July 05, 2003

CAIXA DE CORREIO
ABsurdo mandou-me uma bela fotografia de Berlusconi, publicada em «O Comércio do porto» em que o novo presidente em exercício da União Europeia faz cornos como os putos nos retraos da escola. Giro. Diz ABsurdo, replicando a um blog que aqui deixei sobre Berlusconi há uns dias: partindo do princípio que percebi a sua ironia (com a qual concordo, se tiver percebido bem), envio-lhe uma fotografia publicada hoje n' O Comércio do Porto que, para mim, é mais esclarecedora que muitas palavras.

João Bafo, bom e velho amigo, mailou-me com preciosas observações:Não estou nada de acordo com o teu post crítico
sobre a brasileira que lia rilke e falava de mercedes e ferraris.Embora prefira "maseratis", uma "gaja"
que lê rilke, a falar de "bombas" deve ser interessante. Talvez também leia a The New Yorker ( belissimo
retrato do Cartier Bresson do poeta Robert Lowell publicada no penúltimo numero que recebi.


A Susana W. Paiva mandou-me o link para o seu blog a carta roubada, que vivamente recomendo. Cito dela um blog que me pareceu especialmente curioso: A fabulosa história da “Fabulosa Hot Babe” passa-se entre Boston e Memphis, à distância proporcionada pela rede.
Um homem, C, tem 43 anos, tem uma vida monótona, uma mulher monótona e não se sabe se filhos monótonos. C tem também um computador aberto à world wide web que se revela pouco ou até nada monótono pois permite-lhe descobrir, casualmente online, uma jovem de Memphis, a “Fabulous Hot Babe” que mantém com ele, dia após dia, os mais íntimos diálogos. Entre confidências e “tiny sex”, o homem da vida monótona “descobre” que a “Hot Babe” é, na verdade, um homem com 80 anos que tendo uma vida monótona, pinta a manta possível com uma notável capacidade de simulação.
O “caso” durou cerca de dois anos, mais coisa menos coisa, e as horas a que C se ligava a “Hot Babe” eram preciosas para ambos, mas não só. No lar onde “Hot Babe” passava os seus dias e onde o computador era uma das distracções para a vida monótona dos residentes, as “conversas” online com C eram também partilhadas pelo grupo de idosos, para quem aqueles momentos representavam um salto para a fantasia perdida algures entre a vida, idade e tédio. A “hora do recreio” de C, coincidia com a “hora do recreio” de “Hot Babe” e amigos. Durante algum tempo, a monotonia andou maquilhada a preceito até ao momento em que todos escorregaram no tapete da realidade e a experiência traumática produziu o seu estrondo no mundo ora vazio, ora cheio.
Tal como as marés? No início da ligação identifica-se a maré vazia e um areal extenso; durante a ligação assiste-se à maré cheia, eufórica; no final, as ondas retiram-se de novo, revelando pedras no extenso areal.

Uma coisa engraçada nos Blogas é que depois de os lermos ficamos sempre a imaginar como serão, ao vivo, as pessoas que os escrevem. Este espaço de fabtasia que os próprios blogs induzem não deixa de ser um dos lados interessantes deste pequeno prazer que obsessivamente se repete - por acaso exactamente quando nos apetece (o que é coisa rara nos prazeres).