September 17, 2007

BOM – A abertura de uma boa livraria no centro de Lisboa é sempre motivo de festa. Aqui se assinala a inauguração da «Pó dos Livros», no nº98 da Avenida Marquês de Tomar, um espaço amplo, bem arrumado, agradável e bem iluminado, com novidades editoriais portuguesas e também novidades importadas. Boa secção de fotografia e de banda desenhada.


MAU – Alguma coisa não funciona quando o próprio Ministro da Administração Interna é enganado pelas polícias, como aconteceu no caso do assalto à ourivesaria de Viana do Castelo.


PÉSSIMO – A habitual pantominice de Scolari deixou-se vencer pelos seus instintos mais básicos – agora pode fazer conferências sobre como dirigir homens ao estalo.


LISBOA – A Câmara Municipal devia garantir que os cidadãos que vivem e têm domicílio fiscal em Lisboa e que aí pagam imposto de circulação automóvel tivessem estacionamento gratuito à superfície em qualquer ponto da cidade que financiam; em contrapartida os não residentes deviam pagar, até mais do que agora se paga. Aqui estaria uma medida que defenderia os munícipes e que penalizaria a deslocação de veículos para a cidade, sem necessidade de evitar portagens. Dr. Costa, tem coragem para tanto?


PERGUNTANDO – Porque é que José Sócrates teve tanto empenho em receber o rocker reformado Bob Geldof e o seu Governo se esforçou por evitar o Dalai Lama?


O MUNDO AO CONTRÁRIO - O disco «A Música e a Guitarra», de Mário Pacheco, foi considerado pela revista britânica «Songlines» entre as dez melhores edições de world music de 2006. Esta semana tentei, sem sucesso, comprá-lo no «El Corte Inglês» e na FNAC do Chiado, as duas maiores discotecas de Lisboa. Não existia em nenhuma nem me sabiam dizer quando seria reposto. Fui à Amazon inglesa e lá estava o disco. Conclusão: para se comprar um disco português premiado o melhor é encomendá-lo do estrangeiro.


PETISCAR – Um bom prato de iscas à portuguesa (com elas) é das melhores coisas que me podem dar. Esta semana recordei como são excelentes no «Coelho da Rocha», em Campo de Ourique. São especiais: corte muito fino (como deve ser), mas depois disso cortadas em pedaços pequenos, quase farripas, bem temperadas e avinagradas no ponto certo. As «elas» são neste caso umas batatas fritas às rodelas de espessura média, mal passadas sem estarem cruas nem farinhentas. Uma delícia. Rua Coelho da Rocha nº104, Tel. 213900831.


LER – Shantideva foi um monge budista indiano do século VII, um príncipe que renunciou à coroa e entrou para a universidade budista de Nalanda onde por diversas razões se tornou motivo de chacota pelos seus pares. Para encurtar a história, os seus pares, que o julgavam incapaz, fizeram-lhe um desafio, convictos que Shantideva se iria ridicularizar. Em vez disso declamou-lhes um poema repleto de reflexão e ensinamentos e que havia de se afirmar um dos textos de referência do budismo, conhecido em português como «A Via do Bodhisattva». Por ocasião da visita do Dalai Lama a Portugal, acaba de ser editado pela Ésquilo, numa tradução de Paulo Borges e Rui Lopo, a partir da versão oficial inglesa do original em tibetano. Uma das citações mais conhecidas da obra é a estrofe 34, do capítulo IX, «Sabedoria»: «Quando algo e a sua não existência estão ambos ausentes da mente, nenhuma outra opção tem esta: chega a um perfeito repouso, livre de conceitos» - ou seja, há que deixar a mente tal como ela é, livre e sem entraves, solta do dogma da verdade única.


OUVIR – Volta e meia apetece-me voltar a ouvir alguns discos. Nestas últimas semanas tenho repetidamente posto a tocar «The Intimate Ella», um registo de gravações de Ella Fitzgerald em que a cantora é apenas acompanhada pelo piano de Paul Smith. Originalmente gravadas em 1960 e editadas como banda sonora do filme «Let No Man Write My Epitaph» (um filme menor, que não fez história, sobre o mundo da droga e a corrupção), estas 13 canções são interpretações invulgarmente intimistas, muitas vezes melancólicas até. Estes temas foram editados em CD sob a designação «The Intimate Ella» em 1990 e entre eles estão grandes clássicos como «Angel Eyes», «I Cant’t Give You Anything But Love, Baby», «My Melancholy baby», «Misty», «September Song» e «Reach For Tomorrow», entre outras. Por curiosidade o ano original de edição do disco, que na altura passou despercebido, é o mesmo do célebre «Ela In Berlin», uma gravação ao vivo que recebeu dois Grammies e em que Paul Smith também acompanha Ella. CD Verve, distribuição Universal Music.


BACK TO BASICS – Toda a alegria que o mundo contém / Veio por desejar felicidade para os outros. / Toda a aflição que o mundo contém / Veio por querer o prazer para si mesmo. (Shantideva)