June 08, 2007

ISTO ANDA TUDO LIGADO
(publicado na edição nº1 do jornal «Meia Hora»

Os principais candidatos à Câmara de Lisboa andam legitimamente inquietos com as contas da autarquia. Falam muito do passado e pensam muito pouco sobre o futuro. Do muito que têm dito, pouco tenho ouvido sobre qual a sua estratégia para o posicionamento da cidade, nenhum se arrisca a dizer como tenciona fazer outras coisas além da limpeza das ruas e da reparação dos buracos do pavimento.

Isto é capaz de ser uma injustiça – o Dr. António Costa provou este fim-de-semana que quer pistas para bicicletas, certamente uma justíssima preocupação para um posicionamento de Lisboa como a cidade do pedal…Será que vai construir uma ciclovia daqui até à Ota?

Adiante: nesta nossa Europa há um número crescente de turistas que prefere as cidades às praias ou a possibilidade de visitar uma exposição a dormir debaixo de um coqueiro. Todos os indicadores mostram que o turismo de «short-break», de fim de semana, é o que mais tem aumentado em Lisboa, criando um fluxo regular ao longo de todo o ano. Há duas coisas que podem destruir esta tendência: colocar o aeroporto a caminho de Coimbra e desinvestir na área da criatividade e do investimento cultural. No último ano Lisboa já perdeu a Experimenta Design e a Lisboa Photo, e a Moda Lisboa foi reduzida em dimensão. Qualquer destes eventos, em conjunto com o África Festival, gerava mais páginas sobre Lisboa na imprensa internacional que todas as outras iniciativas autárquicas juntas. Se Lisboa sair do mapa das cidades onde se passam coisas diferentes, morre para este novo turismo urbano e não há sol nem clima que nos salve.

Em todo o mundo, cada vez mais, o posicionamento internacional e a imagem das grandes cidades passa pela definição de políticas culturais e de uma estratégia de criatividade, assumidas como um motor de desenvolvimento, e não como um mero serviço social de atribuição de subsídios. A política cultural de uma cidade pode ser encarada como uma fonte de receitas, e não apenas como um centro de custos. Que pensam os candidatos sobre este assunto? E que se propõem fazer, para além de cultivar o silêncio?