RECORDISTAS
(publicado do diário gratuto «Meia Hora» em 19 de Setembro)
Este ano Portugal corre o sério risco de se tornar o país da Comunidade Europeia com maior número de partos ocorridos em ambulâncias – é rara a semana em que não se tem notícia de mais um nascimento a meio de uma qualquer estrada entre uma terra onde antes existia uma maternidade, entretanto encerrada pelos diligentes serviços do Ministério da Saúde, e o hospital de destino.
Os mesmos diligentes serviços começaram agora a seguir a prática de contrariar as prescrições de médicos, quando lhes parece que os medicamentos receitados são de custo elevado. Na semana passada soube-se que os serviços administrativos de um Hospital haviam rejeitado uma recomendação médica sobre a utilização de um novo medicamento num paciente com cancro. Aqui há uns meses descobriu-se, da pior forma, que as juntas médicas eram dominadas por burocratas que nada sabiam de medicina e que ultrapassavam as recomendações médicas – o escândalo foi tal que o Governo teve de intervir. A predominância dos burocratas sobre os médicos no sistema de saúde do Estado arrisca-se a constituir outro triste recorde lusitano.
Mas estes diligentes serviços do Estado encontram muita ajuda dentro do sistema quando se trata de maltratar a vida e a saúde dos contribuintes. Há poucos dias atrás os familiares de um doente em estado grave chamaram a atenção para outro caso: a ambulância em que um doente seguia, aparentemente com uma ataque cardíaco, foi parada pela Brigada de Trânsito da GNR, que a terá imobilizado cerca de um quarto de hora fazendo uma fiscalização formal, apesar de avisada de que estava a ser transportado um doente em estado grave e situação de urgência. O doente veio a falecer à chegada ao hospital, o coração não resistiu e os seus familiares colocam a questão de saber se, caso a GNR não tivesse agido como agiu, se poderia ter salvo uma vida. Parece que a GNR queria confirmar se estava a ser feita uma utilização abusiva das luzes de emergência – e em vez de ter escoltado a ambulância ao hospital de destino e aí ter tirado as dúvidas, resolveu averiguar se o doente estava mesmo doente, ali no meio da estrada.
Eu, por mim, gostava que os inquéritos que devem ser levantados a casos destes tivessem conclusões rápidas publicamente divulgadas e culpados apontados a dedo e castigados. Mas Portugal também é o país recordista de inquéritos inconclusivos…
(publicado do diário gratuto «Meia Hora» em 19 de Setembro)
Este ano Portugal corre o sério risco de se tornar o país da Comunidade Europeia com maior número de partos ocorridos em ambulâncias – é rara a semana em que não se tem notícia de mais um nascimento a meio de uma qualquer estrada entre uma terra onde antes existia uma maternidade, entretanto encerrada pelos diligentes serviços do Ministério da Saúde, e o hospital de destino.
Os mesmos diligentes serviços começaram agora a seguir a prática de contrariar as prescrições de médicos, quando lhes parece que os medicamentos receitados são de custo elevado. Na semana passada soube-se que os serviços administrativos de um Hospital haviam rejeitado uma recomendação médica sobre a utilização de um novo medicamento num paciente com cancro. Aqui há uns meses descobriu-se, da pior forma, que as juntas médicas eram dominadas por burocratas que nada sabiam de medicina e que ultrapassavam as recomendações médicas – o escândalo foi tal que o Governo teve de intervir. A predominância dos burocratas sobre os médicos no sistema de saúde do Estado arrisca-se a constituir outro triste recorde lusitano.
Mas estes diligentes serviços do Estado encontram muita ajuda dentro do sistema quando se trata de maltratar a vida e a saúde dos contribuintes. Há poucos dias atrás os familiares de um doente em estado grave chamaram a atenção para outro caso: a ambulância em que um doente seguia, aparentemente com uma ataque cardíaco, foi parada pela Brigada de Trânsito da GNR, que a terá imobilizado cerca de um quarto de hora fazendo uma fiscalização formal, apesar de avisada de que estava a ser transportado um doente em estado grave e situação de urgência. O doente veio a falecer à chegada ao hospital, o coração não resistiu e os seus familiares colocam a questão de saber se, caso a GNR não tivesse agido como agiu, se poderia ter salvo uma vida. Parece que a GNR queria confirmar se estava a ser feita uma utilização abusiva das luzes de emergência – e em vez de ter escoltado a ambulância ao hospital de destino e aí ter tirado as dúvidas, resolveu averiguar se o doente estava mesmo doente, ali no meio da estrada.
Eu, por mim, gostava que os inquéritos que devem ser levantados a casos destes tivessem conclusões rápidas publicamente divulgadas e culpados apontados a dedo e castigados. Mas Portugal também é o país recordista de inquéritos inconclusivos…
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