November 26, 2003

GRAMÁTICA
«Lembras-te?» não é de todo o mesmo que «lembraste!».
SIM
Lembro-me, por acaso lembro-me de tudo e de nada.
EMEL
Mais uma citação:
A EMEL foi criada em meados dos anos 90, com o objectivo de explorar o estacionamento de superfície em Lisboa. Como todas as boas empresas públicas, a administração da EMEL foi nomeada obedecendo aos critérios habituais de escolha para estas E.M’s: a gestão foi entregue a um grupo de poetas, sociólogos e de filósofos, amigos de longa data do senhor presidente da autarquia. Este grupo, de um amadorismo que saltava à vista, tomou conta da EMEL e rapidamente criou uma estrutura mastodôntica, com directores para dar e vender e excelentes regalias para todos. O costume. Diz-se que tinham mais directores que um banco.

Acredite-se que é difícil perder dinheiro com parquímetros. Os investimentos são irrisórios e os custos pequenos. Para que se entenda a eficiência da gestão soarista, a EMEL, que apenas paga à CML 25% das receitas que obtém dos parquímetros da cidade , conseguiu perder 500.000 contos num só ano. Como comparação, em Cascais a exploração foi entregue a uma empresa privada que pagava mais de 50% à autarquia por menos de 10% dos lugares e, ao que parece, não foi à falência.

A EMEL nunca funcionou. Ignorar os sapinhos e os seus papelinhos era a actuaçãp óbvia: as multas raramente chegavam e quando chegavam, raramente eram pagas. Bastava rasgá-las e nada acontecia.

Recentemente, com a nova administração, e após um ano de evidente paralisia, as coisas começaram a mexer. O bloqueio de rodas a veículos em infracção é fortemente dissuasor e as receitas da EMEL, ao que consta, terão disparado.

A origem está aqui.
ORGANIZEM-SE!
No meu tempo do movimento associativo estudantil havia uma boa anedota sobre o tema «organizem-se», que tinha a ver com a necessidade de alguma organização nas farras do estudantariado - hoje em dia seria muito politicamente incorrecta. Não sei porquê lembrei-me da anedota quando li isto.
GRANDE REPOSTAGEM
A equipa do Francisco José Viegas vai pôr de pé este fim de semana um novo formato da «Grande Reportagem». Eu, que sou seu admirador confesso e leitor compulsivo do Aviz fico muito contente. Força.
HOJE
Finalmente tenho razões para acreditar que as coisas podem avançar e que o projecto em que estou empenhado vai ter pernas para andar, apesar de todas as rasteiras. Doravante passa-se à fase das caneladas - a quem puser obstáculos no caminho. Parece bem?
COMO SÂO FEITOS OS TELEJORNAIS?
Não resisto a transcrever:
31.II - Problemas genéricos da nossa Imprensa – A Agenda


Em Novembro de 2003, altura em que escrevo, a agenda é dominada a 70 por cento, por dois jornais: o CM e o 24 Horas; com o Público a ser (quase) o único a tentar ter uma agenda própria e quase todos os outros a serem a excepção à regra.

A rede de correspondentes destes dois diários e especialmente as denúncias, através de cartas ou telefonemas às redacções, são o Google que determinam os nossos noticiários. Como vivemos a tal tabloidização da informação em que uma facada é mais relevante de um ponto de vista noticioso público e nacional que, por exemplo, a dinâmica da Agência Portuguesa de Investimento, e como os media não têm tempo para entender que o seu negócio não é vender informação, mas sim cumprir o seu papel ainda num cenário de elevada competitividade (mais explicações desnecessárias, presumo), o CM e o 24 Horas impõem, involuntariamente, a sua linha editorial (natural e legítima) ao resto do país.

Se lessem diariamente estes dois jornais, escusavam de ver os noticiários das 20 horas das televisões. A dinâmica é esta: o editor do jornal televisivo vê a história de manhã num destes jornais, à hora do almoço o repórter já está em Sardinhais de Cima a filmar o nabo gigante e pelas 19h30 tem a coisa montada para entrar em alinhamento, talvez a seguir de uma casa podre, em que nunca é perguntado à desgraçada da inquilina quanto paga de renda, mas são sempre filmadas as rachas no tecto.

