July 23, 2007

ENCOLHIMENTO - O resultado, nos partidos políticos, das eleições intercalares em Lisboa assemelha-se ao efeito que um programa de máquina de lavar roupa com a temperatura demasiado alta tem nas lãs: encolhimento generalizado. Tal como as lãs que sofrem este tratamento, os partidos políticos correm o risco de deixar de servir, garantidamente ficaram estragados. Pior ainda: as reacções ao longo desta semana vão no sentido das lutas internas, em vez da modificação da forma de fazer política. Quem está a destruir o papel dos partidos são as máquinas do clientelismo partidário e os seus dirigentes, não são os independentes. Os cidadãos querem uma política com causas, não querem uma acção política que parece saída de uma consulta médica: uma folha de receitas para as maleitas. Sugiro que leiam na edição desta semana da revista «Time» o artigo «The New Action Heroes», onde se relata como o Mayor de Nova York, Michael Bloomberg, e o Governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, passaram por cima do ideário do seu partido – ambos são eleitos pelos republicanos – abraçaram causas que interessam aos cidadãos e puseram em acção medidas que Washington pura e simplesmente nunca implementaria.


CURTO - O PS em Lisboa teve uma vitória de Pirro. Perdeu 20.000 votos entre 2005 e 2007, o seu candidato não conseguiu mobilizar o eleitorado e, apesar os insistentes apelos para obter maioria absoluta, enfrentou a maior abstenção de sempre, o que naturalmente o afectou em primeiro lugar e na prática lhe impediu o objectivo. Acresce que o facto de nestas eleições se ter verificado o maior número de votos brancos e nulos alguma vez registado em Lisboa mostra bem a recusa consciente de parte activa do eleitorado das políticas propostas. Costa venceu, mas não convenceu.


DIGITAL - Na conferência «Os Media da nova geração na era digital», a Comissária europeia para a Sociedade de Informação e Meios de Comunicação, Vivianne Reid, serviu um grande chá ao Ministro Santos Silva, recordando, depois de uma despropositada intervenção do governante, que se deve defender a flexibilização das regras publicitárias nos canais abertos de televisão, que nunca deve existir intervenção estatal em questões editoriais, e que o estado português está a ficar perigosamente atrasado na introdução da Televisão Digital Terrestre.


LER – Em Portugal vivia-se o calor do verão de 1974 quando foi pela primeira vez publicado o livro «Zen E A Arte da manutenção das motocicletas», de Robert M. Pirsig – por isso a sua edição original, nessa época, passou meio despercebida. 25 anos depois o livro foi relançado nos Estados Unidos e agora chega cá. O autor explica que o livro não é bem sobre a filosofia budista nem sobre motocicletas, mas é certo que o tema central é aquilo a que o seu autor chamou de a metafísica da qualidade. Na prática o livro relata uma viagem, feita por duas pessoas que representam dois tipos diferentes de personalidades, um mais interessado no lado espiritual das coisas e outro que se concentra nos detalhes e na forma de funcionamento das coisas. Há quem diga que este é o livro de filosofia mais vendido de sempre e George Steiner comparou Pirsig a Proust. Boa tradução de Fernanda Pinto Rodrigues, editada pela Presença, 420 páginas.


OUVIR – «Lisboa» é uma exemplar compilação de temas e interpretações originais, nascida pela mão do músico Rodrigo Leão e do editor Tiago Faden, que acabaram de criar a editora independente «Lisboa Records». Na terça-feira passada no «Frágil», parte do disco foi apresentado ao vivo e arrisco dizer que se criou um ambiente especial, mostrando como aquele espaço continua a ter uma magia muito própria e merece ser visitado mais vezes. De regresso ao disco destaco os temas «O Estranho Caso do Amante Preguiçoso», de Rui Reininho e Armando Teixeira, «Cidade Tejo» de Rodrigo Leão e Ana Carolina Costa, «Primeira Hora» das Danças Ocultas, «Passagem a Limpo», um poema de Cesariny repescado pelos Naifa e uma imperdível interpretação do clássico «Com Que Voz» por Maria Ana Bobonne e Ricardo Rocha. Curiosidades adicionais: a voz de Cesariny a ler o seu poema «You Are Welcome To Elsinore» sobre um trabalho de sons idealizado por Paulo Abelho, e o «Poema», também de Cesariny, dito por Rogério Samora sobre música de Gabriel Gomes e Rodrigo Leão.


BACK TO BASICS – Debaixo de cada pedra espreita um político, Aristófanes