DESFADOS
(publicado na edição de 26 de Setembro do diário «Meia Hora»
Anda por aí um grande alarido em torno de uma coisa chamada «Fados», uma operação propagandística impulsionada e protagonizada por Carlos do Carmo, que logrou um inusitado investimento público, à revelia de todas as regras vigentes em matéria de financiamento ao audiovisual, para conseguir um filme onde ele próprio brilhasse no papel de inspirador da obra. Para dar um ar cosmopolita à coisa arregimentou o sempre disponível Carlos Saura, que nos últimos anos se especializou em fazer bilhetes postais em torno de géneros musicais – primeiro o flamenco, depois o tango e, agora o fado. Claro que estes filmes não foram nem grátis nem rentáveis e claro que houve sempre vários poderes a pagar a factura, o que faz sentido por que na realidade eles foram usados essencialmente como peças propangandísticas. Pena é que o resultado final tenha sido sempre mais favorável a Saura e aos produtores que foram buscar os dinheiros públicos, do que aos países que financiaram a operação, e sobretudo, na realidade pouco fizeram a médio-longo prazo pelos géneros musicais cuja imagem no mundo se dizia irem exponenciar.
O mentor e os produtores do filme gabam-se de que ele estará colocado em duas dezenas de mercados e sublinham o enorme valor que isto tem para a divulgação da cultura portuguesa. Vamos por partes: primeiro é preciso ver que mercados são estes, em que circunstâncias vai o filme aparecer (para que audiências, em que circuitos, se estamos a falar de redes de salas de estreia, se salas e circuitos de filmes de autor, ou se de canais de televisão abertos; depois, é fundamental ver bem o que o filme é – e a esse nível as primeiras notícias são alarmantes na descaracterização, na falta de rigor, no facilitismo e até no pirosismo a que se recorreu.
No fundo a questão aqui é perceber se os tais imensos mercados onde dizem que o filme vai passar são relevantes em termos de audiência e, depois, se o produto e o seu conteúdo contribuem para afirmar a marca de Portugal e a sua cultura ou se apenas aumentam a confusão e a descaracterização. Do que li e ouvi, aposto que este é mais um caso de dinheiros públicos deitado à rua para satisfação de umas quantas vaidades e interesses pessoais.
(publicado na edição de 26 de Setembro do diário «Meia Hora»
Anda por aí um grande alarido em torno de uma coisa chamada «Fados», uma operação propagandística impulsionada e protagonizada por Carlos do Carmo, que logrou um inusitado investimento público, à revelia de todas as regras vigentes em matéria de financiamento ao audiovisual, para conseguir um filme onde ele próprio brilhasse no papel de inspirador da obra. Para dar um ar cosmopolita à coisa arregimentou o sempre disponível Carlos Saura, que nos últimos anos se especializou em fazer bilhetes postais em torno de géneros musicais – primeiro o flamenco, depois o tango e, agora o fado. Claro que estes filmes não foram nem grátis nem rentáveis e claro que houve sempre vários poderes a pagar a factura, o que faz sentido por que na realidade eles foram usados essencialmente como peças propangandísticas. Pena é que o resultado final tenha sido sempre mais favorável a Saura e aos produtores que foram buscar os dinheiros públicos, do que aos países que financiaram a operação, e sobretudo, na realidade pouco fizeram a médio-longo prazo pelos géneros musicais cuja imagem no mundo se dizia irem exponenciar.
O mentor e os produtores do filme gabam-se de que ele estará colocado em duas dezenas de mercados e sublinham o enorme valor que isto tem para a divulgação da cultura portuguesa. Vamos por partes: primeiro é preciso ver que mercados são estes, em que circunstâncias vai o filme aparecer (para que audiências, em que circuitos, se estamos a falar de redes de salas de estreia, se salas e circuitos de filmes de autor, ou se de canais de televisão abertos; depois, é fundamental ver bem o que o filme é – e a esse nível as primeiras notícias são alarmantes na descaracterização, na falta de rigor, no facilitismo e até no pirosismo a que se recorreu.
No fundo a questão aqui é perceber se os tais imensos mercados onde dizem que o filme vai passar são relevantes em termos de audiência e, depois, se o produto e o seu conteúdo contribuem para afirmar a marca de Portugal e a sua cultura ou se apenas aumentam a confusão e a descaracterização. Do que li e ouvi, aposto que este é mais um caso de dinheiros públicos deitado à rua para satisfação de umas quantas vaidades e interesses pessoais.
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