June 26, 2003

JORNALISMO REACÇÃO
Uma das pequenas perversões do nosso jornalismo corrente, que me parece ter começado nos tempos iniciais da TSF, é aquilo a que chamo jornalismo-reacção. O método é simples: alguém toma uma posição e, de seguida, baseado numa interpretação sui-generis do contraditório, passa-se à fase em que a notícia deixa de ser o que foi anunciado, o que aconteceu de facto, para ser sobretudo a teia de reacções que são procuradas mesmo que naturalmente não existam. Ou seja, o facto deixa de ser a notícia e a notícia passa a ser o conjunto de reacções ao facto. Como é bom de ver isto produz um caos de comunicação, inverte o primado do facto e erege a opinião em notícia. Tudo ao contrário, portanto. O mais grave é que, na realidade, os factos noticiosos passam a ter menos destaque e menos explicação do que a reacção que provocam. Ou seja, muito dificilmente os públicos percebem a essência daquilo que aconteceu e provocou a reacção e ao longo dos anos os jornalistas habituaram-se a considerar as reacções por eles provocadas ao mesmo nível dos factos que as originam. Acontece que isto é um desvirtuar das regras básicas do jornalismo e uma subversão do princípio do pluralismo: muito facilmente por este processo as opiniões de sectores pouco representativos em termos eleitorais ganham mais amplitude do que aquelas que maior votação eleitoral obtiveram.