Não é novidade que os telejornais são magazines de variedades, largamente premiados pelas audiências e pelos anunciantes. O vouyerismo que há em cada um de nós, que levamos um dia inteiro de chatices, dificilmente encontra melhor companhia para o entrecosto e as batatas fritas que estas micro-narrativas de um mundo ainda mais irreal que o nosso.

À parte o novelo Casa Pia, quase não há ‘assunto’ e um país sem ‘assunto’ é um país estranho. Mas este país, que me lembre, nunca teve direito a ter um ‘assunto’, só ao ‘assunto’ dos jornalistas.

Até à revolução TVI – power to the people – a agenda era ditada em nome dos interesses dos egos dos editores e jornalistas que, por variadíssimas razões, brincavam ao jornalismo, e escrevo brincavam num sentido lúdico do termo e usavam o jornalismo para a sua própria pessoalidade e os seus interesses. (Ou por modismos: bater em Cavaco, bater no CCB, bater na Expo, bater em Vale e Azevedo, defender Timor, chorar Amália, gozar com Santana Lopes)

Assim, e como ilustração, se um editor fosse fanático por sumo, teríamos páginas e páginas sobre o assunto, independentemente do interesse noticioso ou sequer da receptividade do público que consumisse esse media. Ou seja, um jornal era uma coisa demasiado séria para ser deixada ao capricho dos leitores.

A frenética cobertura noticiosa das reuniões dos distritais dos partidos já vai esmorecendo, mas há cinco anos era vulgar ver laudas sobre várias, em vários sítios. A sua utilidade era marginal: o jornalista encarregue de cobrir o partido precisava de cultivar as fontes e sobredimensionava a importância dos jogos florais, porque até poderia vir a dar qualquer coisa...


Ainda hoje eu abro a boca de espanto quando alguém como L. F. Meneses (ou Ângelo Correia, ou João Cravinho, ou Miguel Portas, ou José Lello) ) aparece nos telejornais ou comenta na SIC Notícias. E falo como profissional: o que é que ele interessa, noticiosamente falando?

O resultado foi o esperado: as pessoas deixaram de comprar jornais e deixaram de ver telejornais. A solução, encontrada casualmente claro, foi tirar o tapete aos jornalistas que agora correm atrás do prejuízo, depois de perderem o controle da agenda.



Isto e muito mais pode ser lido aqui

November 24, 2003

BLUES
Fim de semana a arrumar discos - odeio quando me arrumam o escritório e depois de limparem as prateleiras tiram os discos todos da ordem. Desta vez fiquei com o jazz por detrás da pop, com os portugueses atrás dos dvds, com a clássica semeada por todo o lado e com o rock disperso - sinal dos tempos e do que se passa por essas bandas. Salvaram-se os blues. Sobretudo o velho John Lee Hooker e o disco novo de Van Morrison que, vá-se lá saber porquê acabaram juntos, curiosamente ao lado de Gary Moore e do seu "Still Got The Blues".
O QUE SE PASSA?
O que se passará no apartamento de cima quando se ouvem ruídos estranhos? Nunca pensaram nisto? - Então divirtam-se com este artigo da New Yorker. Um cheirinho: Quiet, of course, is relative, especially in New York. The covenant of quiet enjoyment—the principle that allows apartment dwellers, stacked like trays of honeybees, to expect a bit of peace—can be an exasperating abstraction. Anyone who has spent some years living in the city has a noise story to tell. Either the neighbor is noisy or the neighbor is crazy. Bedsprings, headboards, blenders, bocce balls, laugh tracks, Marv Albert, Mozart. Some people can live with it and some cannot, and often those who cannot are hard to live with, too.
CAFÉS
Campo de Ourique, onde vivo, é o bairro de Lisboa de que mais gosto. É plano, passeia-se bem a pé, em vez de centros comerciais tem lojas, os fregueses são conhecidos e saudados e os cafés - dos novos aos mais antigos - estão cheios de gente a falar, a ler jornais, às vezes só a descansar. E mesmo em deias chuvosos - como ntem - há um mistério: até as esplanadas têm gente. Dar a volta ao quarteirão é um dos prazeres que tenho - e Campo de Ourique é dos melhores sítios para o fazer.
ENCONTRO
Ontem à noitinha encontrei um bom amigo e dedicado mestre da fotografia. Ficámos uns minutos à converseta no meio da rua, como sempre ele com projectos, como sempre eu a ouvi-los. Gosto do António, da forma como se apaixona, da capacidade que tem de nos entusiasmar. E gosto de encontrar assim de repente amigos no meio da rua, já noite, e parar para dois dedos de conversa.

