November 07, 2005

O CINEMA SÃO JORGE

Antes de mais uma pequena e pouco edificante história: No final do mandato autárquico do Dr. João Soares, em Lisboa, a Câmara Municipal comprou o Cinema São Jorge a promotores imobiliários, obviamente sem saber o que lhe fazer, que utilização lhe dar. Fez uma obras e pôs lá cinema a exibir. As obras foram de cenário: tinta nas paredes, limpeza geral, máquinas de projectar e sistema de som modernizados. O grosso do problema ficou por resolver: o sistema eléctrico, que é ainda o primitivo e se encontra em situação de risco, as infiltrações na cobertura que agravam o perigo de um curto-circuito, climatização inexistente de facto. Pelo meio há umas pantominices engraçadas: os políticos que obrigaram técnicos a certificar a segurança de sistemas (nomeadamente na área eléctrica) que notoriamente a não tinham, uma programação de cinema ao sabor das disponibilidades das distribuidoras, etc. É claro que a equipa do Cinema era esforçada e tentava fazer o melhor, vendendo a ilusão de que a sala podia funcionar.

O S. Jorge é o exemplo acabado de como as pressões de lobbys e de uma pretensa opinião pública, em nome de uma mística salvaguarda do património e das memórias, podem levar a becos sem saída. Sem estratégia definida, em más condições físicas, o Cinema S. Jorge acabou por fechar, provavelmente tarde demais, em nome de conceitos elementares de segurança, antes que aquilo tudo ardesse a meio de uma cerimónia qualquer. E para o fechar, mesmo com o risco que existia, foi preciso bater o pé e contrariar velhos do restelo.

Temos agora ali a sala. Enorme. A precisar de obras estruturais. Se persistir a mania de fazer do Parque Mayer um cemitério de elefantes (equipamentos culturais, delineados sem cuidar de saber se são necessários), há que pensar seriamente que pode ser o S. Jorge no meio de uma selva de salas. Deve reconstruir-se a sala na sua dimensão original, de cerca de 1100 lugares? O destino principal deve ser a música, ou um centro de audiovisuais – apesar de a Cinemateca estar mesmo ali ao lado? Justifica-se aquele imobilizado para isto? Ou, como durante algum tempo se tentou, faz mais sentido traçar um cadernos de encargos e abrir concurso para concessão da sala a privados, que a mantenham como sala de espectáculos, garantam a sua recuperação e utilização – como é o Coliseu, por exemplo?

O que este assunto traz à baila é a imperiosa necessidade de a Câmara Municipal estudar e decidir que perfil quer dar às salas de espectáculo e equipamentos culturais que possui (em número já excessivo), que não faça mais salas sem saber o que lá vai pôr dentro, como e a que preço e que, sobretudo, não arranje novos compromissos sem resolver os problemas que agora já existem.

COMIDA – Mesmo por trás do Ministério das Finanças, entre o Terreiro
do Paço e a Casa dos Bicos, encontra-se o restaurante Alfândega, na
rua do mesmo nome É um espaço antigo bem recuperado e bem decorado, a criar logo um bom ambiente. À hora de almoço passam por ali os
funcionários das redondezas, o jantar é mais movimentado e
descontraído. As ementas são diferentes nas duas refeições, mais
tradicional na primeira, mais arriscada e diversificada na segunda. Ao
almoço comi um «cozido de Outono», à base de grão, com enchidos de boa
qualidade. O serviço é muito simpático, existem várias opções de
vinho a copo, numa mistura entre valores seguros e boas novidades. As
reservas podem ser feitas pelo 218861683 e a casa fica no nº98 da Rua
da Alfândega. Aberto de segunda a sexta das 10H00 às 02H00 e ao sábado
apenas à noite, a partir das 20H00.

LEITURA – A edição britânica, de Outubro, da revista «Vanity Fair»,
uma das referências do jornalismo de investigação, traz na capa Paris
Hilton, explica como através das suas marcas – de perfumes a uma
cadeia de discotecas - ganhou sete milhões de dólares no ano passado e
porque é que Camille Paglia acha que ela tem apreciável significado
cultural. E a mesma edição volta a analisar o caso Watergate com um
dos seus protagonistas, Carl Bernstein.

BANDA SONORA – «Tender», o disco de estreia de Marta Hugon, feito de standards de jazz, numa interpretação vocal contida e criativa, servida por grandes interpretações de músicos como Filipe Melo no piano, Bernardo Moreira no contrabaixo e André Sousa Machado na bateria. A produção foi do grande Elvis Veiguinha: certeira e eficaz.


BACK TO BASICS – Quem vai a eleições tem que aceitar as regras do jogo democrático. Não pode fazer como Rui Rio e armar-se em tiranete e detentor da verdade por ter tido maioria absoluta.