July 11, 2007

DIA 15 VOU ABSTER-ME
(Publicado no diário «Meia Hora» de 11 de Julho


Nas eleições em Lisboa não faltam candidatos. Mas, em contrapartida, esta abundância é contrabalançada pela falta de ideias, pela falta de projectos, pela ausência de uma estratégia para a cidade. O programa de todos os candidatos resume-se a três palavras: combater o défice - curioso é que nenhum explica como fazê-lo, promovendo em simultâneo a recuperação da cidade para os seus habitantes.

Na área da política cultural as propostas são muito pobres e rotineiras. Para que interessa a política cultural com a cidade neste estado? – perguntarão alguns. Por uma simples razão: porque numa cidade como Lisboa, a política cultural faz parte da construção da imagem e faz parte da sua capacidade de atracção turística – o que quer dizer, faz parte de uma área económica importante, que gera emprego e produz receitas. A política cultural (de um país ou de uma cidade) não é uma bizarria de intelectuais – os políticos domésticos já deviam ter percebido isso – é uma área de actividade importante do ponto de vista estratégico, que tem consequências na criação de emprego e no estímulo da actividade económica numa série de sectores.

Um estudo recente da União Europeia, que há uns meses fez manchete nos jornais, mostrava isso mesmo – a importância das indústrias culturais na economia, quer directa quer indirectamente. Quem se der ao trabalho de ler os programas eleitorais dos candidatos à Câmara de Lisboa verá que ninguém o teve em conta. Questões básicas como a ligação ao Turismo, a articulação com as escolas, a conjugação de esforços com os organismos dependentes do Ministério da Cultura e localizados na cidade, a criação de um conselho de coordenação, a nível cultural, que abranja a área metropolitana de Lisboa ou, finalmente, a negociação de estímulos fiscais e incentivos a iniciativas como uma Film Commission, são tudo temas ausentes.

Neste panorama, com mais de uma dezena de candidatos, nenhum com ideias interessantes, nenhum com claras capacidades de liderança, que me resta fazer? – A resposta, para mim, é evidente: abstenção, a única maneira de mostrar o meu protesto pessoal pela cada vez maior degradação do regime e pela maneira como os partidos políticos actuam.