November 23, 2003

O EURO
Para acabar de vez com a discussão... para que não se digam coisas ridículas como se vão dizendo, para que não surjam títulos parvos a prpppósito de projectos parvos (como no Público de ontem, sobre o Estádio do Braga), vejam estes projectos para os Jogos Olímpicos de Pequim (2008)... 4 anos depois do Euro 2004 !!!e não fiquem de boca aberta. E lembrem-se: acharmos que somos o centro do mundo dá sempre mau resultado. O século XXI já começou, mas às vezes por aqui não se dá por isso.
GET BACK
Depois de ter perdido o sono, vou ver se recupero o sonho.
DICK
Philip K. Dick é um dos maiores escritores de ficção científica e ganhou a sua fama na época em que o género fazia sentido. Tornou-se um clássico e hoje é um filão para a indústria cinematográfica. Leia a história inteira na Wired, a propósito da próxima estreia de «Paycheck», o novo filme de John Woo. Outros filmes baseados em obras de Philip K. Dick: «Blade Runner», «Total Recall», «Minority Report».
Curto excerto do artigo para ajudar a situar quem foi Philip K.Dick, que morreu pouco antes da estreia de «Blade Runner» e sem nunca ter ganho dinheiro que se visse com a sua obra: Dick's anxious surrealism all but defines contemporary Hollywood science fiction and spills over into other kinds of movies as well. His influence is pervasive in The Matrix and its sequels, which present the world we know as nothing more than an information grid; Dick articulated the concept in a 1977 speech in which he posited the existence of multiple realities overlapping the "matrix world" that most of us experience. Vanilla Sky, with its dizzying shifts between fantasy and fact, likewise ventures into a Dickian warp zone, as does Dark City, The Thirteenth Floor, and David Cronenberg's eXistenZ. Memento reprises Dick's memory obsession by focusing on a man whose attempts to avenge his wife's murder are complicated by his inability to remember anything. In The Truman Show, Jim Carrey discovers the life he's living is an illusion, an idea Dick developed in his 1959 novel Time Out of Joint. Next year, Carrey and Kate Winslet will play a couple who have their memories of each other erased in Eternal Sunshine of the Spotless Mind. Memory, paranoia, alternate realities: Dick's themes are everywhere.

At a time when most 20th-century science fiction writers seem hopelessly dated, Dick gives us a vision of the future that captures the feel of our time. He didn't really care about robots or space travel, though they sometimes turn up in his stories. He wrote about ordinary Joes caught in a web of corporate domination and ubiquitous electronic media, of memory implants and mood dispensers and counterfeit worlds. This strikes a nerve. "People cannot put their finger anymore on what is real and what is not real," observes Paul Verhoeven, the one-time Dutch mathematician who directed Total Recall. "What we find in Dick is an absence of truth and an ambiguous interpretation of reality. Dreams that turn out to be reality, reality that turns out to be a dream. This can only sell when people recognize it, and they can only recognize it when they see it in their own lives."

SONHO
Quando se acorda de um sonho, nasce a insónia.
SERRA
Gosto de ver as luzes ao fundo, no vale. Gosto de sentir a montanha atrás de mim.
GRANDE AVIZ
Não resisto a citar o Francisco José Viegas que com a sua simplicidade actual vai continuando a sua cruzada contra os mitos: CULTURA GERAL. Eu não concordo com a ideia de Freitas do Amaral, defendida ontem na Visão sobre a inclusão (que suponho imaginária — só pode) de uma cadeira de cultura geral no ensino Secundário (a tese vem de Hirsch, por exemplo). Mas, como quase nunca concordo com Freitas do Amaral, distingo uma ideia sua que me parece premonitória: daqui a uns anos, pelo caminho que as coisas levam no Secundário, talvez passemos «da cauda da Europa dos 15 para o terço inferior da Europa dos 25».

