July 09, 2004

A ESQUINA IMPRESSA
Aqui vão uns excertos de «A Esquina do Rio», hoje dada à estampa no «Jornal de Negócios».

A SEMANA FOI MARCADA pelo nascimento da Frente Popular. Francisco Louçã disse alto o que alguns pensaram baixinho: o Bloco de Esquerda e o PC estão dispostos a viabilizar um Governo PS, já se sabe que com algumas garantias e exigências, mas isso é fogo de vista retórico. Vamos ao essencial: no mesmo dia em que a CGTP promoveu manifestações pela dissolução do Parlamento, a Frente Popular nasceu em declarações à saída do palácio de Belém. De repente parece que não houve queda do Muro de Berlim, nem perestroike, nem alargamento europeu a Leste. Numa só semana, em Portugal, andámos politicamente 20 anos para trás: instabilidade, governos precários, oscilação, falta de clarificação. O baile está armado.

O QUEIJO LIMIANO de que o PS precisa para poder pensar em governar vai ser desta vez fornecido em bandejas pelo PCP e o Bloco de Esquerda – caso exista, apesar de tudo uma maioria nesse sentido. O problema é que, se num cenário pós-eleições não fôr clara nenhuma maioria, ainda mais se acentua a crise. Ou seja, é evidente, no ponto a que se chegou, que o cenário de dissolução comporta riscos sérios de aumentar a rotatividade de governos, a instabilidade política e económica e de contribuir não para a clarificação mas para a confusão. Digamos, de um ponto de vista prudente, que de facto não se sabe se convocar eleições antecipadas não será correr um risco incontrolável.

NA «ECONOMIST» desta semana há um belo artigo sobre o preço da euforia, que começa assim: « Na Europa Medieval os dirigentes que queriam deixar uma marca no seu tempo construíam uma Catedral. Na Europa moderna constróiem-se estádios desportivos», tal como aconteceu em Portugal e na Grécia, por sinal dois pequenos países em busca de afirmação e de um lugar na nova Europa, sublinha a revista.