July 16, 2006

A POLÍTICA DISTRITAL


Em tempos idos os partidos serviam para debater ideias, apresentar propostas, promover debates, mobilizar a intervenção cívica. O objectivo era poder concretizar, no poder, as propostas debatidas e elaboradas. Porque as pessoas pensam de maneira diferente, os partidos devem ter identidades diferentes e bem vincadas, posicionamentos claros. Nada de novo por aqui, excepto este pequeno assunto: nos últimos meses parece que o PS lançou uma OPA sobre o PSD, que amigavelmente se arrasta. Ao contrário de outras OPA’s, o opado não reage, não contra-ataca, não procura uma estratégia de afirmação alternativa. Por este andar o PSD é absorvido sem dar por isso, dilui-se, esvai-se. Cada dia que passa perde sentido a sua existência no paradigma actual.

Sou adepto de que as grandes mudanças começam por baixo, a partir de pequenos grupos activos e empreendedores, capazes de criar uma nova dinâmica – por isso as actuais eleições para a Distrital de Lisboa do PSD podem ser a oportunidade para criar uma nova forma de funcionar, para fazer uma vida partidária diferente, para intervir na sociedade de outra maneira, mais persistente e consistente.

À hora a que escrevo ainda não se conhece o resultado das eleições, se quem ganha é Carlos Carreiras, se Paula Teixeira da Cruz. Espero que tenha sido Paula Teixeira da Cruz, parece razoável concluir que ela pode significar alguma forma diferente de fazer política – apesar das demasiadas ligações ao aparelho e aos notáveis em boa parte responsáveis pela situação a que se chegou. Mas, talvez também por isso, ela possa fazer rupturas e desencadear acções que a outros seriam mais difíceis.

A política não é um mal, a intervenção cívica faz sentido através dos partidos – desde que eles funcionem nesse sentido, desde que queiram estimular a participação, desde que não vivam fechados num mundo onde ideias próprias, debates e criatividade sejam tidas como coisas bizarras e despropositadas. Infelizmente a história recente do PSD revela conformismo, falta de imaginação e uma enorme insensibilidade às tendências perceptíveis do futuro das sociedades. Se a Distrital de Lisboa for catalisadora da mudança, poderá vir a ser, afinal, a responsável pela sobrevivência de um projecto político. Se se acomodar, entra para a lista das entidades exóticas e desnecessárias