October 15, 2005

O FÓRUM LISBOA

OPOSIÇÃO – Na noite dos resultados eleitorais regista-se o contraste entre um Marques Mendes compostinho como sempre e um Rui Rio que foi o único a dizer o óbvio, sem rodeios, ao Primeiro Ministro: faz parte da Democracia que o Executivo não dificulte a vida aos autarcas eleitos que não são do partido do Governo e que lhes permita executar o seu programa sem entraves centralistas. Rui Rio, felizmente sempre politicamente incorrecto, revelou-se o verdadeiro líder da oposição ao fim da noite de Domingo.

MAQUIAVEL não teria feito melhor: de uma assentada João Soares, Manuel Maria Carrilho e Francisco Assis viram-se derrotados e o coordenador eleitoral autárquico do PS, Jorge Coelho, levou um puxão de orelhas no balanço final dos resultados. De uma assentada Sócrates colocou em posição de derrota as principais figuras da oposição interna no PS. Ainda vamos ver bons momentos neste episódio interno. Francisco Assis já saíu da Distrital e na candidatura de Mário Soares começou a confusão.

O FÓRUM LISBOA, antigo cinema Roma, é a sede da Assembleia Municipal. Ou seja, lá funcionam os serviços e lá decorrem os plenários. Isto quer dizer que a sala propriamente dita é ocupada pela Assembleia Municipal uma vez por semana, e apenas quando reúne, o que não acontece todo o ano. É escusado falar do potencial da sala: boa acústica (excelente, por sinal), boa lotação, boa localização, bons transportes, bom estacionamento. Acresce boas zonas de entrada no foyer a sugerir muitas possibilidades de intervenções complementares a espectáculos. Há cerca de dois anos, pela mão da EGEAC, o Fórum Roma iniciou um percurso de afirmação como uma sala alternativa no circuito da música contemporânea, estabelecendo uma lenta mas gratificante colaboração com promotores, num misto de programação própria e de sala de acolhimento de produções privadas. Criaram-se ciclos de programação, que chamaram ao local alguns dos melhores nomes da música portuguesa de diversos estilos e deu-se palco a uma série de nomes ímpares do panorama internacional – e aqui destaco apenas Lhasa para economia de palavras. Ao fim de dois anos e bastante esforço, de programação, produção e promoção, a sala tinha conquistado um lugar no roteiro musical de Lisboa, tinha criado um estilo e promovido uma marca e criado novos públicos. Tudo isto foi feito com um plano, foi concretizado com um investimento reduzido e num processo de parceria com promotores privados, sem intervencionismos nem dirigismos.

PARECIA um mundo quase perfeito até ao dia em que a Assembleia Municipal, pelo seu ainda Presidente, se insurgiu contra a gestão da EGEAC e contra a ocupação da sala por essa gente reles da música e de outras modernices e fez aprovar o seu regresso à formulação anterior. Convém agora recordar que antes disto, a sala era utilizada de forma avulsa, por quem a pedia junto dos respectivos serviços. Não havia identidade nem critério de programação, não havia a menor preocupação de utilizar racionalmente um equipamento comum. Havia uns favores a amigos, uma sucessão de jogos florais de variada ordem, de homenagens passadistas, sem lógica nem critério. E, nas mais das vezes sem utilidade nem gosto, apenas para auto-satisfação dos próprios que promoviam a iniciativa, sem criação de públicos nem de hábitos. Espera-se agora que com uma nova maioria na Assembleia Municipal a questão possa ser revista e que o futuro Vereador da Cultura dê ao assunto a atenção que ele merece.

DEFINIR a vocação de cada uma das salas e equipamentos culturais que a Câmara possui é aliás das primeiras coisas que devia ser feita pelas áreas competentes do novo executivo camarário – várias vezes ensaiada, essa definição nunca foi concretizada e por isso subsiste a maior confusão quanto à tipologia de utilização de cada um dos teatros e salas municipais. Há dois modelos em confronto: ou a Câmara garante ela própria toda a programação, ou se associa a privados que queiram utilizar o espaço dentro de situações normais de mercado, que estão absolutamente tipificadas. A Câmara já tem aliás salas demais – por isso é estranho ouvir falar em novas propostas como o Europa, que só vão replicar o funcionamento discricionário que era a marca do Fórum Roma até há dois anos atrás: entregar uma sala a uma Junta de Freguesia ou a um grupo de bondosos é torná-la um vazio caríssimo e não um núcleo agregador, um estimulador de novos públicos e um motor de mudança.

BACK TO BASICS – Antes de começar a fazer coisas novas, o melhor é olhar para o que está, definir o que se usa e o que faz falta.

PARA A SEMANA – O Parque Mayer.

BANDA SONORA – Sinfonia No. 4 de Mahler, interpretada por Renée Fleming e a Filarmónica de Berlim, dirigida por Claudio Abbado, edição Deutsche Grammophon, de 2005.