September 05, 2005

ENTRE ESPANHA E ISTAMBUL

AUDIOVISUAL – O Governo Zapatero iniciou o processo de reforma do sector audiovisual público. A ideia é fazer contratos-programa de três anos de duração entre a RTVE e o Estado onde são definidos objectivos de missão, gestão e administração e a contra-prestação económica correspondente, baseado num financiamento misto compatível com a legislação comunitária, proveniente de uma subvenção pública e de receitas comerciais (publicidade e vendas), embora no caso da publicidade vão existir limites e restrições. A actividade do audiovisual, público e privado, será fiscalizada por um Conselho Estatal dos Meios Audiovisuais, que assumirá todas as matérias do sector que hoje estão no Ministério da Indústria, Turismo e Comércio. Em Espanha a trasição do sistema analógico para o digital terrestre foi estabelecida para Abril de 2010 como limite, mas entretanto foi autorizado um novo canal nacional em modo analógico que tem uma cobertura possível de 70% da população.

DEFICIT – Por falar no audiovisual espanhol, tudo é mais fácil quando nuestros hermanos se preparam para, em vez de um deficit no Orçamento do Estado, terem um superavit. Quando me lembro de como a Espanha era há 25 anos e como é agora fico com uma enorme dose de raiva. Tínhamos tudo para, pelo menos, irmos a par – e estávamos até mais à frente nalguns domínios. E, no entanto, fomos ultrapassados. Daquele lado da fronteira a festa e o fulgor; daqui a trsiteza e a lassidão. Na edição de Domingo da «Pública», Fátima Bonifácio desenvolve uma interessante teoria: a chapelada eleitoral do século XIX tem o seu equivalente contemporâneo nas promessas eleitorais que não são para cumprir e que ela classifica como crimes de mentira qualificada cometidos pelos políticos. Olhamos à volta e há poucas razões para nos animarmos: na capa da «Newsweek» da semana passada o foco era a Turquia e o título era «Cool Istambul», a cidade onde parece que tudo está a acontecer. Abre-se uma edição de uma revista de arte deste mês e ali está uma enxurrada de iniciativas de cruzamento de culturas entre oriente e ocidente na capital turca. E nós por cá enchemos a boca de lusofonia mas um trabalho sério a tornar Lisboa na plataforma por excelência do cruzamento de culturas com África é que é coisinha de somenos.

OMBUDSBLOG – A CBS contratou uma espécie de provedor do espectador que tem por missão fazer um blog que explicará como as notícias são feitas, descrevendo os bastidores da redacção. A decisão surge na sequência da polémica surgida no ano passado sobre o programa «60 Minutes», que levou à saída de Dan Rather. O blog chama-se «Public Eye» e será acessível a partir de meados de Setembro em www.cbsnews.com, sendo assegurado por Vaughn Verners, até aqui coordenador do programa «Hotline». O objectivo é que seja feita uma observação rigorosa do trabalho jornalístico efectuado pela estação. No blog podem ainda aparecer entrevistas com repórteres, editores, etc, explicando como nascem e se desenvolvem algumas das histórias que depois acabam nos noticiários.

LOCAL – Em pleno Largo de Camões fica o novo Bairro Alto Hotel. Lá dentro opta-se por um restaurante «Flores» com conceitos diferentes ao almoço e jantar. Experimentei o jantar e não me arrependi da excelente confecção e qualidade do filete de cherne assado com tomate recheado de chouriço, coulis de ervilha e hortelã. A garrafeira é pequena mas bem escolhida e o vinho da casa (Quinta de Camarate branco e tinto) é uma boa escolha. Serviço excelente, sala simpática (com belas fotografias de Rui Calçada bastos), a única coisa a destoar foi a sobremesa, creme brulée de erva cidreira e framboesa, que notoriamente ainda vinha a sentir frigorífico. Ao lado fica o café bar Garrett, que se desenvolve em três áreas diferentes, todas surpreendentes do ponto de vista visual. Com sorte, a coisa promete. Tel. 213408252.

MÚSICA – B.B. King faz 80 anos no dia 16 de Setembro e tem um novo disco, «BB King & Friends», que inclui duetos do rei dos Blues com Eric Clapton, Van Morrison, Sheryl Crow, Roger Daltrey, Elton John, Mark Knopfler. Com Eric Clapton ele faz uma recriação excelente de «The Thrill Is Gone» e com Elton John uma versão surpreendente de «Rock This House», a última faixa do disco. Se fosse a Mário Soares pegava nesta faixa e fazia-a hino de campanha – afinal ele e BB King são da mesma idade.

PERGUNTA – Como é que um país que se organizou para construir tantos estádios de futebol novinhos em folha não se consegue organizar para combater incêndios?

BACK TO BASICS – Quem está na política tem que ter paciência para os cidadãos sobretudo fora das campanhas eleitorais.