April 26, 2005

O GRANDE PROJECTO

FUTURO - Nicholas Negroponte, o fundador do célebre Media Lab do Massachussets Institute of Technology, lidera uma equipa que está a estudar a possibilidade de produzir em massa computadores portáteis com capacidade de navegar na net e caracteristicas multimedia e que possam ser vendidos ao preço unitário de 100 dolares, com o objectivo de fomentar a utilização da tecnologia por jovens estudantes das zonas mais pobres do globo, dos países em vias de desenvolvimento. A ideia é que sejam os Governos locais a comprar os computadores, que depois serão distribuídos às escolas e estudantes. O lema deste projecto é «um laptop para cada criança». A equipa de investigadores já recebeu seis milhões de dolares dos três parceiros iniciais que estão a financiar o projecto: a Advance Micro Devices, a Google e Rupert Murdoch. A missão da equipa é tornar os computadores portáteis uma coisa vulgar nas regiões mais desprotegidas e Negroponte baseia-se numa constatação – o preço de um destes aparelhos será menor que o custo dos livros escolares que a máquina pode substituir com vantagem. As máquinas, que serão resistentes e duráveis, terão apenas o software básico necessário, que operará sobre um sistema operativo Linux e serão equipadas com uma bateria capaz de ser recarregada por um gerador manual de manivela, para que a falta de electricidade em regiões remotas não seja problema; terão conectividade wi-fi e portas USB para possibilitar a ligação a periféricos e capacidade de ligação imediata em rêde de máquina para máquina. A procissão ainda vai no adro mas este é um dos mais entusiasmantes projectos para que num futuro próximo se reduzam as diferenças no novo mundo digital entre as várias regiões do globo. Um estudo recente efectuado em 53 países mostra que o abismo ainda é enorme: a possibilidade de uma casa no Canadá (o país mais equipado) ter um computador é 131 vezes superior à sua existência numa casa na Indonésia.

LER – Taisen Deshimaru é um monge budista que durante alguns anos se dedicou à divulgação do Zen na Europa. Uma das peças fundamentais dessa divulgação é o livro «Verdadeiro Zen», agora editado em Portugal pela Assírio & Alvim, depois de ter sido originalmente editado em França em 1971. No mesmo volume a edição portuguesa agrupa a «Introdução ao Shobogenzo», o livro sagrado do budismo zen japonês, escrito no século XIII. Na introdução a «Verdadeiro Zen», Mestre Taisen Deshimaru sublinha: «Para preservar a liberdade, é necessário sacrificar a paz; para salvaguardar a paz, é necessário alienar a liberdade – é esta a falsa alternativa na qual o pensamento cria raízes, hoje em dia. Destes dois conceitos opostos, o primeiro pretende a liberdade a todo o custo, mesmo correndo o risco da guerra; o segund, apregoa a paz acima de tudo, arriscando a perda da liberdade. Devemos harmonizar estas contradições, voltando às suas origens. É esta a atitude característica do zen, a Via do Meio: abraçar as contradições, fazer com elas a síntese e realizar o equilíbrio.» Depois de ler estas linhas não consegui mais parar.

OUVIR – O quarto disco dos Garbage é um manual de simplicidade. Continua a ser produzido por Butch Vig e as canções continuam a ter a voz única de Shirley Manson. Os temas deste novo «Bleed Like Me» são rock directo sem artifícios nem efeitos especiais, apenas temperado pela voz forte, envolvente e sensual de Shirley. Ouçam a canção que dá título ao álbum e depois digam lá se as coisas simples não são as melhores da vida. (CD Geffen/WEA)

COMIDINHA – Já chegaram as sardinhas. As primeiras do ano. Ainda não são encorpadas, mas já se deixam comer. Não há petisco melhor e mais simples: sardinhas assadas, com salada de pimentos, talvez uma batata com um fio de azeite, de preferência um bom pão às fatias para se ir embebendo na gordura que escorre do peixe.

REMATE – Saber sair de palco é tão importante como saber lá estar em cima.