October 26, 2007

A DESAPARECIDA DA AJUDA
(publicado no Diário Meia Hora de Quarta Feira 24 de Outubro)

Uma das primeiras pessoas a ter o documento único de identificação, tirado nos Açores, voltou ao Continente e constatou que ele aqui não serve de nada – li este relato nos jornais de há umas semanas atrás. Este facto singelo é o retrato do país simplex de Sócrates: as cerimónias de comunicação são muitas e vistosas mas depois as coisas não funcionam.

As coisas são assim por todo o lado: ontem à noite entrei no site do Ministério da Cultura e fui ver a área de notícias. A mais recente datava de 15 de Junho passado (há quatro meses) e referia-se à inauguração de uma exposição no estrangeiro, que contou com a presença da Ministra.

Este facto, também singelo, é o retrato da acção do Ministério da Cultura: Isabel Pires de Lima parece uma zombie saída de um filme de série B – não se sabe o que faz, não se conhece a estratégia que propõe para a Cultura, não se sabe qual é a sua prioridade, não se sabe qual é o seu plano de acção até ao fim da legislatura.

Desautorizada pelo Primeiro Ministro no caso da ocupação do CCB pela Colecção Berardo, Isabel Pires de Lima fez uma anedótica reestruturação orgânica dos serviços do Ministério cujos efeitos nocivos se começam a perceber e preferiu premiar nos museus o servilismo burocrático. Não tem um programa que seja bandeira de uma política, não se lhe conhece uma ideia nova, não se lhe conhece uma acção continuada. Não se percebe sequer o que faz durante o dia já que nada se vê da sua actividade – nem sequer no site do seu Ministério. Isabel Pires de Lima merece ser conhecida como a desaparecida do Palácio da Ajuda..

Ausente por completo da fulcral questão do audiovisual – o território contemporâneo da defesa da língua e da cultura – Isabel Pires de Lima ajoelha-se nesta matéria face a Augusto Santos Silva que mais não faz do que defender os interesses instalados e trocar privilégios aos operadores existentes por uma informação que não seja demasiado incómoda face ao descalabro reinante dos seus pares no Governo.

Da Ministra da Cultura não se ouve uma palavra – está desaparecida sem sequer ser em combate.