November 20, 2005

O CCB

A mais elementar justiça deve levar a recordar que o actual estado das coisas no CCB – que de repente se tornou preocupação nacional – vem do extraordinário Dr. Manuel Maria Carrilho, enquanto Ministro da Cultura. Foi ele quem nomeou o actual Presidente e quem fez alterações no modelo de funcionamento anteriormente existente.
Ao longo destes anos acentuou-se o afunilamento dos critérios de programação, ao mesmo tempo que se esvaziaram as parcerias criativas que garantiram muita da imagem de diversidade, hoje elogiada, que era a marca fundadora do CCB. No início da década de 90 assegurei o lançamento do Centro de Espectáculos, de que fui Director. Sei do que falo, dos planos que existiam, recordo-me bem dos autores dos planos e do que foi feito. E, do que não foi.
A partir da segunda metade da década de 90, a Administração do Centro começou a esvaziar as Direcções de conteúdos, chamou a si a decisão executiva, baseada em programadores as mais das vezes sectários e desligados da realidade da gestão de espaços daquela natureza e que curto-circuitavam as Direcções. Demorou uns anos, mas o resultado da inversão do caminho que estava a ser percorrido está agora à vista de todos. E, não é bonito de se ver. É nestas alturas que convém exercitar a memória e procurar a razão das coisas. A propósito, vale a pena ler o belo artigo de Alexandre Pomar na «Actual» do «Expresso» de sábado passado.
O CCB é um equipamento único. A crise em que vive neste momento devia levar a que o seu posicionamento, missão, estratégia e organização fossem repensados. Sem uma mudança profunda o CCB vai viver a chorar-se da crise orçamental e definhará aos poucos. Talvez possa ainda ser evitado.