A ideia da Cultura Geral, de qualquer modo, pode fascinar algumas pessoas — pelo seu carácter «democrático», suponho. O problema é que a cultura geral verdadeira não é uma especificidade mas uma generalidade que resulta do interesse pessoal; esse interesse vem da frequência das «disciplinas do Cânone». O apelo constante para ceder à mediocridade na escola, na televisão, nos jornais, na vida política, é que destruiu a cultura geral. Saber onde fica Vilnius, onde desagua o Tâmega, qual a nacionalidade de Ibsen ou quem foi Tucídides, é uma coisa que se aprende num trivial pursuit — mas que se procura saber mais profundamente se a escola, a televisão, os jornais e a vida política não desvalorizarem quem tiver interesse em saber isso (a não ser no «Quem Quer Ser Milionário», naturalmente...).

November 20, 2003

A VOZ
Para os que não têm ideia o Village Voice é uma das referências do jornalismo norte-americano. Nas suas páginas começaram a escrever alguns dos grandes repórteres e escritores contemporâneos.
Para terem uma ideia:
When it was founded by Dan Wolf, Ed Fancher and Norman Mailer in the fall of 1955, The Village Voice introduced free-form, high-spirited and passionate journalism into the public discourse. As the nation's first and largest alternative newsweekly, the Voice maintains the same tradition of no-holds barred reporting and criticism it first embraced when it began publishing more than forty years ago.

The recipient of three Pulitzer prizes, the George Polk Award, Front Page Awards, Deadline Club Awards and many others, the Voice has earned a reputation for its groundbreaking investigations of New York City politics, and as the premier expert on New York's downtown scene. Writing and reporting on local and national politics, with opinionated arts, culture, music, dance, film and theater reviews, Web dispatches and comprehensive entertainment listings, the Voice is the authoritative source on all that New York has to offer. Add classifieds unrivaled by any other New York publication, the Voice is New York's most influential must-read alternative newspaper.

Dozens of diverse, talented and idiosyncratic writers, novelists, playwrights, poets, and political activists—lured by the journalistic freedom that non-mainstream status affords—have filled the Voice's pages over the years, cementing its standing as "a writer's paper." Among those who made the paper their romping ground in the past were Ezra Pound, Henry Miller, Katherine Anne Porter, James Baldwin, e.e. cummings, Ted Hoagland, Tom Stoppard, Lorraine Hansberry, Jerry Tallmer, Allen Ginsberg, Murray Kempton, I.F. Stone, Pete Hamill, and Roger Wilkins. Former Editors in Chief have included Dan Wolf, Clay Felker, Tom Morgan, Marianne Partridge, David Schneiderman, Robert Friedman, Marty Gottlieb, Jonathan Larsen, and Karen Durbin.
SANIDADE MENTAL
O «Village Voice» pôs fim à sua página semanal sobre desporto.
OSCAR WILDE

«Experiência é o nome que damos aos nosso erros».

«Perdoem sempre aos vossos inimigos; nada os deixa tão irritados».
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís de Camões

November 19, 2003

MANEL
Lembras-te quando eu passava os hinos de Meat Loaf no nosso programa de rádio de bandas sonoras de cinema e dizia que elas eram as mais cinematográficas de todas as canções? Recordas-te como me fizeste descobrir as bandas sonoras dos filmes do Almodóvar? Nestes dias tenho pensado naquelas nossas noites, num estúdio de rádio nas Amoreiras, no velho Rádio Clube Português, a curtir a paixão da música e do cinema que nos devorava. Só fazíamos aquilo por gôzo, puro gôzo - de falar, conversar, passar um bom bocado.
Resolveste fazer outro filme, teimoso como sempre foste, convicto, cheio de ideias próprias. Sempre te percebi e tenho que te perceber agora. Tenho já saudades tuas, mas percebo-te. Vamos falando Manel, cada vez que ouvir uma canção num filme vou pensar no teu sorriso, cada vez que topar um diálogo bem esgalhado vou recordar o teu encanto pelas boas «deixas». Sei que quando ouvires as guitarras do Meat Loaf te vais rir às gargalhadas.
Força rapaz. Pelo menos ficaste a saber que o velho Arnold acabou em governador - nós sempre achámos que ele tinha um futuro promissor. Força rapaz.

November 18, 2003

BUSH NO REINO UNIDO
Se querem saber porque é que uma fotografia ao lado da Rainha Isabel II pode ser importante para a geoiestratégia mundial, leiam o Spectator.
BRASIL VIRA-SE PARA LINUX
Mais dores de cabeça para a Microsoft: o responsável do Governo Federal pe4los sistemas de informação defende a utilização de plataformas de código aberto como o Linux pelos departamentos opficiais. Leia na Wired.

