June 30, 2003

DIFERENÇAS DE CULTURAS

John Willis é o novo Director da área da BBC que produz programas de televisão da área documental e de ensino. Durante um ano trabalhou nos Estados Unidos, num canal de Boston a WGBH. Há poucos dias fez um curioso discurso sobre as diferenças na forma de produzir televisão entre os dois países, quer em programas de entretenimento, quer em noticiários. Willis não é meigo na análise e não hesita em dizer que os media norte-americanos em geral e os noticiários de televisão em particular muitas vezes ultrapassam os limites na opinião e na posição editorial de que partem para fazer os seus trabalhos.
Uma citação, com a devida vénia:
«Above all there was little or no debate. America’s political leaders remained unchallenged. Any lack of patriotism was punished with McCarthyite vigor, even in the television industry, where CBS’s Ed Gernon was summarily dismissed for a mild case of expressing his opinion. Public television was a rare haven for robust questioning and independent reporting, but PBS is relatively marginal to American culture.
Watching BBC World or seeing reporters from ITV, BBC and Sky within network reports or watching CSPAN’s coverage of British Parliamentary debates made me – and many Americans – realize just what the world’s largest democracy was missing. No wonder viewers for BBC America and BBC website hits rose significantly.
For all the warts on British television, a year in America has taught me just how lucky we are to have not just the BBC but a range of diversely funded channels with different layers of public service ambitions and obligations. The lesson from America is that if news and public affairs are left purely to the market, it will most likely give the government what it wants.»
O discurso na íntegra pode ser lido aqui
UMA DECISÃO HISTÓRICA PARA OS BLOGS
Um tribunal norte-americano considerou que blogs e algumas outras edições electrónicas não podem ser consideradas judicialmente responsáveis por conteúdos que transcrevem. A decisão, em última análise permite a continuada utilização dos blogs como fonte de difusão de informação - que eu acho que é das suas características mais relevantes pelo efeito de cascata que tão bem se exemplificou em Portugal com o caso Felgeuriras ou com o editorial do «DNA». Por outro lado a discussão em torno dos graus de responsabilidade relativa nos diversos media contribui para a discussão sobre o jornalismo e os blogs.
"One-way news publications have editors and fact-checkers, and they're not just selling information -- they're selling reliability," said Cindy Cohn, legal director of the Electronic Frontier Foundation. "But on blogs or e-mail lists, people aren't necessarily selling anything, they're just engaging in speech. That freedom of speech wouldn't exist if you were held liable for every piece of information you cut, paste and forward." - citada da revista WIRED.
Recomendo a todos a leitura integral do artigo sobre esta questão na nossa querida Wired
JORNALISMO EM ANÁLISE
Para quem gosta de seguir o mundo dos media recomenda-se vivamente uma visita a Jornalismo e Comunicação, um blog no âmbito do Mestrado em Informaçõo e Jornalismo da Universidade do Minho. Lá se espelha já a polémica entre esta ESQUINA e o OUTRO EU a propósito do jornalismo-reacção - assunto a desenvolver muito em breve. Mas hoje mesmo o que vale a pena ler no Jornalismo e Comunicação é o belo trabalho sobre a cobertura efectuada à marcha do orgulho gay.
A OUTRA HISTÓRIA
O abrupto apresenta uma grande sugestão:«Ainda ninguém se lembrou de fazer uma história de uma estrada moderna, como a EN 1 com a sua ascensão e decadência. Era interessante, quase que se podia fazer uma história de Portugal no século XX com base na EN 1. » Aqui está uma boa maneira de falar de História, ligando-a mais à vida das pessoas.
BLOG INFORMA
E pronto - aconteceu-me hoje pela primeira vez: apenhei uma notícia, em primeira mão, por um blog. Foi no bom Outro Eu de Carlos Vaz Marques que soube logo bem cedinho da morte de Katherine Hepburn, a mulher que teve o olhar mais sensual do cinema. O blog do CVM tem agora música e tem sempre boas informações. As entrevistas que ele faz ao fim da tarde na TSF fazem parte muito frequentemente dos meus dias. Agora, o Outro Eu também.

June 28, 2003

A COISA ESTÁ PRETA...
Bom calor. Deve ser bom para a praia - isto é, para quem goste de praia. Ou então para quem goste de passear nos souks dos tempos modernos - bons souks, claro, com ar condicionado. Há bocado vinha eu em direcção a Lisboa, nos acessos á Ponte Vasco da Gama, e passei por um centro comercial novo, gigantesco, horrível, que abriu entre o Montijo e o Barreiro. Não cabia mais um carro no parque de estacionamento. Mesmo com crise estava tudo cheio. A abarrotar. Imagino corredores cheios de gente tudo a a lamber as montras, a mudar fraldas em fraldários, as mulheres a experimentarem roupas umas atrás das outras, os homens à espera delas, as crianças aos berros, o cheiro a comida frita pelo ar. Esta malta passou uma semana nas bichas para o emprego e no stress do trãnsito e enfia-se num sábado solarengo num Centro Comercial a abarrotar pelas costuras. Isto será normal? Sou eu que estou louco?
MANIPULAÇÕES
O «Expresso» tem uma vasta tradição a manipular resultados de sondagens com títulos extrapolados cuidadosamente. Na edição de hoje, em primeira página, titula «Esquerda bate Direita» e logo a seguir apresenta os resultados de uma sondagem em que, nas eleições presidenciais (por sinal aquelas onde há maior clivagem e rivalidade esquerda/direita), potenciais candidatos de direita derrotam potenciais candidatos de esquerda em 4 das 5 hipóteses referidas. Se lermos com atenção o artigo percebe-se que o único (e desgraçadamente habitual vencedor) é o malfadado centrão político. Por alguma razão o «Expresso» é o jornal de referência da classe política.
CONCERTÃO
O concerto do Trio de Bernardo Sassetti sexta à noite no Fórum Roma superou as minhas expectativas. Foi baseado, claro, no disco «Nocturno» de 2002, mas fez incursões por outras paragens. Bernardo Sassetti está numa grande fase, com um misto de energia e criatividade invulgares. Mas o que mais surpreende é a forma como o grupo se comporta, com uma perfeita compreensão entre Sassetti no piano, Carlos Barreto no baixo e Alexandre Frazão na bateria. Vale a pena dizer que Barreto é provavelmente o melhor contrabaixista português nos dias de hoje e que Alexandre Frazão (um já portuguesíssimo brasileiro) fez solos arrebatadores. Noite bem ganha esta, para começar o fim de semana.

