September 02, 2007

OFERTAS – Aqui há uns anos, numas eleições autárquicas, havia candidatos que se promoviam à custa de electrodomésticos; agora é o Governo que se promove à custa de entregas de computadores. O conteúdo é diferente, mas o princípio é o mesmo.


CURIOSO – A TVE decidiu deixar de fazer transmissões directas de touradas. Mantém magazines sobre tauromaquia, mas o serviço público de televisão no país mais aficionado por toiros do mundo resolveu que deixaria as touradas para as praças de touros. Vindo de um serviço público é um exemplo curioso, não é?


ASAE – Coisas que a ASAE deve estar quase a classificar como espécies em vias de extinção: a venda de bolacha americana na praia; as simpatias de alguns restaurantes algarvios que oferecem no fim da refeição uma medronheira caseira aos clientes; peixe não congelado nem embalado, assado na brasa ao ar livre, num grelhador feito a partir de um bidon; restaurantes com bancos corridos não ergonómicos nem certificados por um qualquer burocrata europeu; tarte de alfarroba não pasteurizada nem embalada.


ROTUNDAS – Há uns anos que não andava em vai-vem pelo país e julgava que o movimento de construção de rotundas tinha abrandado. Puro engano, a rotundomania continua em grande forma, a maior parte tem ajardinados horrendos, fontes em esguincho e, alguns, peças escultóricas medonhas - os autarcas são na realidade a vanguarda responsável por pôr o país inteiro a andar aos círculos sem sair do mesmo sítio.


A MESMA LUTA – António Costa e Rui Rio mostram ter grandes semelhanças em matéria de entretenimento. Rio resolveu monopolizar os céus do Porto para uma mais que discutível corrida de aviões - na prática por cima da cidade - e ninguém acha a coisa absurda; e António Costa promove um festival de magia e ilusionismo pelas ruas da Baixa, ao mesmo tempo que se deixou cair na tentação de transformar o Terreiro do Paço numa feira de fim-de-semana. Ambos gostam mais de fogachos do que em pensar uma política de entretenimento, diversão e cultura estruturantes, mas pelo meio lá vão gastando os magros orçamentos que têm. La Feria, que se tinha albergado nos braços de Rui Rio, deve estar prestes a regressar a Lisboa, ao regaço de António Costa. Ou então divide-se por ambos: dois apoios sempre são melhores que um só – é a globalização norte-sul…


INVESTIGAR – Um dos meus géneros favoritos é o livro policial. Há uns tempos vi umas referências elogiosas a uma escritora norte-americana que não conhecia, Sara Paretsky, Foi ela a criadora da detective privada V. I. Warshawski, em cujas aventuras baseia a sua escrita, que já vai em mais de uma dúzia de títulos publicados. Pesquisando na net vi elogiosas referências a um dos títulos recentes, de 2003, «Blacklist» e resolvi encomendá-lo pela Amazon. Saiu-me uma edição de bolso da Penguin, de letra minúscula, mas que apesar desse desconforto, se lê sem parar. A escrita de Paretsky é envolvente, intimista, relatada sempre na primeira pessoa, em nome da detective Warshawski, mulher de vida complicada, algo confusa e obcecada por uma boa investigação. O que é certo é que fiquei fã de Paretsky e resta-me agora continuar a ler o resto da sua obra. O próximo é capaz de ser «Ghost Country», um não policial, descrito como « uma viagem mágica e emocionante por algumas das mais cruéis ruas de Chicago», precisamente a cidade onde a escritora vive.


DESCOBRIR – As gravações das actuações de John Coltrane no Festival de Newport em 1963 e 1965, agora pela primeira vez reunidas num CD, «My Favourite Things: Coltrane at Newport». A gravação de 1963 apresenta os três temas com que Coltrane encerrou o Festival desse ano,«I Want To Talk About You», um clássico de Billy Eckstine, o standard «My Favourite Things» da dupla Richard Rodgers e Oscar Hammerstein e finalmente um tema do próprio Coltrane, «Impressions». Nessa noite Coltrane era acompanhado por McCoy Tyner no piano, por Jimmy Garrison no contrabaixo e por Roy Haynes na bateria. Dois anos mais tarde a banda era quase a mesma (Elvin Jones estava de regresso à bateria no quarteto de Coltrane), mas a música estava mais solta e arrojada, era o tempo em que se experimentava a «New Thing». Curioso comparar a versão deste segundo ano de «My Favorite Things» com a de dois anos antes, e muito interessante ver como Coltrane , em termos de composição e improviso, avançava no seu tema «One Down, One Up». Coltrane havia ainda de regressar a Newport um ano depois, no que foi a sua última apresentação no Festival – o músico morreu em 1967, aos 40 anos. As gravações destes dois primeiros anos de Coltrane no Newport Jazz Festival são considerados momentos altos de uma carreira meteórica. CD Impulse, Distribuição Universal Music.


BACK TO BASICS – É muito perigoso querer ter razão quando um Governo persiste nos erros, Voltaire.