November 15, 2003

BOLA
Não deliro com futebol. Nem a selecção me entusiasma - e pelo caminho que as coisas levam entusiasmará poucos portugueses. Com todo o devido respeito ao meu querido amigo, acho esta conversa em torno do novo estádio do FCP uma idiotice e não consigo perecber que o facto obrigue a alterar a vida das pessoas. Quem está. está; quem não está, estivesse. Cá por mim o Euro 2004 não era preciso para nada. Nunca vi dinheiro tão mal gasto.
MÚSICA
Desde há três dias o disco que ouço repetidamente é o novo trabalho de Van Morrison, o seu primeiro registo para a prestigiada Blue Note, o muito apropriado «What’s Wrong With This Picture?».
A ESQUINA ESCRITA
Como ontem foi sexta, a «esquina» teve a sua versão impressa no «Jornal de Negócios». Excertos:
Em declarações no Cinamina, Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho, o respectivo Presidente do Júri, o realizador João Botelho, disse coisas um pouco exageradas - mas certeiras - sobre as televisões. Passo a citar: «Eles transformaram os telejornais em ficção e o resto são “reality shows”. Há cada vez menos espaço para coisas sérias, boas e rigorosas». Na mesma intervenção João Botelho exprimiu as suas dúvidas sobre a capacidade do futuro sucessor da RTP 2 em modificar este panorama. Continuo a achar ser possível criar condições que permitam que os factos mostrem que nesta última parte João Botelho se equivocou.
(...)
Criado pelo Ministro da Presidência, apresentado em Dezembro do ano passado como parte integrante das «Novas Opções Para o Audiovisual», o relatório do Grupo de Trabalho, na nota introdutória subscrita pelos seus membros, entre os quais me incluí, afirmava:
«Queremos também sublinhar uma convicção: o Serviço Público de Televisão não se coaduna com projectos de concorrência com os operadores privados, nem com a duplicação de estruturas ou o desperdício de meios, nem com a tentação da conquista fácil das audiências. Acreditamos que o Serviço Público de Televisão não pode ser escravo dos indícies de audiência, embora não possa ignorar audiências; deve ser visto pelo maior número, mas não depende, apenas, do maior número; assume a função de referência, porque a sua existência não depende de razões de mercado; e naturalmente está sujeito a mais obrigações do que os operadores privados, embora também estes devam submeter-se a certas obrigações de natureza pública».
E, mais adiante, nas Conclusões Gerais: « O Grupo de Trabalho entende que a segunda frequência pública disponível não deverá ser um canal generalista, mas antes um serviço alternativo aberto à sociedade civil, que possa reforçar, pela diferença, os princípios de universalidade, coesão e proximidade definidos neste documento, na sequência das ideias incluídas no capítulo “Programação Própria e Alternativa”». É este capítulo cuja leitura vivamente se aconselha e foi ele que, no essencial, serviu de guia para iniciar a formatação da RTP 2. Todo este trabalho serviu também para formular a proposta das «Novas Opções do Audiovisual» apresentada pelo Ministro da Presidência, da qual cito partes: «o objectivo do segundo canal é...fazer serviço público de televisão fora do operador de serviço público»; «não sendo um canal generalista procurará públicos exigentes e segmentados»; «o modelo definido, com uma gestão económico-financeira autónoma, procurando a auto-sustentação, terá um orçamento global que se estima em 50% do orçamento do Canal 2» (que era de cerca de 52 milhões de euros/ano). O mesmo documento definia claramente a cultura, a educação e a formação, a acção social, o desporto amador, as confissões religiosas, o ambiente e a defesa do consumidor, o cinema português e o experimentalismo audiovisual como as principais áreas de vocação do novo canal.
Continuo a achar que este modelo faz sentido e é possível. Confio que continue a existir empenho, de toda a gente envolvida nas decisões e operações de criação do novo canal, em que ele se concretize, nos timings e condições em que tudo foi anunciado e previsto. Acredito que o cepticismo do João Botelho desta vez se prove enganado e que os seus filmes possam ter o destaque que merecem nessa nova televisão. Aliás, só assim este projecto fará sentido.
ONTEM
Almocei sózinho, pela terceira vez esta semana. E eu, que gosto de almoçar sózinho, senti hoje a falta de alguém.
QUASE... (citando uma lembrança)
Ainda pior que a convicção do não, e a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase!
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo o que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou, ainda joga; quem quase passou, ainda estuda; quem quase amou, não amou!
Basta pensar nas oportunidades que se escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel, por essa maldita mania de viver no Outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e na frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "bom dia", quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.
A paixão queima; o amor enlouquece; o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor. Mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Para os erros há perdão; para os fracassos, chance; para os amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor, não é romance.
Não deixes que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfia do destino e acredita em ti.
Gasta mais horas realizando, que sonhando...
Fazendo, que planeando...
Vivendo, que esperando...
Porque, embora quem quase morreu esteja vivo, quem quase vive, já morreu...