June 27, 2003

FANTÁSTICO TRABALHO
No «Diário de Notícias» de hoje vem uma notícia fantástica: página15, «Alberto Martins Furioso com Mota Amaral - Deputado socialista diz que foi a Sevilha em «trabalho político» e quer ver a sua falta ao plenário justificada». A história é simples. O deputado foi a Sevilha ver o Futebol Clube do Porto jogar (e vencer) a final da Taça UEFA, no passado dia 21 de Maio. Eleito pelo círculo do Porto, o deputado entende que foi ver o desafio de futebol em estrito trabalho político de manutenção de boa vizinhança com o descomplexado mundo do futebol e , presume-se, em particular com o notável Senhor Pinto da Costa. Quer dizer: O deputado Alberto Martins sofreu em ir a Sevilha em trabalho. Sobreviveu ao calorão porque era trabalho. Viu o jogo como um trabalhador. Entusiasmou-se com o cansaço do trabalho. Suou de toda esta trabalheira. Prazer, alegria pessaol, nicles. Foi tudo obrigação.
Parece que mais deputados entendem que ir à bola é trabalho. Se a moda pega para o ano, com os jogos do 2004, a coisa promete. O melhor é fechar o Parlamento para férias mais cedo.
IMAGENS
Abre hoje no Museu Nacional de Arte Antiga uma exposição de cerca de 350 fotografias de Carlos Relvas, fotógrafo português do século XIX que tem uma obra extensa e de elevada qualidade. Na Golegã existe a sua casa museu, com o estúdio que ele construíu e que, agora está a ser objecto de um meticuloso restauro quase concluído. É deliciosa a obra de Relvas e uma ida ao Museu é sempre um pretexto para descobrir os seus jardins sobre o Tejo e para parar um pouco na esplanada da cafetaria. Mais pormenores no IPM
PARA COMEÇAR, UMA CORRECÇÃO
Logo na primeira edição impressa de «A Esquina do Rio», há que fazer uma correcção. 26 de Junho de 1963 foi o dia em que John Kennedy pronunciou o discurso frente ao muro de Berlim e não o 40º aniversário da sua morte, que de facto ocorreu a 22 de Novembro do mesmo ano, seis meses depois do discurso berlinense. Informações sobre o discurso podem ser vistas aqui e a biografia completa do Presidente Kennedy pode ser consultada na sua biblioteca.

June 26, 2003

A IMPORTÂNCIA DOS NÚMEROS
6-3. 6-3! 6-3? Lembram-se? Este Carlos Queiroz que agora foi para o Real Madrid é o mesmo que, sentado no banco de treinador do Sporting, fabricou o massacre de 6-3, que deu a vitória ao Benfica. Formidável, não é?
JORNALISMO REACÇÃO
Uma das pequenas perversões do nosso jornalismo corrente, que me parece ter começado nos tempos iniciais da TSF, é aquilo a que chamo jornalismo-reacção. O método é simples: alguém toma uma posição e, de seguida, baseado numa interpretação sui-generis do contraditório, passa-se à fase em que a notícia deixa de ser o que foi anunciado, o que aconteceu de facto, para ser sobretudo a teia de reacções que são procuradas mesmo que naturalmente não existam. Ou seja, o facto deixa de ser a notícia e a notícia passa a ser o conjunto de reacções ao facto. Como é bom de ver isto produz um caos de comunicação, inverte o primado do facto e erege a opinião em notícia. Tudo ao contrário, portanto. O mais grave é que, na realidade, os factos noticiosos passam a ter menos destaque e menos explicação do que a reacção que provocam. Ou seja, muito dificilmente os públicos percebem a essência daquilo que aconteceu e provocou a reacção e ao longo dos anos os jornalistas habituaram-se a considerar as reacções por eles provocadas ao mesmo nível dos factos que as originam. Acontece que isto é um desvirtuar das regras básicas do jornalismo e uma subversão do princípio do pluralismo: muito facilmente por este processo as opiniões de sectores pouco representativos em termos eleitorais ganham mais amplitude do que aquelas que maior votação eleitoral obtiveram.

June 25, 2003

A POLÉMICA BLOG
Feliz coincidência esta, poder começar uma nova coluna semanal de imprensa ao mesmo tempo que um blog - e vou usar a forma blog em vez do blogue politicamente correcto. A coisa tem ainda mais graça por causa da polémica desencadeada por um editorial do DNA de sábado passado, onde se defendia, na realidade, que quem tem acesso a escrever nos media tradicionais não devia utilizar este novo media que são os blogs.
Num interessante artigo publicado na Online Journalism Review Mark Glaser aborda a forma como os blogs estão a influenciar os media e pediu a oito influentes bloggers para estabelecerem listas dos seus blogs preferidos. Listas e artigo em glaser