa ideia de quem é a bufa - grande, traiçoeira e pouco esperta por sinal.
QUASE DUAS SEMANAS
Agora já parou o futebol e o decorrer do tempo vai pesar de forma mais saliente. A crise tem quase quinze dias: foi numa terça feira de há duas semanas, salvo erro, que o «Público» indicava que Durão Barroso podia partir para Bruxelas.
Desde há quinze dias que se sucedem opiniões, declarações, pressões. O processo tem sido educativo até porqiue tem permitido que o irracional venha ao de cima, dos locais mais insuspeitos.
Os muito frios, os muito racionais, os muito certinhos, apavoraram-se de tal forma que se excederam em tudo quando perceberam que Santana Lopes podia ser a possibilidade - e vieram a terreiro tratá-lo como se tivesse peçonha.
Se outra coisa não tivesse acontecido, este processo serviu para separar as águas, o que é sempre bom
E a ver vamos como elas se separam até tudo estar finalizado.
O PACTO DE REGIME
No meio do jogo de pingue-pongue que tem caracterizado as últimas duas semanas, a proposta apresentada por Alexandre Soares Santos na entrevista concedida ao programa «Diga Lá Excelência» é a mais lúcida de todas: o PR deve evitar convocar eleições e deve patrocinar um pacto de regime.
A situação do país é complicada, é fundamental recuperar atrasos, garantir investimentos, assegurar obra feita. Isso não se faz no meio de guerrilhas.
Era bom que no meio de tudo isto alguém pusesse o país à frente sem ser só no futebol.

July 02, 2004

AS DUAS HIPÓTESES
Sem querer jogar com cálculos de probabilidades, aqui vai uma verdade de La Palisse: nesta crise política há duas hipóteses, ou se convocam eleições, ou não.
Se não se convocarem eleições o PSD formnará novo governo, assente na maioria que a coligação lhe garante, e terá que se manter dentro das baias do programa de Governo de Durão Barroso.Isso já foi aliás garantido.
Se forem convocadas eleições o novo Governo terá um novo programa e seja qual fôr o resultado eleitoral inicia-se um novo ciclo.
As eleições podem ajudar a clarificar as coisas; mas também podem contribuir para baralhar: imagine-se que, graças a uma bem disputada campanha, Pedro Santana Lopes consiga inverter a tendência actual do eleitorado? Teríamos tido o país parado meia dúzia de meses para no fim se obter o mesmo resultado.