(Luiz Fernando Veríssimo)

EMPATAS
Eu já sabia que havia muitos empatas e já sei do que o país gasta. Mas a coisa está pior. E há mais empatas do que havia. E mais refinados. Se isto parece uma charada visitem o melhor blog sobre comunicação.

November 12, 2003

OS MEUS AMIGOS
Soube há bocado que o meu amigo Manel, o do cinema, que já aqui citei, teve um colapso em plena redacção. Dizem-me que a situação é grave. Não consigo pensar noutra coisa. Espero que ele fique melhor, que volte a ver o sorriso do Pereira a falar de um filme.
DESCOBRIR
Há momentos em que apetece pensar como serão os outros, os que escrevem e nós não sabemos quem são. Quem estará aqui?

November 10, 2003

MUDAR
Mudar é sempre mais difícil que ficar na mesma. Combater as rotinas e os hábitos é sempre contrário à natureza das pessoas. Fazer obras causa sempre incómodos. Por isso é que alguns exercem o poder sem nada fazerem e outros o utilizam para fazer reformas. Só ao fim de alguns anos é que se vê a diferença, e muitas vezes o prazo com que a mudança se torna visível não coincide com os calendários eleitorais. Claramente esta é uma das perversões do sistema - e uma das que beneficia quem pouco faz e quem não gosta de rupturas.

November 08, 2003

PBS
Para acabar de uma vez com as confusões, aconselho todos os que falam de serviço público de televisão a visitarem a PBS, o Public Broadcasting Service norte-americano. Visitem o local, passeiem-se, vejam os conselhos dados aos produtores e as respostas às perguntas mais frequentes.

November 07, 2003

A ESQUINA ESCRITA
Porque hoje é sexta, a Esquina tem o seu lugar no «Jornal de Negócios». Excertos:
Um dia destes quando alguém fizer contas vai ficar admirado com a quantidade de livros, CD’s e DVD’s que se vendem nos quiosques de jornais. Há pelo menos meia dúzia de colecções de livros de boa qualidade à venda nos quiosques, quer de forma autónoma, quer em suplemento a jornais. Todas as semanas jornais diários de grande circulação distribuem DVD’s de filmes recentes, de qualidade e populares a preços arrasadores.

Existe um mecanismo perverso em todo este processo: há jornais que se descaracterizam do ponto de vista editorial, que deixam de ser criativos e inovadores e que parecem concentrar todos os seus recursos em manobras de marketing com o exclusivo objectivo de darem a conhecer os produtos cuja compra a baixo preço facultam. È como se já não interessasse dizer que as notícias são relevantes, e que são elas que fazem as pessoas comprar jornais. Se calhar sou eu que estou errado, mas chateia-me chegar aos quiosques e ver as prendas à venda expostas em lugar de destaque em vez das manchetes com notícias.

November 06, 2003

BERLIN
No jantar de ontem o meu amigo Vitor disse-me que Berlin está outra vez uma cidade irresistível. Antes da queda do Muro adorava Berlim, era mesmo um local único, inesperado, onde criatividade e disponibilidade andavam de mão dada. Depois da queda do Muro fui lá duas vezes e não gostei. A cidade pareceu-me confusa, sem o encanto especial que tinha antes. Parece que agora está outra vez fantástica. Fiquei cheio de vontade de ir lá. Entretanto fui aqui.
PARA SABER DE ARTE
Um dos meus amigos destes jantares vive para a pintura. É ela o seu universo. Gosta verdadeiramente de descobrir e seguir novos artistas. Ontem ao jantar falou-me deste sítio que vai já para a minha lista de favoritos.
JANTAR DE AMIGOS
Mais ou menos uma vez por mês, sem data certa, juntamo-nos à volta de uma mesa, jantar tardio normalmente, e depois ficamos horas a fio a desfiar conversa. O grupo é flutuante, vem quem quer e pode. Somos amigos há anos, alguns de nós conhecemo-nos porque alguém era amigo de alguém. Esta amizade que foi crescendo e que nos une é das coisas boas que a vida nos traz. Umas vezes uns estão na mó de cima, outros em baixo, uma vez uns estão apaixonados, outras vezes há quem esteja mal de amores. Cada vez que nos juntamos é como se tivéssemos acabado de estar juntos ontem mesmo e a conversa retoma sem solavancos. Gosto destes jantares.

November 05, 2003

ILUSÃO
Nem tudo é o que parece. Mesmo o que vem escrito e impresso. E nem sequer aquilo que se vê.
GRANDE GOOGLE
O motor de busca Google tornou-se num fenómeno cultural, transcendendo a sua vertente de mero motor de busca. Agora vai ser contado em bolsa e o The Economist tem um belo artigo sobre o assunto. Excerto: As search engines go, in other words, Google has clearly been a runaway success. Not only is its own site the most popular for search on the web, but it also powers the search engines of major portals, such as Yahoo! and AOL. All told, 75% of referrals to websites now originate from Google's algorithms. That is power.

15 ANOS
«O Independente» teve o seu primeiro número à venda em Maio, mas começou a ser preparado uns seis meses antes, por volta de Novembro. Não foram seis meses nada fáceis mas foram ricos em experiências. Começou-se numa sala de escritórios temporários alugada ali para os lados do Saldanha, ao princípio acho que pouca gente além dos próprios envolvidos acreditava que dali ía sair um jornal. Quando ele começou a tomar forma muitos deram-lhe vida curta. O tempo - 15 anos - aí está a demonstrar quem tinha razão e quem se enganou. Ontem vi muitas das pessoas de há 15 anos atrás, mas fez-me muita falta ver quem mais me apetecia que ali estivesse, o Miguel Esteves Cardoso, sem o qual nada teria acontecido.

November 04, 2003

SONO
Um bom sono vem com bons sonhos, mas sobretudo ajuda a pôr as ideias em perspectiva.
UM EXEMPLO
Os cem anos do Fundo Para a Colecção de Obras Artísticas nacionais, do Reino Unido, dão um bom tema de reflexão. A Spectator traz um belo artigo sobre o asunto. Excerto: From the first, the Fund has adroitly boxed above its weight, not least by masterminding ambitious public appeals to save such outstanding trophies as Velázquez’s ‘Rokeby Venus’ (its first and arguably greatest coup) or the Leonardo Cartoon — the latter campaign drawing over a quarter of a million visitors to see it at the National Gallery in 1962. The Fund has successfully lobbied for increased museum grants, championed free public access to museums, and broadened the debate as to what does, or should, constitute the national heritage.

In an age when prices for major works of art increasingly necessitate funding from a wide range of grant-awarding bodies, a contribution from the Art Fund (as it now calls itself) has kick-started many a major fund-raising appeal. To date, the Fund has supported the acquisition of half a million works of art by some 600 British museums, galleries and historic buildings, 56,000 of them presented as gifts or be-quests. Little wonder that those institutions should have responded so generously to the Fund’s request to borrow many of their greatest and best-loved treasures for its centenary retrospective.

A exposição alusiva à efeméride, intitulada «Saved» e que agrupa obras que o Fundo conseguiu que permancessem no Reino Unido está na Harvard gallery de Londres até 18 de janeiro.
DEMOCRACIA ELECTRÓNICA
Os Australianos parecem estar na vanguarda da utilização da votação electrónica, reporta a Wired. Excertos:While critics in the United States grow more concerned each day about the insecurity of electronic voting machines, Australians designed a system two years ago that addressed and eased most of those concerns: They chose to make the software running their system completely open to public scrutiny.

Although a private Australian company designed the system, it was based on specifications set by independent election officials, who posted the code on the Internet for all to see and evaluate. What's more, it was accomplished from concept to product in six months. It went through a trial run in a state election in 2001.

November 03, 2003

SOM
Nunca se conhece ninguém até se ouvir a sua voz.
FALAR
Do episódio de ontem de «Sex In The City» (citado de memória) : sabemos que se trata de uma relação quando se fala mais de sentimentos do que se faz sexo.

November 02, 2003

PENSAR
Dois dias a deslizar entre pensamentos perdidos.